Edição 225 | 25 Junho 2007

Diversificar a economia: estratégia de Campo Bom

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Na opinião do vice-prefeito de Campo Bom Armin Rudy Bloss, “a prefeitura de Campo Bom está sintonizada com o panorama socioeconômico do município e há tempo vem diversificando seu mercado de trabalho, para não ficar tão dependente do ramo de calçados. Este, no entanto, é um processo lento e não se consegue, num estalar de dedos, implementá-lo”. Contudo, continua Bloss, é preciso admitir que a cultura de Campo Bom é a do sapato: “Crescemos e nos tornamos um município pujante graças à indústria de calçados. Por isso, rumos devem ser traçados no sentido da manutenção dessa cultura da fabricação de calçados. Campo Bom e outros municípios do Vale do Sinos estão se unindo em busca de novas soluções”.

As declarações fazem parte da entrevista a seguir, concedida por e-mail à IHU On-Line. Confira.

IHU On-Line – Quais são os principais efeitos sentidos na economia de Campo Bom em função da crise do setor coureiro-calçadista?
Armin Rudy Bloss –
Em um primeiro momento, a crise no setor coureiro-calçadista, como decorrência da redução das produções, e o conseqüente desemprego nas fábricas. Além do fechamento de fábricas, os efeitos se fazem sentir no comércio pela retração de compras. Uns por estarem desempregados, e outros pelo temor da incerteza quanto a seu futuro.

IHU On-Line - E, em termos sociais, quais seriam os principais problemas gerados em função dessa situação?
Armin Rudy Bloss –
O principal problema que ocorre é a não conclusão do ciclo econômico no município. Na prática, o desemprego no setor calçadista representa também desemprego no comércio e em outros segmentos. Conseqüentemente, o problema gerado pela crise no setor calçadista acaba resultando num aumento da demanda dos programas sociais desenvolvidos no município, como distribuição de alimentos, remédios, roupas, inclusive para pessoas que não dependiam economicamente do calçado. A busca por estes benefícios junto ao município, resulta, algumas vezes, na baixa auto-estima do cidadão campobonense, que lutou pelo seu “pão” e que agora se vê obrigado a recorrer ao sistema público.

IHU On-Line – Que medidas a prefeitura de Campo Bom vem tomando para amenizar o problema do desemprego das pessoas oriundas do setor coureiro-calçadista? Está havendo alguma espécie de mobilização das autoridades municipais para reverter essa situação? Que medidas estão sendo tomadas?
Armin Rudy Bloss -
A prefeitura de Campo Bom está sintonizada com o panorama socioeconômico do município e há tempo vem diversificando seu mercado de trabalho para não ficar tão dependente do ramo de calçados. Este, no entanto, é um processo lento e não se consegue, num estalar de dedos, implementá-lo. Contudo, é preciso dizer que nossa cultura é o sapato. Crescemos e nos tornamos um município pujante graças à indústria de calçados. Por isso, rumos devem ser traçados no sentido da manutenção dessa cultura da fabricação de calçados. Campo Bom e outros municípios do Vale do Sinos estão se unindo em busca de novas soluções.

Além disso, o município dispõe de um Programa de Incentivo a Geração de Emprego – PIGE, que auxilia empresas novas ou em fase de ampliação, com o custeio de locativos de prédio e equipamentos. Muitas empresas em Campo Bom ampliaram seus empreendimentos com o auxílio deste programa. Outrossim, está em fase adiantada de estudo outras ações envolvendo a capacitação da mão-de-obra calçadista em outras atividades não afins com o calçado, além da ampliação dos recursos para o PIGE.

IHU On-Line – O que a viagem à Europa, em curso neste momento, trará de incremento e melhorias ao setor calçadista?
Armin Rudy Bloss -
A viagem Missão Ibéria Tecnológica (Portugal e Espanha), organizada pela Feevale, e da qual nosso prefeito é participante, tem por objetivo conhecer os parques tecnológicos lá existentes. Os conhecimentos que os integrantes da comitiva irão assimilar serão, certamente, uma contribuição aos propósitos de nosso prefeito e de outros para a busca de soluções através da diversificação de mercados.

IHU On-Line – Em números, qual é o decréscimo de postos de trabalho e indústrias fechadas em função da crise?
Armin Rudy Bloss -
Em Campo Bom, tivemos, há poucos meses, o fechamento de uma fábrica de calçados com sua produção voltada para o mercado externo que gerava 500 empregos. A maior repercussão foi o fechamento anunciado no próximo mês de junho da maior fábrica de sapatos de couros exportadora do Brasil, com sua matriz em Campo Bom e filiais espalhadas no interior do estado. São ao todo 4 mil postos de trabalho, dos quais 600 em Campo Bom, que serão extintos ao longo dos próximos 30 dias.

A redução física de produção, que vem ocorrendo em decorrência da diminuição de negócios na exportação, pelo encarecimento dos preços de sapatos, refletiu no fechamento de mais postos de trabalho, em torno de 1.000 nos últimos seis meses.

IHU On-Line – Para Ênio Erni Klein, diretor executivo e consultor de inteligência comercial da Abicalçados, órgão que tem como objetivo a defesa das políticas do setor calçadista nacional, “o diferencial do calçado produzido no Vale do Sinos é que a mão-de-obra aqui tem muito conhecimento em relação ao setor. Por isso, daqui saem os calçados com maiores diferenças. Sapatos finos são como os da marca Arezzo. Aqui, no Vale do Sinos, temos a melhor mão-de-obra porque ela sabe, verdadeiramente, trabalhar o calçado”. Como o senhor avalia essa afirmação em face do que vem ocorrendo nos últimos anos? Não é um paradoxo?
Armin Rudy Bloss -
A mão-de-obra do setor de calçado do Vale do Sinos é, sem sombra de dúvidas, da melhor qualidade. Isto significa que temos condições plenas de produzir sapatos de couro de qualidade diferenciada. De certo modo, dentro do cenário econômico atual do Brasil, por essa via podemos manter viva a presença do sapato brasileiro nos mercados internacionais. Frise-se, no entanto, que esse nicho de mercado é limitado. Não é o grande mercado internacional dos quais nossas fábricas têm participado.

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