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No início do século XIX, já no período republicano, é que começou o incremento da produção. A partir dessa época, explica Eloísa, os alemães da região do Vale do Sinos, começaram a produzir tamancos artesanais, que mais tarde foram originando as primeiras empresas calçadistas do Vale. “Esses primeiros calçados eram mais rústicos, simples, feitos para usar na lavoura, no dia-a-dia.”
Somente com a crise na agricultura, especialmente no setor cafeeiro, iniciou-se a industrialização do Brasil, em 1930. A historiadora destaca que as crises internacionais, principalmente a queda na Bolsa de Valores, nos Estados Unidos, também contribuíram para as mudanças no país tropical. Desse ano em diante, gradativamente os pequenos artesãos foram aumentando a produção, criando botas e sapatos. “Aos poucos foram evoluindo para os calçados especialmente femininos”, acrescenta a professora, que dispara: “o ‘boom’ da indústria calçadista está ligado com o desenvolvimento industrial do Brasil, já na década de 1940, em diante”. Assim, no final do século, “especialmente na área de Novo Hamburgo, houve o desenvolvimento de uma indústria coureiro-calçadista”.
Dos anos 1930 a 1980, o Brasil e o Rio Grande do Sul desenvolveram-se com uma produção econômica ligada diretamente à indústria. “No Rio Grande do Sul, certamente, esse período foi influenciado pela indústria do calçado.” Com o enriquecimento da produção no Vale do Sinos, destaca a professora, abriu-se espaço para a comercialização dos produtos gaúchos no mercado mundial. “A profissionalização do setor fez com que Novo Hamburgo tivesse, em boa parte desse período, uma das maiores rendas per capita do Brasil”, lembra.
Com a industrialização, surge uma migração para a região do Vale. “Buscando uma vida melhor, um salário melhor. Os agricultores migraram para as cidades, com o objetivo de trabalhar nas fábricas.” Essa mudança radical, ressalta Eloísa, “tinha um lado compensador: as boas condições salariais que essas cidades poderiam oferecer”. Em menos de trinta anos, o número da população urbana na região dobrou, chegando em 1980, a 80% da população.
Atualmente, com a crise que se arrasta desde os anos 1990, o processo está se invertendo. Com demissões em massa, a população, sem perspectiva de vida, retorna, aos poucos, para a cidade de origem. “Esse é um problema grave, que pode acarretar muita miséria e violência”, aponta a professora.
Para entender os motivos que originaram a crise de um setor que viveu, por quase 50 anos, momentos de glória, e as possíveis soluções para os problemas originados até então, acompanhe as entrevistas que seguem no decorrer desta edição. Notícias sobre o assunto podem ser acompanhadas nas Notícias do Dia do sítio da IHU On-Line (www.unisinos.br/ihu).