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Antônio Fausto Neto
Eis o depoimento.
Trata-se de um fenômeno muito esperançoso porque enseja a inserção de um representante de uma instituição tão complexa no circuito do debate de questões contemporâneas, no cenário internacional. Não se trata de um protagonismo reflexo, que resulta de agendas formuladas por outros atores de outros campos sociais. Mas algo que revela o estilo propositivo, que formula problemáticas com as quais se defronta a Igreja católica bem como outras instituições, quebrando muitas vezes um protocolo em torno de "políticas discursivas" no seio das quais lideranças passam à margem de questões que não lhes interessa aflorar para não se indisporem com outros líderes. Trata-se de uma presença que ocupa o espaço reflexivo, hoje rarefeito de ideias que, de fato, toquem nos problemas centrais que envolvem a vida de multidões de pessoas, instituições e suas políticas. Algo muito revitalizante tratando-se de um líder religioso, mas ao mesmo tempo um chefe de estado, cuja presença se manifesta nos jogos dos poderes e das relações institucionais vigentes.
Os principais diferenciais de Francisco são o deslocamento e valorização de processos observacionais do mundo eurocêntrico para outros cenários; tematização de problemáticas que envolvem o cotidiano das pessoas, especialmente pobres e jovens, e populações discriminadas; e a busca de simetrização no diálogo visando o reconhecimento de questões que envolvem diferenças e diversidades.
Novos desafios
Penso que se tratando do status de um líder, como é a figura do Papa, entre os temas que poderiam receber mais sua atenção estão o impulsionamento de agendas que envolvam possibilidades de negociações internacionais à margem de agendas de interesses cristalizadas em torno de dois blocos de poderes, Estados Unidos e Comunidade Europeia; a abertura para ocupação de um espaço que agencie a formulação de novos coletivos, redesenhando os processos decisórios e os efeitos de políticas discriminatórias, especialmente em contextos desprovidos de proteção, contratos e políticas de reconhecimentos; o reposicionamento do fenômeno religioso segundo parâmetros e princípios que foram abandonados pela Igreja Católica ao longo das últimas 4 ou 5 décadas. ■