Edição 226 | 02 Julho 2007

“O ambiente capitalista do Second Life gera diferenças sociais, como no mundo real”

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IHU Online

Leia, a seguir, a entrevista que o professor concedeu por e-mail para a IHU On-Line sobre Second Life:

Romero Tori concluiu o doutorado em Engenharia Elétrica pela Universidade de São Paulo em 1994 e obteve o título de Professor Livre-Docente pela Universidade de São Paulo em 2003. Atualmente, é professor associado da Universidade de São Paulo e professor titular do Centro Universitário Senac. Organizou o livro Fundamentos da computação gráfica (2. ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos Editora, 1987, v. 1), em parceria com Reginaldo Arakaki,  Lúcia Filgueiras e Antônio Massola. Em parceria com Cláudio Kirner, publicou os livros Realidade virtual: conceitos e tendências (São Paulo: Editora Mania de Livro), e Fundamentos e tecnologia da realidade virtual e aumentada (Porto Alegre: SBC, 2006). Em seu currículo Lattes os termos mais freqüentes na contextualização da produção científica, tecnológica e artístico-cultural são: computação gráfica, realidade virtual, multimídia, hipermídia, educação virtual interativa, educação, tecnologia educacional, educação à distância, computer games e biblioteca gráfica.

IHU On-Line - De que maneira o Second Life pode proporcionar a ampliação dos sentidos humanos?
Romero Tori -
Na medida em que você pode imergir em um mundo virtual, voar, teletransportar, conversar com pessoas localizadas em qualquer lugar do mundo como se estivesse no mesmo lugar, mudar seu ponto de vista à vontade, entre outras facilidades que a realidade virtual propicia, podemos dizer que alguns de seus sentidos ficam ampliados nesse mundo virtual. Outros sentidos, como tato, olfato e paladar, ao contrário, ficam inúteis. Todavia, as pesquisas de realidade virtual já vêm desenvolvendo soluções para todos esses sentidos. É, portanto, questão de tempo para que essa tecnologia, já existente em laboratórios de pesquisa, alcance o grande público e passe a fazer parte desse ambientes virtuais no futuro.
 
IHU On-Line - O que é o videoavatar? Como ele funciona?
Romero Tori -
Videoavatar ainda não existe no Second Life, sendo uma tecnologia ainda restrita aos laboratórios de pesquisa em realidade virtual. O videoavatar é um avatar  que reproduz dentro de um ambiente virtual, ao vivo e em tempo-real, a própria imagem tridimensional de uma pessoa, capturada por diversas câmeras de vídeo. Quem estiver interagindo com essa pessoa à distância pode vê-la sob diferentes ângulos, caminhando dentro do mundo virtual, como se faz com os avatares do Second Life, por exemplo.
 
IHU On-Line – Qual é o impacto da realidade virtual para o consumidor e para a economia?
Romero Tori -
São inúmeros os impactos para o consumidor. Vou citar alguns: caminhar por um mundo virtual é muito mais intuitivo e envolvente do que navegar por menus e telas; o realismo propiciado pela realidade virtual permite que o consumidor conheça e experimente produtos à distância e a um custo ínfimo; e é uma ferramenta poderosa para atividades de educação à distância (por exemplo, laboratórios virtuais e museus virtuais, simuladores etc.). Além disso, participar de comunidades virtuais é uma experiência gratificante, mesmo que a interação se dê apenas por meio de textos. No entanto, se essa interação acontecer dentro de um ambiente tridimensional, a experiência será ainda mais intensa e envolvente.

Para a economia, os impactos ocorrem como conseqüência daqueles provocados no consumidor: maior demanda por produtos para os ambientes de realidade virtual, uma economia de custos nas atividades virtuais, ao se evitar deslocamentos e necessidade de espaços reais. Até créditos de carbono as atividades virtuais a distância podem pleitear. Por fim, em ambientes com o Second Life, que possuem uma economia própria, há um reflexo na economia real, na medida em que é possível a geração de riquezas e empregos virtuais, que se transformam em riquezas e empregos reais.
 
IHU On-Line - Como é o ambiente de negócios do Second Life? Como ganhar dinheiro na vida real por meio da economia do Second Life? Quem administra essa economia? Ela é regida por quais fatores?
Romero Tori -
Trata-se de um mundo com economia própria. Tudo o que é criado lá dentro tem seus direitos autorais reservados aos respectivos autores, que podem vender, alugar, doar etc. Os avatares também podem prestar serviços a outros avatares e receber por isso. Os pagamentos no Second Life são realizados por meio de uma moeda própria, o Linden, que pode ser convertido para dólares no mercado real. Hoje, a cotação de um dólar é de aproximadamente 300 lindens. Há também pessoas reais contratadas por empresas para trabalharem, via avatares, dentro do empreendimento virtual da empresa, por exemplo, como recepcionista, segurança, instrutor etc. A regulagem dessa economia se dá pelo próprio mercado, seguindo os princípios da oferta e procura. Há muita similaridade com a economia real, apenas numa escala muito menor.
 
IHU On-Line - A desigualdade social também aparece na Second Life?
Romero Tori -
Sim. O ambiente do Second Life, sendo capitalista, gera diferenças sociais, como no mundo real. Mas as diferenças se restringem a questões econômicas, culturais e comportamentais. Apesar de não termos fome nem doença, podemos ter discriminações, ostentações, facções, e, infelizmente, quadrilhas, crimes e atividades de submundo, que acabam se refletindo no mundo real.
 
IHU On-Line - O senhor poderia destacar quais fatores contribuíram para o sucesso do Second Life?
Romero Tori –
Destaco a facilidade de conversão de Lindens (a moeda do Second Life) em dólares; a liberdade para que os próprios usuários criem objetos virtuais dentro do ambiente; a garantia de que eles terão a reserva dos direitos de tudo o que criarem ou fizerem dentro do Second Life (como ocorre no mundo real); saberem que por trás de cada avatar existe uma pessoa real; que eles não estão interagindo com um programa de computador, mas com gente; a facilidade para criação e participação em comunidades virtuais; e a possibilidade de assumirem qualquer personalidade, fazendo praticamente tudo o que desejarem nesse outro mundo. 

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