Edição 242 | 05 Novembro 2007

Tiago Lopes

close

FECHAR

Enviar o link deste por e-mail a um(a) amigo(a).

IHU Online

O gosto pela área da Comunicação Social acompanha Tiago Lopes, professor e mestrando em Comunicação da Unisinos, desde os tempos de colégio, quando ele tinha um envolvimento intenso com práticas esportivas, grêmio de alunos e liderança de turma. Ele ingressou no curso de Relações Públicas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), mas percebeu que não era esta a sua área de interesse. E também cursou Economia e Administração de Empresas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). No entanto, foi o curso de Publicidade com ênfase em Marketing, oferecido pela Escola Superior de Propaganda e Marketing – ESPM –, que lhe mostrou a sua vocação: a Produção Audiovisual. Em entrevista concedida à revista IHU On-Line, Tiago contou como foi superar os desafios de encarar uma sala de aula como professor aos 26 anos, entre outros relatos de sua vida. Acompanhe, a seguir, a entrevista:

Origens e família - Nasci em Porto Alegre e nunca morei em outra cidade. Meus pais são funcionários públicos aposentados e também moram na capital. Tenho um irmão mais novo, de 22 anos, que cursa Direito e é investidor na Bolsa de Valores. Quando eu tinha 18 anos, eu e o meu irmão fomos morar com um primo nosso, no bairro Bom Fim, depois de morarmos bastante tempo no bairro Menino Deus. Fizemos essa opção porque os meus pais construíram uma casa no condomínio Cantegrill, em Viamão. E, como a gente não tinha carro, ia ficar complicado para o deslocamento para a escola.

Infância - Moramos 16 anos na rua em que hoje se localiza o Centro Clínico Mãe de Deus. Na época, não existia o Shopping Praia de Belas, e o movimento era bem pequeno, o que nos permitia jogar futebol na rua. Essa é a recordação mais forte da minha infância. Além disso, eu andava de skate, de bicicleta, e jogava com outros meninos da região do Menino Deus. Era uma época diferente, em que a gente ficava na rua até tarde da noite, sem problemas de assalto. Nem tinha grades no prédio. Pegamos todo esse início de transformação, de quando o Shopping foi construído, e o bairro começou a se desenvolver super rápido. Essa foi uma mudança bem significativa na nossa vida.

Escola – Sempre estive entre os alunos que tiravam as notas mais altas. Mas eu sentava mais com o pessoal do fundo, uma mistura dos bagunceiros com os que tiravam notas altas. Estudei da 1ª série do 1º Grau ao 3º ano do 2º Grau na mesma Escola, o Americano, e era bem envolvido com a escola e com os esportes. Fiquei sete anos jogando na seleção de vôlei do colégio, e também era da seleção do Grêmio Náutico União. Também fui tesoureiro do Grêmio de alunos.

Escolha da carreira – Eu sempre me relacionei muito bem com todo mundo, e transitava por vários grupos já na época do colégio, como esportes, grêmio de alunos e liderança de turma. Então, eu via que eu tinha certa afinidade com a área da Comunicação, mas ainda era uma coisa muito subjetiva. Eu também era muito bom nas Ciências Exatas, principalmente em Física. Eu recebi uma pressão por parte dos professores para ir para essa área. Mas eu decidi fazer vestibular para duas coisas: Economia, na UFRGS; e Comunicação Social, na PUCRS, onde havia vários amigos meus estudando. Queria ser um economista com olhar para as causas sociais. E fui para Relações Públicas porque era o mais fácil, mas eu nem sabia o que fazia um Relações Públicas.

