Edição 244 | 19 Novembro 2007

Angélica Massuquetti

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IHU Online

A rotina no Banco do Brasil, que começou a fazer parte da vida de Angélica Massuquetti, de 35 anos, quando ela estava com 15, lhe incentivou a cursar Ciências Econômicas. Integrante do corpo docente da Unisinos desde 2000, há dois anos, ela foi convidada a assumir a coordenação do curso de Economia da Universidade. Para ela, este desafio está sendo uma ótima experiência profissional. Após desenvolver o mestrado em Economia Rural na UFRGS, Angélica está finalizando o doutorado, na mesma área. Confira, a seguir, a entrevista concedida por ela à revista IHU On-Line:

Origens e infância – Nasci em Porto Alegre, mas aos três anos de idade minha família se mudou para Canoas. Meu pai é de origem italiana, de uma colônia em Urussanga (SC), e veio para Porto Alegre aos 16 anos. A minha mãe é de São Leopoldo, de uma família de origem alemã, e também foi morar em Porto Alegre ainda jovem. Eles tiveram dois filhos: eu sou a mais nova, estou com 35 anos, e meu irmão é três anos mais velho do que eu. Meu pai está aposentado, agora, e a minha mãe é dona-de-casa. A minha família é católica, e temos valores muito claros, tradicionais de qualquer família católica, como honestidade, respeito, disciplina. Tive uma infância bem agradável e feliz. Brincava muito, andava de bicicleta e subia em árvores.

Estudos – Eu era uma excelente aluna. Posso dizer que tive uma trajetória escolar de sucesso. Sempre estudei em Canoas, em colégios públicos. E, desde o 1º Grau, eu tinha muito claro que eu gostaria de entrar para uma universidade. Todo o meu processo educacional foi direcionado a um curso superior.

Graduação – Aos 15 anos, eu comecei a trabalhar no Banco do Brasil. Naquela época, os gerentes dos Bancos, nas suas respectivas cidades, selecionavam os melhores alunos de 2º grau dos colégios estaduais. Através das notas, os alunos eram convidados a participar de um processo de seleção e ingressavam no Banco do Brasil. Acredito que foi o dia-a-dia no Banco que me despertou o interesse pela economia, que cursei na UFRGS. Tenho muito orgulho de ter estudado na UFRGS, onde também fiz o mestrado em Economia Rural.

Trabalho – Aos 18 anos, saí do Banco do Brasil e fui trabalhar na Associação Atlética do Banco do Brasil – AABB, onde permaneci até o final da minha graduação. No último ano de faculdade, pedi demissão na AABB, para conseguir terminar a minha monografia e me preparar para a prova do mestrado. Passei os anos de 1995 e 1996 me dedicando apenas ao mestrado, sendo que neste último ano fui professora substituta na UFRGS. E, em 1997, foi o período em que eu comecei a trabalhar nas universidades de Caxias do Sul (UCS) e de Santa Cruz do Sul (UNISC). Em 2000, fiz o concurso da Unisinos e vim trabalhar aqui.

Unisinos – Eu gosto muito de trabalhar na Unisinos, pois me identifico com os valores da Instituição. Fiquei afastada da universidade de 2001 até o final de 2004 devido ao doutorado. Em 2005, retornando para a universidade, fui convidada para assumir a coordenação do curso, o que está sendo uma ótima experiência profissional, pois gosto muito dessa relação com os alunos e da minha atividade como professora. Além disto, o fato de estar na coordenação possibilita a ampliação deste contato com os alunos e a organização de eventos científicos e de palestras. Mas eu só estou conseguindo tudo isso porque o corpo docente do curso de Ciências Econômicas é constituído por excelentes professores e grandes parceiros.

Doutorado - Fiz o doutorado na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Fui para lá sozinha, e já tinha alguma experiência de morar longe da minha família, já que ainda no mestrado fui convidada para trabalhar na UCS e na UNISC. O fato de ter ido para o Rio de Janeiro foi uma grande experiência. Conheci uma outra instituição, com excelentes professores, um outro ambiente e uma outra cultura. Fiquei três anos lá e um ano em Paris (França), realizando o estágio doutoral. Foi a experiência que me causou um impacto maior, pelo fato de estar morando em outro país, com uma cultura, idioma e hábitos completamente diferentes.

Educação no exterior – Na França, o ensino é público e baseado num processo não-seletivo, contribuindo para a redução da desigualdade dentro do país. E eu falo desigualdade em vários campos, não exclusivamente em desigualdade de renda, mas, sobretudo, de acesso ao conhecimento.

Ensino no Brasil – A qualidade do ensino público no Brasil vem se deteriorando ao longo do tempo, seja fundamental, médio ou superior. O que temos percebido nas últimas décadas é a falta de professores mais qualificados, devido à baixa remuneração. Então, há um desestímulo à qualificação. Esta questão tem sido remediada por instituições de ensino privadas como a Unisinos, por exemplo, que tem uma excelente qualidade de ensino e pesquisa.

Lazer – Estou finalizando a minha tese de doutorado. Então, se não estou envolvida com a Instituição, estou envolvida com a tese, que tem foco na área rural. Atualmente, a bibliografia que tenho lido também está mais vinculada à tese.

Sonho – Como professora de Desenvolvimento Socioeconômico, gostaria de ver, no futuro, as desigualdades socioeconômicas no Brasil sendo reduzidas. Acredito no crescimento econômico como condição necessária, mas não suficiente, para reduzir a pobreza e a exclusão social e ampliar o bem-estar da população nas áreas de educação, saúde, habitação, trabalho e renda, entre outros. Sou otimista. Acredito que, através de uma melhoria das políticas sociais, como a política educacional, é possível reduzir o quadro de exclusão e de desigualdade neste país.

Política brasileira – Falta ética em inúmeros campos da sociedade. Isso é um reflexo do processo de falta de investimentos em educação. As próximas gerações vão crescer dentro dessa cultura de que é normal ocorrer desvio de recursos no Governo e falta de ética na política. Não adianta simplesmente fazer uma crítica ao momento atual da política, porque é o contexto que está permitindo isso. Os indivíduos não percebem que têm direitos, e um deles é o de reivindicar, de assumir uma posição contrária ao que está acontecendo. No entanto, a construção desta consciência está intimamente relacionada com a melhoria das políticas sociais.

Instituto Humanitas Unisinos – Sou uma grande fã do Instituto Humanitas, que conheci em 2005, no I Ciclo de Estudos Repensando os Clássicos da Economia. Através dos cursos, palestras, seminários e publicações, há uma possibilidade de aproximar a comunidade acadêmica da comunidade em geral. E, se eu pensar no meu sonho, que era o de tentar minimizar as desigualdades sociais, uma forma é através da produção do conhecimento e da criação de espaços de discussão. Nesse sentido, acho que o Humanitas tem esse papel.

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