Edição 227 | 09 Julho 2007

“A vida de Frida Kahlo foi extremamente cinematográfica”

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Para a publicitária Cátia Inês Schuh, a partir de 2003, com o filme Frida, de Julie Taymor, a pintora mexicana foi retomada pela moda. Segundo ela, a “Frida globalizada” se refletiu nas roupas, e bijuterias da época. Cátia é publicitária, mestre e doutora em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Atualmente, ela é professora da Faculdades de Taquara (FACAT), e da Escola Superior de Propaganda e Marketing, e coordenadora da Escola Superior de Propaganda e Marketing.

Confira a entrevista concedida à IHU On-Line, por e-mail:

IHU On-Line - Em sua tese, A prospecção pós-moderna da comunicação visual no imaginário de Frida Kahlo é discutida a hipótese de que as imagens da prospecção pós-moderna das obras da pintora Frida Kahlo suscitam interpretações convergentes com as necessidades atuais. Isso se comprovou na sua pesquisa?
Cátia Inês Schuh -
Sim, em vários aspectos. Por exemplo: Frida se auto-retratava de múltiplas maneiras: de uma forma bonita, de uma forma trágica, em outros momentos metamorfoseada em animal ou planta. E isto tem muito a ver com a formação da identidade dos sujeitos contemporâneos, que é cambiante, fragmentada, em constante construção. Outra coisa: Frida Kahlo era uma mulher loucamente apaixonada pelo marido, Diego Rivera, mesmo com todas as infidelidades de ambas as partes. Acho que esta é uma coisa que suscita muita identificação, porque mexe com nosso lado passional. E podemos juntar a isto sua liberdade de se expressar, de viver sua sexualidade.

IHU On-Line - Como a mídia apresentou Frida Kahlo? Quais foram as releituras da Frida globalizada?
Cátia Inês Schuh -
Como ela volta em 2003, a partir do filme Frida, de Julie Taymor, ela é retomada pela moda, através de um estilo “Frida Kahlo”. Isto se reflete nas saias, nas bijuterias grandes, nos bordados e nas batas. Então, através de editoriais de moda em jornais e revistas e em catálogos de grifes, a mídia mostrou uma Frida Kahlo “atualizada”, ou seja, adaptada à moda, aos materiais e à mulher contemporânea.

IHU On-Line - Por que o trabalho de Frida Kahlo voltou com tanta força nos últimos anos?  Isso se deve à influência da mídia?
Cátia Inês Schuh –
Primeiro, como disse, porque o cinema resgatou este ícone da pintura. Antes, falava-se pouco em Frida. A cantora Madonna comprou algumas telas, e aí as pessoas comentaram, mas sem saber direito. Só que com a chegada do filme houve uma verdadeira onda de Kahlo. Até o extinto programa da Rede Globo, Sandy e Júnior, pegou carona. Por que então Frida fica? Ela extrapola as telas, vai parar na vitrine da Le Lis Blanc (Iguatemi, Porto Alegre), no editorial de moda da Elle, no Caderno Donna da Zero Hora?  Acredito que é porque ela suscita identificações com as questões comentadas anteriormente de identidade, de sexualidade, de condição de mulher, e também porque o que está em jogo aqui é mais do que algumas telas: é uma vida. E a vida de Kahlo foi extremamente cinematográfica! É toda uma história, que vai da poliomielite a um acidente grave, passando por abortos, paixões, traições e política.

Por fim, acho que há um pouco do que Roland Barthes chama de cultura do fait divers, em que tudo – a arte, a moda, a religião, as banalidades, a vida alheia, a biologia –, enfim, tudo o que há de fatos diversos pode virar notícia, já que somos uma sociedade ávida por informações.

IHU On-Line - Frida se comunicava com o mundo através de suas imagens? Ela tentou passar alguma mensagem para a modernidade?
Cátia Inês Schuh -
Acredito que a mensagem que Frida passou é atemporal, e é por isto que ela volta com força no contemporâneo. Os sentimentos que ela descreve/pinta – o medo, a dor, a traição, o amor à sua terra – são sentimentos atemporais, ou seja, é fácil hoje as pessoas ainda se identificarem com estas mensagens pictóricas de Frida. Agora, acho importante ressaltar que nada indica que Frida quisesse conscientemente deixar estas mensagens, nós é que lemos, ao nosso modo, as imagens de Kahlo.

IHU On-Line - Por que a senhora diz que a história de Frida é também a história do México?
Cátia Inês Schuh -
Na verdade, esta é uma afirmação do escritor Carlos Fuentes, que vai fazer o prefácio do diário pessoal de Frida Kahlo, editado e comentado numa bela edição. Fuentes faz esta afirmação porque Frida era extremamente politizada, envolvida com movimentos nacionalistas, partidos e movimentos políticos. O envolvimento com o México era tão forte que, apesar de ter nascido em 1907, a própria pintora dizia ter nascido apenas em 1910 – ano da Revolução Mexicana. Além disso, podemos observar a cultura mexicana, especialmente dos índios tehuanas, em quase todas as telas de Kahlo: formas, cores, natureza exuberante, seus mitos.

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