Edição | 18 Mai 2015

O caminho da Igreja das sacristias às periferias

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José Maria Mayrink

“O contato direto e próximo estende-se àqueles que em sua aflição recorrem a Francisco, expondo suas dores e dúvidas em cartas informais”, comenta José Maria Mayrink, repórter do jornal O Estado de S. Paulo.

Eis o depoimento.

A surpresa foi a primeira grande novidade da eleição de Francisco. Ninguém parecia esperar o anúncio de seu nome, quando a fumaça branca confirmou o argentino Jorge Mario Bergoglio como sucessor de Bento XVI.  Latino-americano, 77 anos de idade, jesuíta... a ficha do eleito despertava curiosidade, admiração e receios, mas não era o principal. O essencial no perfil do novo pontífice viria depois. Francisco era garantia de compromisso com os pobres, como revelou o cardeal Cláudio Hummes,  arcebispo emérito de São Paulo, descrevendo detalhes publicáveis do conclave. Bergoglio logo projetou a imagem da Igreja nesse mundo complicado do século XXI, renovando a esperança de católicos e provocando manifestações de respeito de seguidores de outras religiões. “Estou gostando desse Papa”, é comum ouvir até de ateus e agnósticos, dois anos depois. Estava aberto o caminho para o diálogo.

A Igreja está saindo das sacristias para a periferia, isso é o que parece merecer maior destaque no pontificado de Francisco. Minha fé na ação do Espírito Santo cresceu, não posso imaginar o quadro que se teria hoje, se o Papa fosse um daqueles cardeais que lideraram as especulações da imprensa em março de 2013. Que as aparências não enganem, pois é gratificante esse espetáculo de ver Bergoglio percorrendo a Praça de São Pedro num carro aberto com um sorriso contagiante e gestos inequívocos quando abraça deficientes e crianças, arriscando-se além dos limites da segurança. O contato direto e próximo estende-se àqueles que em sua aflição recorrem a Francisco, expondo suas dores e dúvidas em cartas informais. O Papa costuma responder, várias vezes já telefonou para dar uma palavra de coragem e esperança. No plano internacional, a mediação de Francisco tem pesado mais, com intervenções pessoais, do que a diplomacia da Santa Sé. Exemplo é a reaproximação entre Cuba e Estados Unidos. 

A convocação do Sínodo da Família,  que terá sua segunda etapa em outubro, reflete a disposição de Francisco de discutir alguns dos mais prementes desafios que afligem os católicos — e, por tabela, homens e mulheres de fora da Igreja. Problemas como a situação de casais de segunda união e de homoafetivos que vivem uma relação estável com certeza serão debatidos sob a ótica da pastoral, o que implica analisar a educação dos filhos de pais separados e das crianças adotadas por gays. Há esperança de que as coisas sejam facilitadas por atitudes de acolhimento e compreensão, por grandes que sejam as objeções internas, com base na doutrina moral da Igreja. Em sua primeira viagem apostólica à América Latina, em visita ao Equador, Bolívia e Peru, em julho, depois de ter participado da Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro, em 2013, é provável que Francisco reafirme suas convicções em defesa da paz e do desenvolvimento. Este ainda curto pontificado de dois anos vem dando excelentes frutos, é preciso que a marca de Bergoglio defina os rumos das décadas futuras. Para a Igreja e para o Mundo. ■

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