Edição 243 | 12 Novembro 2007

“Quadrinhos não são apenas um receptáculo, mas um meio poderoso de mídia”

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IHU Online

Os quadrinhos são o cinema parado e conseguem “superar a mídia contemporânea, pois envolvem processos literários de criação, de artes plásticas, arquitetura, narrativa cinematográfica e design gráfico”, disse o quadrinista Daniel Horn da Rosa, em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line.  Como todas as formas de arte, acrescenta, as histórias em quadrinhos representam genuinamente o que “acontece na realidade de quem produz e consome”. E destaca: elas “dão um excelente paralelo na compreensão de muitos aspectos sociais”.



Daniel Horn da Rosa, mais conhecido como Daniel HDR no meio profissional, é formado em técnico em Publicidade e Propaganda, pela Escola Técnica de Publicidade Irmão Pedro (ESPM), em Porto Alegre. Atualmente, ele atua como professor de Histórias em Quadrinhos e Mangá na PUC-RS (Instituto de Cultura Japonesa), e é professor de História em Quadrinhos e Planejamento e Ilustração para propaganda no Centro Universitário Feevale, em Novo Hamburgo. Além disso, Rosa é desenhista da editora Avatar Press, dos Estados Unidos. Informações sobre o trabalho do autor podem ser encontradas no site www.danielhdr.com.br

Confira a entrevista:

IHU On-Line - O que caracteriza a arte seqüencial, que é o caso da história em quadrinhos?
Daniel Horn da Rosa –
Trata-se da narrativa gráfica que se utiliza da seqüência de cenas e sua disposição, a fim de determinar ritmo de compreensão da mensagem, esteja ela só em imagem ou imagem e texto.

IHU On-Line - Quais são os elementos básicos para a produção de história em quadrinhos? O que não pode faltar para uma história em quadrinhos considerada de sucesso? 
Daniel Horn da Rosa -
O que não pode faltar é uma boa história a se contar. E este fator é o resultado de uma comunhão entre texto e arte.

IHU On-Line - Na condição de professor de produção em história em quadrinhos, o que você prioriza no ensino? Qualquer um pode fazer história em quadrinhos?
Daniel Horn da Rosa -
O artista de quadrinhos deve ter um vasto conhecimento nos quesitos de narrativa textual e gráfica. Quadrinhos são, como o autor e teórico Will Eisner  dizia, “cinema parado”. E conseguem superar esta mídia contemporânea, pois envolvem processos literários de criação (na construção dos personagens e dos roteiros), de artes plásticas (no desenho da figura humana, em diversas técnicas), arquitetura e cenografia (na ambientação das cenas), narrativa cinematográfica (na escolha de ângulo dos enquadramentos) e design gráfico (no balonamento e diagramação das páginas). Envolve estudo destas técnicas, e a real compreensão de que quadrinhos não se tratam somente de cenas delimitadas em quadrados, ou retângulos, personagens lineares e balõezinhos de fala ou pensamento. É um meio que co-existe em sua compreensão à literatura, o design, o cinema, as artes plásticas.

IHU On-Line - Qual é a importância dos quadrinhos nas mídias contemporâneas?
Daniel Horn da Rosa -
O senso de espaço e interatividade (que muitas vezes está oculta, mas está lá), que só rivaliza com os video games. É a síntese refinada da linguagem iconográfica que todos nós temos, desde os tempos das pinturas rupestres nas cavernas. Como ferramenta didática, é extremamente poderosa, e infelizmente, interiorizada por muitas pessoas que desconhecem sua sistemática e praticabilidade.

IHU On-Line - Em que medida as histórias em quadrinhos proporcionam uma ferramenta de registro de comportamento dos dias atuais? Elas podem se tornar fonte de estudo e pesquisa?
Daniel Horn da Rosa -
Como todas as formas de arte, elas representam genuinamente o que acontece na realidade de quem produz e consome. Logicamente que são objetos de estudo. Dão um excelente paralelo na compreensão de muitos aspectos sociais, não só dos dias atuais. Mas o importante é que os pesquisadores compreendam que os quadrinhos não são apenas um receptáculo, mas um meio poderoso de mídia que merece ser estudado como linguagem, tal como a televisão, a rádio e a internet.

IHU On-Line - Quais são as diferenças entre o mercado norte-americano e o brasileiro de quadrinhos?
Daniel Horn da Rosa -
Distribuição. Boa distribuição gera mercado (com linhas de publicações diversas). Mercado gera demanda. Demanda gera investimento, e investimento gera espaço de publicação para autores. Esses, pela boa exposição das publicações, consegue atingir seu público e remunerar as editoras e seus colaboradores. Isto existe nos EUA, no Japão, mas o Brasil é muito deficiente no que se refere à distribuição.

IHU On-Line - Como você lida com o processo de transmitir o pensamento para o papel, para a forma de quadrinhos? Quais são as dificuldades e o que mais lhe fascina nesse trabalho?
Daniel Horn da Rosa –
É o desafio constante. Sempre existe algo inusitado para realizar, o que traz uma nova visão para o que se tem por convencional. Quem trabalha com quadrinhos sabe que é fantástico.

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