Edição 240 | 22 Outubro 2007

Clarice Hofstadler Deiques

close

FECHAR

Enviar o link deste por e-mail a um(a) amigo(a).

IHU Online

O contato com a natureza, mantido desde a infância, inspirou Clarice Hofstadler Deiques, 46 anos, a se dedicar aos estudos e ao trabalho na área da Biologia. Após passar quatro anos e meio, de 1993 a 1997, na Alemanha, onde fez doutorado em Ciências Naturais, com concentração na área de Zoologia, ela passou a integrar o corpo docente da Unisinos. Atualmente, ela dá aula para quase 100 alunos, divididos nos cursos de Biologia, Enfermagem e Fisioterapia. Em entrevista à revista IHU On-Line, Clarice relatou algumas passagens de sua vida e destacou o convívio com o filho Franz, de sete anos, motivo de suas grandes alegrias. Confira, a seguir, a entrevista:

Origens – Minha mãe é pedagoga e era professora, e meu pai era militar e, por isso, sempre era transferido para outra cidade. Eu nasci em Santa Maria (RS), morei lá por algum tempo, e também em outras cidades. Quando era criança, morei em Porto Alegre, em Bagé (RS), em Cachoeira do Sul (RS), e, já na adolescência, em Brasília (DF), cidade da qual gostei bastante. Na época, a cidade era muito nova, então tudo era muito bonito, e ainda hoje é, principalmente a arquitetura e a região onde se localiza, o serrado. Era bem diferente do que nós temos no Rio Grande do Sul, em termos de cidade e de arquitetura. Conheci várias pessoas e nenhuma delas tinha parentes por perto, porque vinham de outros estados. Então, o entrosamento era bem maior e por isso fiz grandes amigos lá.

Infância – A maior parte da minha infância foi em Santa Maria. A família é bem grande, com muitos tios, primos. Tenho outros dois irmãos, e eu sou a filha do meio. Eu e a minha irmã, mais velha, andávamos sempre juntas, estudávamos na mesma escola, tínhamos amigos em comum e também, como todas as irmãs, brigávamos bastante por bonecas e roupas. Com o meu irmão, o mais novo, a relação era tranqüila. A gente ia muito para mata, tínhamos uma casa de campo na beira de um rio. Adorava andar de barco e tinha muito contato com a natureza. Ficávamos assim durante os dois três meses das férias de verão, e essa é uma das lembranças mais felizes que eu tenho da minha infância.

Estudos – Sempre me dediquei muito aos estudos. Talvez por essas constantes transferências de cidade, eu não tenha sido uma aluna exemplar, mas nunca fui reprovada. A minha escolha pela Biologia se deu em função do contato com a natureza, que eu tive desde criança. Fiz o curso na Universidade Federal de Santa Maria, e tive que estudar bastante, porque a universidade exigia muito, principalmente na parte da Zoologia. E foi nessa área que desenvolvi o doutorado, trabalhando com serpentes, na Universität Tübingen, na Alemanha. Depois disso, passei a dar aulas, fazer pesquisas e publicações, dando continuidade à especialização.

Alemanha – Fui para a Alemanha em 1993. Na época, eu fazia mestrado na PUCRS, e o curso de graduação da instituição tinha um convênio com a Universität Tübingen da Alemanha, o que facilitou o contato. Eu gosto muito da língua alemã, porque meu avô é austríaco e a minha avó materna é descendente de alemães. Quando era criança, eu não falava alemão, mas sempre convivi muito com a cultura alemã, por causa das origens da minha família. Isso influenciou bastante na escolha de fazer o doutorado na Alemanha, além do contato com os alemães, que iam para a PUCRS e já conheciam a minha pesquisa. Antes de viajar, fiquei seis meses no Goethe Institut, em Porto Alegre, estudando alemão, principalmente gramática.

