Edição 241 | 29 Outubro 2007

“Todos aceitam o fenômeno da resiliência”

close

FECHAR

Enviar o link deste por e-mail a um(a) amigo(a).

IHU Online

Para o psiquiatra britânico Michael Rutter, um dos pioneiros no estudo da resiliência no mundo, “as pessoas podem ser resilientes com relação a algumas experiências, mas não resilientes em relação a outras. Acredito que existam algumas situações que sejam tão profundamente danosas que uma grande maioria dos indivíduos sejam adversamente afetados. Não obstante, mesmo com as piores experiências, há variação individual e, daí, uma graduação de resiliência não está fora de questão”. Ele fez essa e outras afirmações em entrevista concedida por e-mail para a IHU On-Line.

Rutter é professor de Psiquiatria Infantil no Instituto de Psiquiatria da Universidade de Londres. A pesquisa do professor, uma autoridade internacional em desenvolvimento infantil e psiquiatria infantil, rendeu a ele numerosos prêmios, incluindo o prêmio de eminente Contribuição Científica da Associação Americana de Psicologia. 

IHU On-Line - O que significou, para o senhor, a descoberta de um paradigma tão diferente (resiliência), que quebra a lei do trauma (teoria de Freud)? O que significa hoje esse novo paradigma?
Michael Rutter -
Minha opinião é que, apesar de a teoria psicanalítica ser de importância histórica considerável, provou-se equivocada em muitas especificidades, particularmente com relação ao desenvolvimento, que não é mais um guia útil para a compreensão.

IHU On-Line - A resiliência encontra aceitação na academia? Como ela se articula e se relaciona com o estudo das situações traumáticas e com a psicanálise?
Michael Rutter -
Penso que, mais ou menos, todos aceitam a realidade do fenômeno da resiliência. Quer dizer, com todos os tipos de experiências adversas (tanto físicas quanto psicosociais), existe uma variação substancial em como as pessoas reagem. Conseqüentemente, precisamos compreender os mecanismos que estão envolvidos nessa variação.

IHU On-Line - Considerando a sociedade de consumo em que vivemos, como não distorcer o enfoque da resiliência? Como evitar que a resiliência seja confundida com uma proposta de auto-ajuda?
Michael Rutter -
Presumo que você esteja fazendo alusão ao perigo de a noção de resiliência levar algumas pessoas a presumir que porque algumas crianças podem superar a adversidade isso signifique que não tenhamos que nos preocupar com a existência de danos psicológicos. Obviamente, isso é um perigo possível, mas envolve uma séria negligência da extensa evidência de que experiências adversas possam causar um mal terrível.

IHU On-Line - Quem são mais frágeis ou mais resilientes: meninas ou meninos? A condição de mulher ajuda mais na vulnerabilidade ou na resiliência?
Michael Rutter -
Não acredito que haja, sobretudo, uma diferença sexual  na resiliência; depende muito de que tipo particular de adversidade está sendo considerada.

IHU On-Line - O que é melhor para que a resiliência aconteça: ficar em silêncio ou contar a história traumática para os outros? O que ajuda mais e em que casos?
Michael Rutter -
A resiliência é um processo e não um impacto/resultado como tal, e portanto, não está claro para mim o que é que as pessoas possam estar falando. Geralmente, no entanto, é bom que as pessoas possam confiar em outras e compartilhar a responsabilidade nas tomadas de decisão.

IHU On-Line - Todos nós temos áreas de resiliência? Existem situações traumáticas diante das quais ninguém pode ser resiliente? Ou isso varia? Como ocorre essa variação?
Michael Rutter -
Algumas pessoas vêm tendendo a querer rotular indivíduos como inerentemente resilientes ou vulneráveis, e isso parece, para mim, um total mal-entendimento do conceito. As pessoas podem ser resilientes com relação a algumas experiências, mas não resilientes em relação a outras. Igualmente, podem ser resilientes com relação a alguns impactos, mas não todos. Acredito que existam algumas situações que sejam tão profundamente danosas que uma grande maioria dos indivíduos sejam adversamente afetados. Não obstante, mesmo com as piores experiências, há variação individual e, daí, uma graduação de resiliência não está fora de questão.

Últimas edições

  • Edição 552

    Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

    Ver edição
  • Edição 551

    Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

    Ver edição
  • Edição 550

    Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

    Ver edição