Edição 222 | 04 Junho 2007

Jovem trio enfrenta as contradições do Brasil

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O colunista do jornal Folha de S. Paulo, José Geraldo Couto, também comenta o filme Proibido Proibir no artigo que segue, publicado na Folha, em 27-04-2007.

Triângulos amorosos em que dois grandes amigos se apaixonam pela mesma mulher são recorrentes no cinema. O caso clássico é Jules e Jim, de François Truffaut. Na filmografia brasileira recente, temos Cidade baixa, de Sérgio Machado, e agora Proibido proibir.

Não é nisso, portanto, que reside a originalidade do filme de Jorge Durán, e sim no seu enfoque de um dos grandes temas, se não o único, do cinema nacional: os impasses da classe média diante das contradições sociais do país.

Os três protagonistas são estudantes de uma universidade pública do Rio de Janeiro. Leon (Alexandre Rodrigues, o Buscapé de Cidade de Deus) estuda sociologia. Sua namorada, Letícia (Maria Flor), arquitetura. E seu amigo e companheiro de apartamento Paulo (Caio Blat) faz medicina.

Na hora de colocar à prova os conhecimentos adquiridos no campus, cada um deles tem um rico corpo-a-corpo com a cidade do Rio e, por extensão, com o Brasil. E os três acabarão envolvidos numa situação crítica quando o filho de uma paciente pobre de Paulo é jurado de morte por policiais corruptos.

É proibido proibir”, como se sabe, foi um dos slogans da rebelião estudantil de maio de 1968 na França e também título de uma polêmica canção de Caetano Veloso. O mote aponta para a liberdade absoluta, para a subversão de todas as normas repressivas.

Proibido proibir, o filme, articula esse desejo transgressivo à necessidade de ação social responsável. Movidos por esse duplo influxo, os jovens do filme são um pouco como nós, veteranos, gostaríamos que todos fossem (idealizando, talvez, nossa própria juventude perdida): generosos, apaixonados, belos.

Trio talentoso
A trama é muito bem construída, as situações são convincentes e os atores, não apenas o trio protagonista, defendem seus personagens com garra, em especial Caio Blat, que se afirma como um dos grandes talentos da nova geração.

Merece destaque também a maneira como Durán captou a geografia carioca. Na contramão da maioria dos filmes rodados no Rio, Proibido Proibir praticamente passa ao largo da orla da zona sul e dos morros favelizados, espraiando-se entre o centro e os subúrbios “planos” da zona norte e destacando (graças à carreira de Letícia) marcos da arquitetura urbana, como a igreja da Penha e o edifício Capanema.

O final em aberto, que não convém revelar aqui, é pleno de significado afetivo e político, sobretudo quando, já sobre os créditos, a voz roufenha de Nelson Cavaquinho canta o clássico samba “Juízo Final”.

Chileno radicado no Brasil desde 1973, Jorge Durán, roteirista de alguns de nossos filmes mais importantes, retorna à direção duas décadas depois de seu outro único longa, A cor do seu destino (1986). Cabe esperar que Proibido proibir, premiado nos festivais de Biarritz e Havana, seja o início de uma nova e vigorosa fase.

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