Graduação - Eu estudava Economia de manhã e Relações Públicas à noite. Levei essa vida durante um ano. Quando fui para o 3º semestre, pedi transferência na UFRGS para Administração, porque eu achava que o perfil do aluno era mais parecido comigo. Fiz este curso por mais um semestre e continuei fazendo Comunicação Social, mas eu não estava conseguindo me achar. Para mim, a PUC era muito fraca e da UFRGS eu também não estava gostando muito. Nessa época, abriu o vestibular na Escola Superior de Propaganda e Marketing – ESPM -, que oferecia curso de Publicidade com ênfase em Marketing, e eu poderia conciliar essas duas frentes que eu estava trabalhando. Abandonei a PUC e a UFRGS e fui para a ESPM começar do 1º semestre. Me formei, em 2004, na 1ª turma da ESPM.

ESPM e trabalho – Foi a minha primeira experiência profissional e me envolvi bastante com a Instituição. Ajudei a organizar um Centro Acadêmico que não existia e fiz estágio em uma agência júnior, como se fosse a AgexCom , da Unisinos. A partir daí, as coisas tomaram o rumo da produção audiovisual, que é a minha área de atuação hoje. Comecei a desenvolver projetos audiovisuais numa época em que a ESPM nem tinha estúdios. No início, eram vídeos institucionais dos cursos, o que foi dando bons resultados, porque fui apoiado pela direção da Escola a realizar o vídeo institucional da ESPM. O vídeo foi feito por alunos sem experiência alguma, e a escola, percebendo essa motivação dos alunos, começou a investir mais nessa área, dando sinal verde para que eu iniciasse uma produtora de vídeo dentro da Instituição. A partir daí, o projeto foi tomando corpo e foi crescendo. Então, fui contratado pela ESPM para coordenar a produtora. Trabalhei três anos como funcionário da ESPM, e saí em 2006 para fazer o mestrado em Comunicação Social, na Unisinos. Nesse mesmo período de 2006, eu trabalhei nas Faculdades IPA, onde montei o laboratório de audiovisual deles.

Sala de aula – Estou com 26 anos, e comecei a dar aulas com 25. Está sendo uma experiência interessante, mas confesso que, no início, fiquei meio inseguro. Me perguntava se os alunos iam me aceitar e me respeitar, e se eu não teria problemas de indisciplina com eles. Como eu saí da graduação há pouco tempo e entrei no mestrado, no princípio, eu me sentia mais aluno do que professor. Então, pensei em fazer uma aula que eu, como aluno, gostaria de ter. Por isso, comecei a montar as disciplinas priorizando as dinâmicas práticas e conversas mais aberta com os alunos, além de usar muito os recursos audiovisuais. Passei a mesclar as dinâmicas de interação com aulas que se baseavam na apresentação de vídeo e análise de comerciais e filmes. E, naturalmente, começou a nascer uma afinidade entre os alunos e eu.

Unisinos – No período em que eu trabalhava no IPA e estava fazendo o mestrado na Unisinos, fui convidado a ministrar uma disciplina de produção audiovisual, na Comunicação Digital, na universidade. E, a partir daí, foram se abrindo oportunidades para outras disciplinas. Está sendo uma maravilha trabalhar aqui na Unisinos, porque há uma diversidade de pessoas que é difícil de encontrar em outros lugares, fora a amplitude do câmpus, que é muito bonito. As disciplinas com as quais trabalho exigem uma infra-estrutura de equipamentos, câmeras, monitores e ilhas de edição. E aqui na Unisinos tem tudo isso ao alcance dos alunos. A minha referência, até então, era ter uma câmera com um operador; uma ilha de edição, com um operador; e os alunos não entravam em contato com os equipamentos. E aqui há várias câmeras e computadores que são capazes de editar e finalizar vídeos. Desse modo, os alunos têm esse contato direto com a máquina, o que dá uma qualidade incomparável no ensino, porque, aprendendo a lidar com os equipamentos, se completa o ciclo teoria e prática. A gente inicia apresentando os fundamentos e os conceitos básicos da linguagem audiovisual, mas isso só será fixado no momento em que eles operarem a câmera, em que eles pegarem o computador e montarem seus próprios vídeos.

