Edição 229 | 30 Julho 2007

A Economia Solidária na prática

close

FECHAR

Enviar o link deste por e-mail a um(a) amigo(a).

IHU Online

A IHU On-Line conversou com algumas pessoas que convivem de perto e sabem, na prática, o que significa Economia Popular Solidária. Confira os depoimentos:

“Comecei a me envolver com a Economia Solidária quando as mulheres que trabalhavam com artesanato e alimentação, com as quais eu compartilhava atividades, precisaram ir a uma feira. Nesse evento, só era permitida a inscrição de grupos. Surgiu, assim, o grupo Mãos Dadas, em fevereiro de 2005. Cada uma das pessoas do Mãos Dadas fazia coisas diferentes, como tortas, bombons e artesanato em geral. A organização em grupo, e não mais individualmente, é muito importante para nós, estreita laços, torna tudo mais fácil. Somos dez pessoas no Mãos Dadas: três na alimentação, seis no artesanato e uma na administração.

Desde a primeira reunião, entramos para o Fórum da Economia Solidária. A Prefeitura de São Leopoldo deu todo apoio ao nosso grupo. Isso é muito positivo, pois essa possibilidade abre portas. Acredito que as pessoas em grupo têm muito mais força, se apóiam. Por exemplo, quando acontece uma feira, nos revezamos na banca. Na hora de produzir, trocamos idéias e calculamos preços em conjunto. Não sou necessariamente a líder do Mãos Dadas, mas, por minha característica agregadora, as meninas do grupo me procuram, pedem orientações e dicas. Sobre as trocas, temos o relato da feira popular da qual participamos no ano passado. Aconteceu uma oficina de trocas e marcamos presença. Fomos a encontros do Clube de Novo Hamburgo e feiras estaduais de trocas. Assim, estabelecemos negociações para o futuro, contatos importantes. Na economia das trocas, leva-se o que se tem e se traz o que precisa. Vejo um futuro extremamente positivo para essa realidade.”

Adriana Cláudia Longo Dias, participante do grupo Mãos Dadas, da Economia Solidária, e trabalhadora em um escritório da oficina familiar

 

“Sou estagiária no Projeto Tecnologias Sociais para Empreendimentos Solidários, da Diretoria de Ação Social e Filantropia da Unisinos, em parceria com o Instituto Humanitas Unisinos - IHU há cerca de um ano. Fiz uma entrevista para a vaga de estágio sem saber exatamente o que era a Economia Solidária. Quando tomei conhecimento da proposta, fiquei muito entusiasmada, com várias idéias. Como estudante de Administração, até o momento não tive esse tipo de abordagem em sala de aula. Acredito que administrar coletivamente um empreendimento solidário é um desafio muito positivo, afinal, quando se pensa em administração de empresas, normalmente vêm à mente grandes corporações, lucros altos e isso não se aplica à Economia Solidária. É uma outra proposta, tem um viés completamente diferente. O que mais me empolga é acompanhar os grupos incubados (apoiados) pelo Projeto, perceber o resultado positivo que esse trabalho traz para a vida das pessoas, como o dia-a-dia delas se modifica a partir disso. Acontecem grandes e positivas mudanças. A conscientização de que comprar da Economia Solidária contribui não só o seu produtor, mas desenvolve a comunidade de onde vem o produto, é muito importante. Cito, por exemplo, o caso da Aturoi . Seus membros têm consciência ecológica, sabem que seu trabalho faz bem para o mundo e desenvolve de forma sustentável com a comunidade com a qual se envolve.”

Renata dos Santos Hahn, estudante de Administração de Empresas na Unisinos, 6º semestre, e bolsista do Programa Tecnologias Sociais, do IHU

 

“Moramos num conjunto habitacional de ocupação, no Guajuviras, em Canoas. A maioria das mulheres da nossa comunidade trabalha em Porto Alegre. Como fica longe e temos nossos filhos, é complicado não ter onde deixá-los enquanto trabalhamos fora. Eu, por exemplo, tive dois filhos, um seguido do outro. Não podia pagar alguém para cuidá-los, e eu precisava trabalhar. Então, em 1998, conversando entre mulheres, tomamos a decisão de fazer um trabalho em casa para conseguir dar conta de criar nossos filhos e cuidar da casa. Algo que envolvesse meio turno do nosso dia. Começamos, então, a fazer bolachas. Mas tinha que ser algo diferente dos produtos que já existiam nos supermercados. Como só havia produtos industrializados, criamos bolachas caseiras. Iniciamos pelas bolachas cobertas de merengue, aí incrementamos com broas e polvilho e milho. Hoje, temos mais de 12 tipos de bolachas. Servimos muitos coquetéis e também oferecemos biscoitos salgados nos sabores gergelim, linhaça, orégano e queijo. Essas são receitas próprias. Seis mulheres trabalham nas atividades de produção de bolachas, e o nome do nosso empreendimento é BMBC Produtos Caseiros.

O início das atividades aconteceu através do Projeto Multiplicar, de geração de renda, aqui do Guajuviras. Participamos do Fórum Metropolitano de Economia Solidária, do projeto Etiqueta Popular e de feiras em parceria com a Prefeitura de Porto Alegre. Como não tínhamos uma sede própria para a produção das bolachas, fazíamos tudo de “fundo de quintal”. Lutamos juntas para conseguir verbas e hoje temos uma sede, tudo através da Economia Solidária. Em outubro, fomos contemplados com o projeto da Petrobrás, do CECAM, incubadora da Unilasalle. Nossa sede se chama Centro Integrado de Economia Solidária e Cidadania do Guajuviras, onde funcionam cinco grupos ligados à economia solidária. É um sentimento ótimo trabalhar em conjunto, criar novidades, oferecer nossos produtos. E nossa experiência está aí para provar que, quando se quer, é possível concretizar a Economia Solidária.”

Leidi Rosa Toniolo da Silva, integrante da BMBC Produtos Caseiros

Últimas edições

  • Edição 552

    Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

    Ver edição
  • Edição 551

    Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

    Ver edição
  • Edição 550

    Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

    Ver edição