Edição 226 | 02 Julho 2007

Erno Wallauer

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Aos 61 anos, Erno Wallauer tem uma longa história. Natural de Pavarema, interior do Rio Grande do Sul, Erno passou por muitos lugares. Em Bagé e São Leopoldo, cursou as faculdades de Filosofia e Teologia, respectivamente. Na Alemanha, cursou a pós-graduação em meio à Guerra Fria. “Pensei muito na vida e no destino da humanidade.” No Brasil, Erno lecionou no Ensino Médio em Ivoti em diversas disciplinas: Filosofia, Sociologia, Teologia e História do Brasil. Casado, com dois filhos, Erno divide seu tempo entre sua casa em Estância Velha e o trabalho como professor na Unisinos. Conheça um pouco mais de Erno Wallauer, na entrevista a seguir.

 

Origens - Nasci em Paverama, que antigamente pertencia ao município de Taquari. Hoje, é município próprio. Nasci no interior. Portanto, sou filho da colônia. Meus pais eram pequenos agricultores, e hoje estão falecidos. Eu tenho duas irmãs mais velhas. A mais nova tem doze anos a mais que eu. Sou um fruto meio tardio da família. Eu tinha uma boa relação com as minhas irmãs. Quando eu era pequeno, elas muitas vezes cuidavam de mim. A mais velha saiu de casa quando eu tinha cinco anos. A mais nova ficou ainda mais uns anos em casa. Eu lembro do relacionamento com ela.

Magistério - Eu estudei na escola lá na colônia mesmo, em Taquari. Lá, freqüentei os primeiros cinco anos. Em 1960, vim para São Leopoldo. Aqui, estudei o restante e fiz os quatro anos necessários para me tornar professor, ou seja, o Magistério, na Escola Normal Evangélica. Eu manifestei essa idéia para o meu pai e ele me apoiou. Minha mãe não era tão a favor, mas o meu pai insistiu e eu queria também. Eu gostei muito da formação. Estudava tremendamente nos primeiros anos. Havia desafios, novas coisas, que eu nunca tinha visto ou ouvido falar. Era também a primeira vez que eu morava na cidade. Meu pai me trouxe aqui porque naquele tempo levava um dia para chegar. Fui morar num internato, onde hoje existe Câmara de Vereadores. Fiz o estágio do final de curso, acompanhado pelos professores que davam conselhos e indicações de como poderíamos melhorar em nosso trabalho. A conclusão do curso foi esse estágio. Depois de concluir o curso, primeiramente pensei em continuar estudando. Como estava no meio do ano, completei o ano com trabalho. Fui enviado para uma escola primária em Não-Me-Toque. Era um pequeno internato, onde fiquei seis meses lecionando, na quarta e na quinta séries. Voltei para a formatura em São Leopoldo no final do ano e fui convidado pelo diretor da Escola Normal Evangélica para reingressar na escola, no Ensino Médio. Ingressei na sede da escola em Ivoti. Estudei três anos e, depois disso, quis fazer uma faculdade.

Filosofia - Pretendia cursar Filosofia. Inscrevi-me até para cursar na Unisinos, mas, quando iniciei o curso, ele foi cancelado. Fiquei um pouco decepcionado, mas consegui, no mesmo ano, transferir-me para a Fundação Universitária Bagé. Ao mesmo tempo, eu fiz também o curso de Teologia na Escola Superior de Teologia. O curso de Filosofia era de freqüência baixa. Nele eram feitas muitas pesquisas, possibilitando-me fazer os dois cursos. Muitas vezes passava as férias e fins de semana trabalhando nas pesquisas. Formei-me em 1972 em Filosofia e em Teologia em 1974. Passei, então, a trabalhar. Fui convidado para assumir novamente um trabalho em Ivoti, na escola onde tinha cursado o Ensino Médio. Lecionei, principalmente no Ensino Médio,  matérias como Filosofia, Sociologia, Teologia e até História do Brasil.