Experiência no exterior – Na Alemanha, as exigências são diferentes e é preciso  estudar muito. A maioria das universidades e as melhores são federais. Então, para entrar e se manter na universidade é muito difícil. Há uma dificuldade muito grande com a língua, porque todo o vocabulário mudou, e tudo o que eu estudei aqui no Brasil sobre Biologia eu tive que estudar em alemão. Para conseguir o título de doutor, o aluno faz três provas orais: uma da área que se está pesquisando, e as outras de áreas diferentes, as quais, no meu caso, foram Botânica e Paleontologia, além de seminários e pesquisas. Concluí o doutorado em quatro anos e meio, e sou especialista em Ciências Naturais, com concentração na área de Zoologia.

Trabalho – Enquanto estudava, eu fazia estágios em diferentes laboratórios da própria universidade e de fora também. Cheguei a fazer estágio na Fundação Zoobotânica de Porto Alegre e na Fundação de Rio Grande (RS). No ano que eu me formei, em 1983, comecei a trabalhar como professora, em Jaguari (RS), dando aulas para alunos de 2º Grau de uma escola estadual. Também fui professora em uma escola privada de Santa Maria. Depois do doutorado, eu mandei meu currículo para a Unisinos e fui contratada.

Unisinos – Quis vir para cá, principalmente, porque na Unisinos não havia estudos na minha especialidade. Atualmente, sou professora dos cursos de Biologia, Enfermagem e Fisioterapia. Tenho cerca de 100 alunos, divididos nos três turnos. Um dos aspectos importantes da universidade é a universalidade. Acho importante que a Unisinos mantenha uma diversidade em termos de cursos de extensão e laboratórios, além de diferentes áreas de pesquisa.

Família – Sou casada há 18 anos e tenho um filho, o Franz, de sete anos. Meu filho Franz é muito importante para mim. Ele é bem criativo, inteligente e interessado, tanto pela minha área, a Biologia, quanto pela do meu marido, que é Arquitetura. Em princípio, a minha principal meta não era o casamento e, sim, me apaixonar, e tive a sorte de isso acontecer. Não há segredo para o matrimônio, há uma luta diária no trabalho, em casa e cuidando do meu filho. É o dia-a-dia, e por isso se mantém.

Sonho – Que o mundo se torne cada vez mais civilizado e que tenhamos consciência da importância do convívio do homem com a natureza.

Passagens marcantes – Momentos felizes há vários: momentos com minha família, amigos, meu casamento, meu doutorado, o nascimento do Franz e o convívio com ele. Imagino tristeza como algo trágico, a perda de alguém. Eu tenho muita sorte, porque não tive momento triste, só a morte do meu avô, quando eu era pequena.

Lazer – Não tenho hobby. Gosto muito de ficar em casa com minha família, além de passear. Sempre que a gente pode, viaja nas férias ou nos finais de semana. Vamos muito para Santa Maria, principalmente para o Franz ver os avós. Também viajamos para a serra e para São Borja, terra do meu marido, e para a praia.

Filmes – Para mim, filmes servem para descansar. Por isso, não gosto de filmes muito complicados. Posso citar vários que assisti e gostei, por exemplo: A sombra e a escuridão, que é a história de dois leões e se passa na África. Além deste, gostei bastante de O fabuloso destino de Amélie Poulain, que também tem uma trilha sonora maravilhosa.

Livros – Não tenho livro de cabeceira. Leio bastante literatura alemã, para manter sempre meu vocabulário em dia. O último livro que li foi Os Buddenbrooks, do autor Thomas Mann.

Instituto Humanitas Unisinos – É interessante o trabalho do Instituto, que visa à humanização do professor e das pessoas que estão envolvidas com a universidade. Por trás de um professor, existe uma vida, família, diversão e outros compromissos, e o trabalho do Instituto aproxima mais as pessoas.

Política brasileira - Acho que a gente tem que ser otimista, em qualquer aspecto, seja político, econômico ou na segurança. Acredito que, por tentar ser otimista, a política deve melhorar, devido às experiências que estamos passando. É uma crise bastante grande que afeta a todos, mas que talvez seja necessária para que se tenha um novo conceito e que ocorra às mudanças que precisamos. Sem a crise, acho que isso não acontece.

Últimas edições

  • Edição 552

    Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

    Ver edição
  • Edição 551

    Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

    Ver edição
  • Edição 550

    Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

    Ver edição