Edição 233 | 27 Agosto 2007

Gaúcho no cinema

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Analisar a minissérie A casa das sete mulheres, de Teresa Lampreia, Jayme Monjardim e Marcos Schechtman, exibida na Rede Globo em 2003. O diferencial dessa análise está em pensar a produção sob a ótica da formação sócio-político-econômico-cultural do Rio Grande do Sul, conforme propõe o evento Formação Sócio-político-econômico-cultural do Rio Grande do Sul: olhares da produção audiovisual sobre o Rio Grande do Sul. Assim, a Prof.ª Dr.ª Luiza Carravetta e o Prof. Dr. José Baldissera, ambos docentes na Unisinos, conduzem a atividade que acontece em 01-09-2007. Na entrevista que concederam à IHU On-Line, Luiza Carravetta mencionou que esta produção foi “ uma das oportunidades de recuperar aspectos históricos do Rio Grande do Sul”. Embora seja baseada em fatos verídicos, a professora chama a atenção para interpretações e a perda gradativa dos fatos históricos.

Carrevetta é graduada em Letras Português-Inglês pela Unisinos e em Comunicação Social Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Cursou especialização em Língua Portuguesa na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mestrado em Educação e doutorado em Lingüística e Letras, ambos na PUCRS, com a tese Atividades de redação, baseadas na análise transfrasal do texto - Proposição metodológica. É pós-doutora pela Universidade da Califórnia Los Angeles (UCLA), nos EUA. Escreveu os seguintes livros: Aulas práticas de Português - próprias para o 1º Ciclo do Curso Superior (Porto Alegre: Editora Palotti, 1980); Expressão oral: teoria e prática (Porto Alegre: Editora Jurídica, 1984) e Métodos e técnicas no ensino do Português (Porto Alegre: Mercado Aberto, 1991).

Na entrevista a seguir, a professora antecipa um pouco da abordagem que fará no evento, destacando a produção televisiva de A casa das sete Mulheres. Confira a entrevista concedida por email, à IHU On-Line.

IHU On-Line - Como a senhora avalia a produção de A casa das sete mulheres, do ponto de vista televisivo?
Luiza Carravetta -
A casa das sete mulheres é uma das grandes séries da televisão brasileira. É uma das oportunidades de recuperar aspectos históricos do Rio Grande do Sul. A produção é cuidadosa e bem feita na seleção de locações, na escalação de atores, nos cenários, nos figurinos, nos adereços.

IHU On-Line - O filme de narrativa ficcional e o documentário tornaram-se uma espécie de “arquivo” da história, nesse último século?
Luiza Carravetta -
A narrativa ficcional, embora baseada em fatos verídicos, permite a interpretação. Portanto, é comprometedor falar em arquivo. Há uma perda gradativa de fatos históricos, uma vez que a obra é baseada numa obra de ficção. O romance possui pesquisa histórica, mas é ficcional. A autora fez uma ótima pesquisa, mas criou personagens num percurso da ação também imaginado por ela. Por sua vez, os autores da série acrescentaram o seu ponto de vista, dando outra visão à narrativa histórica. Acrescente-se a isso o olhar da direção, que definiu o que e o como a trama seria mostrada.

IHU On-Line - Quais são as principais diferenças entre a produção de novelas brasileiras e minisséries? Por que muitos críticos consideram as minisséries melhores?
Luiza Carravetta -
As novelas brasileiras constituem-se em obra aberta. Há uma story-line, uma sinopse, um argumento e um roteiro. Entretanto, na medida em que a trama se desenvolve, há a possibilidade de que alterações sejam feitas. Isso ocorre porque o roteiro é escrito, enquanto a telenovela está no ar e porque a opinião do público também é levada em conta. A minissérie parte de um roteiro fechado. A direção é feita, a partir de um roteiro concluído. Além disso, o número de capítulos é menor e há mais tempo para que cada um deles seja mais bem produzido e cuidado.

IHU On-Line - A televisão contribui para a disseminação da cultura e da história, atualmente?
Luiza Carravetta -
A televisão é veículo de massa e está presente em mais de 90% dos lares brasileiros. Para muitas pessoas, ela se constitui num dos únicos acessos a bens culturais. Portanto, ela tem grande participação na disseminação cultural e histórica. Para que isso aconteça, é preciso considerar as produções televisivas de qualidade, o que ocorre em parte na programação das grandes redes ou na televisão aberta.

IHU On-Line - De que maneira o cinema retrata as relações pessoais que decorrem da sociedade?
Luiza Carravetta -
Tanto o cinema como a televisão buscam temas universais, comuns à maioria dos seres humanos. A sociedade está repleta de situações que representam as relações pessoais, portanto objeto de produtos audiovisuais. Além disso, as pessoas identificam-se com personagens e situações da sua vida.

IHU On-Line - Se compararmos a televisão e o cinema, em que medida a TV ainda precisa melhorar para elaborar uma produção parecida com a do cinema? Ou esse pensamento é equivocado, uma vez que TV e cinema são mídias diferentes?
Luiza Carravetta -
TV e cinema são mídias diferentes, embora a TV muito tenha herdado do cinema. As produções em tela grande de duas horas em média têm mais tempo para serem produzidas, são mais bem cuidadas, os atores preparam-se mais. A TV, além da tela pequena, é mais dinâmica, utilizando-se de formatos e programas para consumo mais rápido.
Em alguns tipos de programas de TV, como no documentário, por exemplo, é possível ter produções que busquem inspiração no cinema.

IHU On-Line - Desde o século XIX, diretores produzem filmes apresentando o gaúcho como homem do campo. Essa idéia foi reiterada no século XX e persiste até hoje. Como a senhora avalia a produção cinematográfica gaúcha? A figura do gaúcho como homem rural e guerreiro ainda é reafirmada?
Luiza Carravetta -
Considero importante o resgate das raízes do homem do Rio Grande do Sul. A nossa Literatura também é muito rica ao retratar o gaúcho. As características peculiares dos gaúchos chamam a atenção e, por isso, são alvo de obras ficcionais. Geralmente, as obras são ricas e procuram ser fiéis. Entretanto, é preciso ter muito cuidado para que estereótipos não sejam criados.

IHU On-Line - A elaboração e escolha das cenas na gravação de A casa das sete mulheres favoreceu para enfatizar a imagem do gaúcho guerreiro?
Luiza Carravetta -
As cenas foram muito bem produzidas. As batalhas, com os grandes planos gerais, foram bem feitas. Os planos de detalhe trouxeram elementos enriquecedores. A intenção era mostrar o gaúcho guerreiro e isso foi conseguido numa reconstrução primorosa através da narrativa audiovisual.

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