Edição 225 | 30 Novembro -0001

A realidade do desemprego: testemunhos

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IHU Online

Por telefone, a IHU On-Line fez contato com trabalhadores que perderam seus empregos no setor coureiro-calçadista em função da crise que vem se arrastando em nosso Estado.Todos trabalhavam na Reichert Calçados, em Campo Bom, empresa que até junho irá demitir todos seus funcionários, totalizando 400 pessoas, no município, e quase 5mil em todo o estado. Dos três entrevistados, nenhum conseguiu ainda um trabalho formal, e estão “se virando” com as parcelas do seguro desemprego. Situação difícil, delicada tanto para quem tem família para sustentar como para quem está apenas começando sua trajetória profissional e não vê perspectivas concretas para uma mudança. Mesmo assim, eles não perdem a esperança, e acreditam que a crise é passageira.

O sítio do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, www.unisinos.br/ihu, vem dando amplo espaço e cobertura à crise do setor. Sobre o tema, confira a entrevista “O impacto sobre o setor calçadista continuará sendo negativo”, concedida pelo Prof. Dr. Achyles Barcelos da Costa na edição 224, intitulada Os rumos da Igreja a partir de Aparecida, de 18-06-2007. Leia, também, a reportagem A crise do setor calçadista vista a partir dos trabalhadores demitidos, publicada em 20-04-2007, e a entrevista Crise no setor calçadista brasileiro, concedida por Ênio Erni Klein em 12-04-2007. O material pode ser acessado no sítio do IHU (www.unisinos.br/ihu). Neste mês, a equipe da IHU On-Line foi à cidade de Campo Bom, e conversou com alguns trabalhadores que foram vítimas das demissões em massa que estão ocorrendo na região. A reportagem Campo triste. Vale do Sinos está sufocado pela crise, pode ser conferida nas Notícias do Dia de 1-6-2007, e na edição número 222, Rûmi. O poeta e místico da dança do Amor e da Unidade.

 

“Se não tivermos esperança, o que vai ser de nós?”

“Até o dia 22 de março, eu trabalhava no setor de modelagem da Reichert Calçados, em Campo Bom. Eu fazia de tudo um pouco: costurava, preparava os pares de sapato. Estava há um ano nessa empresa, e gostava de lá. Quando voltamos das férias, fomos imediatamente demitidos. No meu setor foram 10 pessoas demitidas. No total, a empresa demitiu 50 pessoas. No momento, estou vivendo do meu seguro-desemprego. O problema é que já recebi duas parcelas, e agora restam apenas três. Não consigo encontrar emprego, pois está muito difícil conseguir outra colocação. Para piorar tudo, meu marido, que trabalhava como segurança, perdeu o emprego semana passada. É a tal ‘contenção de despesas’. Meu irmão, que também trabalhava no setor calçadista, também está desempregado. Mas, no fundo, eu tenho esperança que essa crise melhore. Se não tivermos esperança, o que vai ser de nós? Temos um filho de 8 anos para criar.”

Celíria de Fátima Santos Brito, 34 anos, moradora de Campo Bom

 

“Fiquei perdido”

“Eu era dos serviços gerais da Reichert Calçados. No dia 22 de março, fui demitido, antes de entrar em férias. Fiquei perdido. Estou me virando com o seguro-desemprego, mas as parcelas estão prestes a acabar. Então, arranjei outro serviço: servente de pedreiro. Ajudo meu primo nas obras de construção civil. Já fiz ficha em várias fábricas de calçados, mas ninguém me chama! Acho difícil conseguir algo nessa área, mas não desisti ainda. Estou pensando até em me mudar para Parobé, cidade localizada no Vale do Paranhana, Rio Grande do Sul, a fim de ver se encontro algo por lá. Queria estudar, fazer uns cursos, mas não sei não... Talvez algo na área de mecânica para máquinas de calçados. Vamos ver como fica a minha situação.”

Joni Silveira, 18 anos, morador de Campo Bom

 

“Não tenho outra experiência”

“Depois de 24 anos trabalhando na Reichert Calçados, em Campo Bom, como preparadeira, fui demitida. Não fiquei surpresa com a demissão. Mesmo trabalhando, eu já ouvia os comentários. Também sabia que eu seria demitida e que um dia a empresa iria fechar. Por enquanto, estou desempregada, em casa. E estou me virando com o dinheiro do seguro-desemprego. Estou pensado no que fazer depois que as parcelas acabarem. Não sei se vou voltar para uma fábrica de calçados. Se não tiver alternativa, tenho que voltar, afinal não tenho outra experiência: sempre trabalhei na Reichert.”

Jaqueline Ferreira dos Santos, 37 anos, moradora de Campo Bom

 

 

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