Edição 235 | 10 Setembro 2007

Episódio Revolução Farroupilha, em A ferro e fogo, de Hique Montanari

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IHU Online

Formação Sócio-Político-Econômico-Cultural do Rio Grande do Sul: olhares da produção audiovisual sobre o Rio Grande do Sul

Na opinião do jornalista João Guilherme Barone, “longe de um didatismo que tornaria o episódio não muito interessante para o público, a grande contribuição está na forma encontrada de estabelecer uma narrativa sobre eventos da Revolução Farroupilha a partir do imaginário popular.” As reflexões fazem parte da entrevista a seguir, concedida por e-mail à IHU On-Line, discutindo aspectos que serão aprofundados após a exibição do episódio Revolução Farroupilha, da série A ferro e fogo, de Hique Montanari. Barone, que é docente na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), debaterá a produção junto da Prof.ª Dr.ª Eloísa Capovilla Ramos, da Unisinos, no evento Formação sócio-político-econômica-cultural do Rio Grande do Sul: olhares da produção audiovisual sobre o Rio Grande do Sul.

Barone é jornalista graduado pelas Universidades Gama Filho (UGF) e Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-Rio). Curosu aperfeiçoamento em Televisão Digital, Cenários e Prospectivas na Universidade Internacional da Andaluzia, na Espanha, onde também realizou seu mestrado em Comunicação e Indústrias Audiovisuais na Espanha. Doutorou-se em Comunicação na PUCRS com a tese Comunicação e Indústria Audiovisual. Cenários Tecnológicos e Institucionais do Cinema Brasileiro na Década de 1990. É um dos organizadores da obra Estudos de Cinema SOCINE III (3. ed. Porto Alegre: Editora Sulina, 2003).

A Revolução Farroupilha a partir do imaginário popular

Entrevista com João Guilherme Barone

IHU On-Line - Em que aspectos o episódio Revolução Farroupilha, de A ferro e fogo, de Hique Montanari, nos ajuda a compreender a formação sócio-político-econômica-cultural do Rio Grande do Sul?
João Guilherme Barone –
Creio que essa compreensão não se estabelece de forma integral neste episódio, na medida que a Revolução Farroupilha não é apresentada de uma perspectiva historiográfica. Longe de um didatismo que tornaria o episódio não muito interessante para o público, a grande contribuição está na forma encontrada de estabelecer uma narrativa sobre eventos da Revolução Farroupilha a partir do imaginário popular.

IHU On-Line - Como a releitura cinematográfica desse episódio retrata a história do nosso Estado?
João Guilherme Barone –
Não considero esse episódio uma “releitura cinematográfica”, uma vez que ele não se estrutura com elementos do formato do produto cinematográfico convencional. Poderíamos dizer que se aproxima e dialoga com o curta-metragem, mas é originalmente criado como conteúdo para televisão. Portanto, oferece uma representação ou leitura audiovisual de um episódio histórico importante para a formação do Rio Grande do Sul. Não há um compromisso coma cronologia, nem com a visão histórica oficial, o que podemos considerar atributos de roteiro e direção, que possibilitam uma visão bastante distanciada das abordagens usuais, quase sempre enaltecedoras dos feitos heróicos. Aqui, prevalece uma abordagem mais livre, uma espécie de crônica audiovisual, com soluções narrativas ousadas para o tema e isso oferece um contato diferenciado com o episódio histórico.

IHU On-Line - Fazer um filme como esse é fazer a arqueologia de nossa história? Por quê?
João Guilherme Barone –
Podemos dizer que há um certo diálogo arqueológico, na medida em que o diretor propõe um tipo de “escavação”, em busca de fragmentos de memórias sobre o legado da Revolução Farroupilha. Montanari incorporou de forma precisa e adequada elementos formais do documentário para tratar do mito fundador da civilização riograndense.

IHU On-Line - De que modo A ferro e fogo, de Montanari, dialoga com a obra em que se baseou, de Josué Guimarães?
João Guilherme Barone –
Talvez o diálogo se estabeleça a partir da importância absoluta do período Farroupilha e seus eventos para a consolidação do Rio Grande do Sul que conhecemos hoje. Entretanto, este é um processo traumático e que deixa marcas profundas no imaginário coletivo. Na obra de Josué Guimarães, há também essa identificação. O trauma de um grande conflito bélico pela insurgência de uma província que quer ser república contra o Império Brasileiro. Um conflito de uma década e que é mais uma das muitas guerras que forjaram o Rio Grande. Esse diálogo está presente em todos os episódios da série, inspirada na obra de Josué Guimarães, sem, entretanto, ser uma adaptação.

IHU On-Line - Que aspectos técnicos dessa produção você destacaria? Como eles ajudam a contar a história a que se propõe Montanari?
João Guilherme Barone –
Roteiro, direção e montagem estabelecem uma tríade que permite a construção de um fluxo narrativo instigante e revelador. Montanari soube buscar soluções formais, estéticas que dão um ar de novidade sobre fatos históricos bastante conhecidos pelo público. Essa opção estética, atribuição do diretor, está expressa na fotografia, nos enquadramentos, no uso do som, na própria maneira de registrar os depoimentos e organizá-los na edição. São elementos de uma estética pop que dialoga com o videoclipe para tratar de um tema histórico, com um outro olhar. Há, evidentemente, competência técnica que ajuda a contar a história...

IHU On-Line - Gostaria de acrescentar algum outro aspecto não questionado?
João Guilherme Barone –
Montanari vem de uma trajetória como realizador que transita pelo curta-metragem e pela vídeo arte, passando também pelo audiovisual publicitário. Encontra na televisão um espaço receptivo ao seu perfil de narrador inquieto e preocupado com formas diferenciadas do conteúdo televisivo usual. Neste episódio de A ferro e fogo, demonstra competência e criatividade.

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