Política brasileira – Há uma expectativa, cada vez que entra um novo governante no País. Mas, de um ponto de vista geral, as coisas estão melhorando, porque mais do que nunca temos visto a explicitação de algo que a gente já sabia e via acontecer há muitas décadas, que é o problema da corrupção. Isso já é um avanço inédito na história do País. Claro que falta muito ainda para se chegar a um estágio ideal de dizer que nós temos orgulho da história do País. Pelo contrário, acho que grande parte das pessoas vive um momento de desilusão com a política, e isso é natural em um período em que as coisas estão sendo apresentadas de forma tão crua. Para o futuro, talvez isso se reverta em gerações de políticos mais conscientes, mais atentas ao trabalho dos seus colegas. Temos todos os instrumentos que a democracia permite como fazer protesto e boicote. Mas o controle efetivo da corrupção e dos desvios precisa ser feito dentro da classe política, que deve ser mais profissional.

 Lazer – Atualmente, moro no bairro Tristeza, na zona sul de Porto Alegre. Então, eu tenho aproveitado esse lugar que é muito bonito, perto do Rio Guaíba. As coisas de que eu mais gosto de fazer são andar de bicicleta, caminhar ou correr na orla do Rio. Também gosto muito de jogar futebol. Aqui na Unisinos a gente tem um time de professores que se reúne toda a quarta-feira, às 17h. Aos sábados eu jogo futebol de campo, e aos domingos eu jogo futebol de salão. Sou goleiro, nunca fui muito bom na linha.

Filme – O último filme que eu vi foi Tropa de elite, que apresenta um realismo carioca, a estética da favela e da classe média, além da representação da polícia e dos traficantes. Mas, por ser um pesquisador na área da comunicação, o que estou achando muito mais interessante do que o filme é a sua repercussão. O maior êxito desse filme é todo o processo comunicacional que o envolve. A repercussão de Tropa de elite se deve ao conteúdo que ele apresenta, ao debate que  incita, a partir de um agendamento de temas que estão na mídia como um todo. 

Livro – Como estou fazendo a pesquisa do mestrado, tenho lido muitas coisas de um campo mais teórico e técnico, como Henri Bergson e Gilles Deleuze. O Bergson é um teórico-base para os estudos de comunicação, por apresentar uma perspectiva diferenciada de uma série de conceitos que a gente, usualmente, vem trabalhando, ao longo das décadas, mas que, colocados sobre o enfoque que ele trabalha, cria novas perspectivas. Para as pessoas ligadas à comunicação e à filosofia, vale a pena revisitar clássicos do Bergson, como Matéria e memória e A evolução criadora, além de livros originados a partir das leituras dele, como Bergsonismo. 

Família – Penso em constituir família, mas há restrições sobre como mantê-la. É preciso ponderar a questão de ter filhos em um ambiente urbano, de violência, que a gente tem em Porto Alegre e nas grandes cidades. A minha idéia, para quando chegar o momento de eu ter a minha família, é de morar em um lugar mais afastado, no interior mesmo. Mas acho que está muito cedo para pensar em ter filhos. 

Instituto Humanitas Unisinos – Entrei na Unisinos no início desse ano e ainda não tive contato com o Instituto Humanitas. Eu o conheço em relação ao conteúdo que está sendo publicado. E esse, sim, eu posso dizer que é aprofundado. O Instituto tem méritos na abordagem de temas específicos e pertinentes dentro do debate acadêmico. Além disso, consegue um grau de aprofundamento que não é comum nesses periódicos que circulam em instituições de ensino, de modo geral. Uma tiragem semanal que consegue esse grau de aprofundamento é digna de ser parabenizada. Eu gostaria de conhecer mais o Instituto, e vou conhecer. Ainda estou desbravando a Unisinos. 

Últimas edições

  • Edição 552

    Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

    Ver edição
  • Edição 551

    Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

    Ver edição
  • Edição 550

    Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

    Ver edição