Edição 232 | 20 Agosto 2007

Ética mundial e Direito: uma contribuição de Hans Küng

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IHU Online

Discutir a importância do projeto de ética mundial de Hans Küng e a sua contribuição para a área do Direito será o objetivo dos professores da Unisinos Alfredo Culleton e Vicente Barretto, no próximo dia 23-08-2007, no evento IHU Idéias, das 17h30min às 19h, na Sala 1G119. E é sobre esse tema que eles concederam a entrevista que segue, por e-mail, à IHU On-Line.

Culleton é graduado em Filosofia pela Universidade Regional no Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí), mestre em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e doutor em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Atualmente leciona nos cursos de Graduação e Mestrado em Filosofia na Unisinos. Confira uma entrevista concedida pelo filósofo à IHU On-Line na edição número 160, de 17-10-2005, junto com o historiador Nilton Mullet Pereira, intitulada Em nome de Deus: um retrato de época, comentando aspectos do filme apresentado no Ciclo de Estudos Idade Média e Cinema, promovido pelo IHU; e outra entrevista na 198ª edição, de 02-10-2006, sobre a Idade Média

Por sua vez, Vicente de Paulo Barretto é professor no PPG em Direito da Unisinos. Livre docente pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), possui graduação em Direito pela Universidade do Estado da Guanabara. Sua atividade acadêmica desenvolve-se na área do Direito, com ênfase em Filosofia do Direito. Barretto foi o idealizador e coordenador científico do primeiro Dicionário de Filosofia do Direito, em língua portuguesa, lançado pela Editora Unisinos, e sobre o qual concedeu uma entrevista para as Notícias do Dia do site do IHU de 09-05-2006.

Culetton e Barretto assinam o número 83 dos Cadernos IHU Idéias, intitulado Dimensões normativas da Bioética.

A palestra da próxima quinta-feira prepara a vinda do teólogo Hans Küng ao Brasil, de 22 a 26 de outubro de 2007. O Ciclo de Conferências com Hans Küng - Ciência e fé – Por uma ética mundial será realizado no campus da Unisinos. Em preparação a este evento, foi criado um Fórum On-line sobre o Projeto de Ética Global de Hans Küng. Para mais informações sobre o ciclo e sobre o fórum, acesse www.unisinos.br/ihu. Hans Küng também proferirá a palestra no campi da UFPR, no Goethe-Institut Porto Alegre, na Universidade Católica de Brasília, na Universidade Cândido Mendes do Rio de Janeiro e na Universidade Federal de Juiz de Fora - UFMG.

 

IHU On-Line - Em que sentido o projeto de ética mundial de Hans Küng pode contribuir para a área do Direito?
Alfredo Culleton e Vicente Barretto -
Há tempo, o Direito vem passando por uma crise decorrente da sua filiação a um modelo positivista de ver não só o direito, mas a sociedade e o mundo em geral. Trata-se de uma visão dogmática e fechada sobre si mesma que o foi empobrecendo e isolando da sociedade para a qual está a serviço. Daí que alguns grupos dentro deste universo venham buscando referências para dialogar e revisar as suas bases conceituais, filosóficas, hermenêuticas e políticas, em vistas da sua própria identidade de juristas.

IHU On-Line - É possível pensarmos num único ethos global hoje para toda a humanidade, com todas as suas disparidades? Como isso funciona no caso do Direito? É viável pensarmos num conjunto mínimo de valores morais, normas e atitudes básicas humanas comuns para todos os homens e mulheres do planeta? 
Alfredo Culleton e Vicente Barretto -
Entendemos que seríamos capazes de formular algumas poucas e mínimas formas básicas de bem humanos; não necessariamente valores morais ou normas comuns a todos os homens, mas sim o reconhecimento de formas básicas de bem para todas as sociedades, de todos os tempos; isto denotaria uma valorização da vida humana; ou a proibição do incesto, ou que toda sociedade humana formulou algum tipo de restrição ao uso da sua sexualidade, ou que o nascimento de uma criança, salvo em casos excepcionais de catástrofes, sempre é considerado um acontecimento bom, digno de celebração. O reconhecimento deste mínimo nos daria condições de discutir políticas, propor universalizações históricas etc.
 
IHU On-Line – Quais são os valores que devem entrar em jogo ao pensarmos neste ethos mundial que propõe Hans Küng? Onde entram aí as religiões? Qual o papel das religiões quando falamos de valores relacionados à proposta de ética mundial?  
Alfredo Culleton e Vicente Barretto -
Podemos destacar dois valores ou bens básicos que devem ser conjugados nesta proposta, que sejam a razoabilidade prática que toda ação humana exige de si mesma, isto é, um mínimo de ordem e justificação para as ações, e a religião, no sentido de que toda sociedade humana reconhece uma ordem que o precedeu no tempo e que tem um valor transcendental, ao qual se deve certa gratidão individual e coletiva. O valor da religião está também no fato de que, por mais dogmática que seja, ela exige justificação, busca as suas razões e nessa busca se justifica para o outro, se revisa e se abre para o outro, para a história.
 
IHU On-Line - Qual é a contribuição do projeto de ética mundial para a política e a democracia? 
Alfredo Culleton e Vicente Barretto -
Uma grande contribuição é o de trazer a proposta para o debate de maneira séria e sistemática. Nisto se diferencia de outras propostas, como a do Dalai Lama , por exemplo, carregada de boas intenções, mas solta. Também há o fato de trazer para o diálogo temas antigos que, no geral, estão sendo abandonados mesmo pela sociedade civil e os partidos políticos. Nem as universidades, nem as igrejas, nem os jornais, parecem interessados em discutir de maneira séria, e não simplesmente reivindicacionista e queixosa, a questão do futuro da humanidade em sentido político. Há uma grande preocupação com o futuro ambiental e de autopreservação do planeta e uma desvalorização do político.

IHU On-Line - Como o pensamento de Hans Küng contribui para a tensão entre a política e a ética?  
Alfredo Culleton e Vicente Barretto -
O problema acontece quando essa tensão desaparece e pode acontecer de duas maneiras terríveis: quando ética e política se confundem e aí vêm os fundamentalismos, ou quando se privatiza a política como puro gerenciamento administrativo e a ética como guardiã do agir privado. Hans Küng estimula essa tensão no melhor sentido do termo. Ele defende essa sadia tensão entre a arte de governar a favor dos homens, sabendo que se está lidando com disputas de poder e isso é um valor, e a ética como esse referencial de valores com pretensão de universalidade que busca nortear o agir humano.

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