Edição 245 | 26 Novembro 2007

Perfil Popular - Eloísa Márcia da Silva

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Com a educação dos seus pais, Eloísa Márcia da Silva aprendeu a levar a vida com humildade, além de ser persistente. Aos 12 anos, quando foi reprovada na 4ª série primária, ela decidiu largou os estudos e foi trabalhar em uma fábrica de calçados. Depois disso, foi babá, diarista e empregada doméstica. Há um ano, ela trabalha como costureira na Cooperativa Habitacional Progresso, em São Leopoldo. Foi o contato da Unisinos com a Cooperativa que oportunizou a sua participação no curso de Extensão sobre Economia Solidária, promovido pela universidade. Confira, a seguir, a entrevista em que Eloísa se deixou levar pela emoção quando falou da perda do seu pai, ao relatar sua história de vida à revista IHU On-Line:

Origens – Eloísa Márcia da Silva nasceu em São Leopoldo. Ela conta que sua mãe trabalhava como doméstica. “Hoje, ela recebe a pensão do meu pai, que era vigilante”, comenta. O pai de Eloísa foi vítima de um câncer e faleceu quando ela estava com 17 anos. “Até hoje é muito difícil falar nisso”, conta Eloísa com a voz embargada. Ela está com 37 anos e é a filha do meio, tem um irmão mais velho e uma irmã mais nova. “Nossa relação sempre foi boa. A gente nunca brigou, o que é difícil ver em outras famílias”, ressalta.

Valores – Orgulhosa, Eloísa conta que seus pais lhe deram uma educação muito boa. “Aprendi a ser humilde e ter caráter. A ser uma pessoa que luta e trabalha, e a não pegar o que não é meu. Acho que isso foi o mais importante que eles me ensinaram”, relata.

Infância – “A gente brincava muito no tempo de criança. Eram brincadeiras que, hoje em dia, tu não vê muito, como pular corda, pega-pega”, lembra Eloísa. Ela destaca que, atualmente, outras formas de entretenimento deram lugar a essas brincadeiras. “Tu só vê video game, carrinho de controle; é outro tipo de brinquedo que, no nosso tempo, não existia. Então, a gente brincava correndo, jogando bola, jogando taco, brincando de roda, com bastantes crianças”, salienta.

Estudos – “Não gostava de estudar, tanto que parei na 4ª série primária”, conta Eloísa. O motivo foi a decepção por ser reprovada na escola. “Estudei até a metade do outro ano e não tive mais vontade de estudar”, relata. Com isso, aos 12 anos, ela começou a trabalhar em uma fábrica de calçados, em Novo Hamburgo. “Depois, trabalhei de babá, doméstica, diarista”, destaca.

Trabalho – Trocar a infância pelo trabalho não foi difícil para Eloísa. “Eu queria trabalhar. Queria ser adulta”, revela. Há um ano, ela fez um curso de corte e costura e trabalha com três costureiras em uma cooperativa. “São três cooperativas habitacionais: a Progresso, a Coohap e a Bom Fim. Eu moro na Bom Fim e trabalho na Progresso. São comunidades”, explica. E completa: “A gente está começando agora a trabalhar com isso e é bem legal. Eu gosto”.

Família – Aos 16 anos, Eloísa se casou pela primeira vez. Um ano mais tarde, veio Daiane, hoje com 20 anos, sua primeira filha. “Quando eu fui mãe, perdi meu pai. Foi tudo muito rápido”, lembra. Como Eloísa já trabalhava fora, foi a sua mãe quem cuidou de Daiane. “Consegui ser um pouco mais mãe, quando nasceu a minha segunda filha, Eliandra, 10 anos, do segundo casamento”, explica. Eloísa está casada pela terceira vez, mas não tem filhos desta união. “Tenho quatro filhos, as minhas duas e os dele”, brinca.

Economia Solidária – “É a primeira vez que participo dos cursos. Conheci o projeto através do contato da Unisinos com as cooperativas”, explica Eloísa, sobre a sua participação no curso de Extensão sobre Economia Solidária, ministrado gratuitamente pelo Instituto Humanitas Unisinos. O interesse surgiu com a oportunidade de aliar o aprendizado do curso com ao seu trabalho de costureira. “A gente aprende muitas coisas nas oficinas, não só como a trabalhar, mas como a se relacionar melhor”, explica. 

Educação – “Não tenho queixas da escola em que a minha filha estuda, a Edgar Coelho”, afirma Eloísa. Ela avalia que a qualidade do ensino é boa e explica: “Apesar de eu ter parado de estudar a muito tempo, o ensino evoluiu muito e está bem difícil. Eu não consigo ajudar a minha filha, que está na 3ª série do Ensino Fundamental, em nada!”. Embora esteja satisfeita com o nível do ensino, Eloísa comenta: “Em tudo, sempre tem alguma coisa que pode melhorar”. Ela reconhece que os estudos lhe fazem falta. “A cada dia que passa, a gente vai entendendo menos. Eu incentivo os meus filhos a estudar, porque eu não quero que eles cometam o mesmo erro que eu cometi”, enfatiza.

Política – Para Eloísa, a política brasileira não tem jeito. “Entra ano e sai ano, a gente morre, vêm os nossos netos e bisnetos e não vai mudar nunca”, lamenta.

Lazer – Passear, assistir a filmes e dançar são as distrações de Eloísa. “Gosto de filmes de ação, comédia e romance. Tem um que eu não me canso de olhar que é Uma linda mulher”, conta. Visitar os amigos também está entre as suas preferências nos momentos de folga. “A gente gosta de ir para cascata, praia, rio e fazer pescaria”, comenta.

Sonho – “Quero me realizar profissionalmente”, ressalta Eloísa.  Além de ver o trabalho dar certo, ela quer ser avó. “Vai ser uma alegria ver os netos crescidos.”

Momentos marcantes – A maternidade é uma grande realização das mulheres. E, com Eloísa, não foi diferente: “Minha maior felicidade foi o nascimento das minhas filhas”. E destaca a grande tristeza: “Foi a perda de meu pai”.

Religião – Eloísa é católica, mas não costuma ir à missa. Ela também conhece os princípios da umbanda, religião que a sua mãe segue. “Visito qualquer igreja. Sou livre para isso. Não sigo tudo, mas gosto de tudo um pouco”, afirma. Sobre a fé e a religiosidade, ela destaca: “A gente sempre tem que acreditar em alguma coisa. Acima de tudo, em Deus”.

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