Alemanha - Recebi, em 1979, uma bolsa de estudos, através da Igreja Evangélica, para cursar a pós-graduação na Alemanha, na Universidade de Hamburgo. Nessa época, já estava casa e com dois filhos pequenos. Levei a família junto. Não foi fácil. Foi um choque cultural grande. Passei cinco anos estudando na Universidade. Eu já sabia o idioma, o que facilitou a mudança. Tínhamos muitas preocupações com o confronto da Guerra Fria. Havia instalações de mísseis balísticos nucleares americanos na Europa. Havia muitas passeatas a favor da paz no país, contra as instalações de mísseis e a construção de usinas nucleares. Freqüentemente, eram acionadas as sirenas como alarme preparatório para uma eventual  guerra, o que, na verdade, causava uma pequena guerra de nervos. Pensei muito na vida e no destino da humanidade. Também sofri do choque cultural com a mentalidade das pessoas na Alemanha. Saí do Brasil em meio ao regime militar, em 1979, e, naturalmente, a Alemanha era um ambiente totalmente diferente. Discutiam-se abertamente diversas questões que no Brasil não se podia falar.

Retorno - Quando voltei ao Brasil, fui trabalhar como professor na cidade de Victor Graeff, município vizinho de Não-Me-Toque. Lá, trabalhei em diversos serviços para a comunidade, como pastorais e ensino. Fiquei dois anos na cidade. Nessa época, meus filhos tinham dificuldade com a língua, pois tinham ido muito pequenos para a Alemanha. Depois desse tempo no interior, viemos para o Vale do Sinos, mais especificamente para a cidade de Estância Velha, onde minha esposa conseguiu uma vaga como professora da rede de ensino municipal. Eu comecei a trabalhar novamente como professor em Ivoti, na escola onde havia trabalhado antes.

Professor - Em 1989, iniciei a trabalhar como professor na Unisinos. Participei do concurso e fui selecionado. Comecei como professor no curso básico da Universidade. Praticamente todos os colegas que eu tinha naquela época já não trabalham como professores. O Básico apresentava um ensino feito com muito rigor. Os programas eram muito bem planejados e programados pela equipe. Depois, lentamente, aconteceram as mudanças para o regime de estudos em que nos encontramos atualmente. Hoje, leciono na área das ciências humanas, principalmente nas disciplinas de Antropologia e Direito e de Fundamentos Antropológicos. Gosto muito de trabalhar na Unisinos. Temos um clima organizado, com metas claras, que estabelece abertura para os mais variados campos do saber. 

Filhos - Tenho dois filhos: Berenice, com 32 anos, e Carlos Alberto, de 29 anos. Ela é técnica em enfermagem e estuda Psicologia na Unisinos. Meu filho se formou na Universidade em Engenharia de Alimentos e hoje trabalha no Paraná, na Sadia.

Horas livres - Trabalho nos terrenos que tenho, capino e reviso algumas coisas. Desligo-me das atividades teóricas para ter um equilíbrio. Também gosto muito de viajar. Vou aos fins de semana até a minha terra natal, e faço pesquisas sobre a história da localidade, descrevendo os costumes e etnias da região.

Literatura - Leio muito para o meu trabalho. Estou lendo, no momento, Heidegger e Hans Küng. Não leio continuamente, mas leio trechos e medito. Leio também revistas, gosto muito de entrevistas, como as da IHU On-Line, onde me mantenho atualizado com os rumos da pesquisa e das interpretações do mundo atuais.

Cinema - Não tenho olhado muitos filmes ultimamente, mas tenho algumas preferências. Gosto muito de Bem-Hur (que vi várias vezes) e de Gandhi. Também gostei muito do filme Um estranho no ninho. O filme Um violinista no telhado é também bastante interessante, pois retrata todas as mudanças culturais em uma aldeia de judeus na União Soviética.

Sonho - Gostaria de escrever algumas coisas no futuro a respeito da minha terra natal e do lugar onde moro.

Unisinos - É uma instituição organizada, séria, onde eu sempre gostei de trabalhar e me sinto à vontade. É um ambiente de seriedade na administração, no ensino e no trabalho.

IHU - Acho o IHU um empreendimento muito importante, pois ele mostra perspectivas para dentro da realidade, aponta horizontes. As publicações são muito importantes, diferenciadas. Recebo semanalmente a IHU On-Line, tenho os números guardados em casa justamente porque trata de temas atuais. No fim de vários meses, se tem uma série de temas muito interessantes. Estou pensando em, no próximo semestre, usar essas revistas para os estudantes trabalhar diversos temas em aula.

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