Edição 203 | 06 Novembro 2006

Uma Verdade Inconveniente

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IHU Online

O filme a seguir, em cartaz no Rio de Janeiro e São Paulo, foi visto e apreciado por um colega do Instituto Humanitas Unisinos (IHU)

Ficha Técnica:
 
Nome: Uma Verdade Inconveniente
Nome original: An Inconvenient Truth
Cor filmagem: Colorida
Origem: EUA
Ano produção: 2006
Gênero: Documentário
Duração: 100 min
Classificação: livre 

Sinopse:

O ex-presidente americano Al Gore dá uma palestra, ricamente ilustrada com fotos, imagens e gráficos, sobre o preocupante aumento da temperatura em todas as partes da Terra, que é causada pela derrubada de florestas e emissão de poluentes. E ensina também o que fazer para reverter o perigoso fenômeno.

Al Gore e sua verdade inconveniente.
A estréia do documentário sobre aquecimento global

Luiz Carlos Merten comenta no jornal Estado de S. Paulo, 3-11-2006, o documentário Uma verdade incoveniente. Eis o artigo:

Para que ficcionalizar, se a verdade consegue ser tão impactante - além de inconveniente? Nos últimos anos, o cinema tem patrocinado fantasias científicas para discutir o futuro da Terra, ameaçada pela destruição ambiental que corrói o meio ambiente e ameaça nosso futuro. O alemão Roland Emmerich , sempre apolítico - Independence Day e Godzilla -, fez O Dia depois de amanhã, sobre as mudanças climáticas. Esqueça a má ficção daquele filme e preocupe-se com a dura realidade que é revelada por Uma verdade incoveniente o documentário de David Guggenheim que estréia hoje nos cinemas de Porto Alegre e outras capitais.
É um filme de terror travestido de documentário. Seu forte não é o aspecto cinematográfico e você até chegará facilmente à conclusão de que já viu documentários mais ousados - e melhores. Dificilmente terá visto outro tão assustador. Quem comanda o show é Al Gore , deputado, senador e vice-presidente dos EUA, nos dois mandatos de Bill Clinton. Ele concorreu à presidência com George W. Bush e, até hoje, Spike Lee sustenta que Bush filho só se elegeu graças à fraude patrocinada por seu irmão, que governava a Flórida, e criou aquele caso com eleitores negros, que foram impedidos de votar em distritos que teriam dado a vitória a Gore no Colégio Eleitoral. Gore perdeu a eleição, deixou de ser presidente dos EUA e o mundo talvez fosse outro, se ele hoje presidisse os EUA.

Gore perdeu a presidência, mas não a militância. Antes mesmo de ser o vice-presidente de Clinton ele já percorria os EUA (e o mundo) dando palestras sobre os riscos do aquecimento global. Antigamente, e não faz muito tempo, o rombo da camada de ozônio era o grande vilão da ecologia, ameaçando com a destruição da vida na Terra. Foram criadas políticas públicas (e ambientais) para enfrentar o problema. O risco agora é outro - o aquecimento. O desmatamento, a poluição ambiental e outros procedimentos típicos do desprezo humano pela natureza estão provocando o aquecimento acelerado da Terra. Previsões que eram apocalípticas para o final do século agora já projetam para décadas antes o risco que o degelo pode representar para países (e grandes cidades) do planeta.

Em Cannes, em maio, onde Uma Verdade Inconveniente ganhou uma sessão especial (de gala), Al Gore vestiu-se de black-tie para duas conferências. Uma é a do filme, que recorre a gráficos, fotos e, naturalmente, ao magnetismo pessoal e ao poder de persuasão do político para nos dar conta do risco que corremos. A outra foi a da coletiva concorridíssima que Gore deu, reforçando aquilo que, por ventura, não tivesse ficado claro no filme de Guggenheim (mas é claro). Ele une duas características, o didatismo e o humor, para nos levar à reflexão com dados científicos que são, cada vez mais, irrefutáveis.

Num certo sentido, pode-se fazer uma ponte entre Fahrenheit - 11 de Setembro e Uma Verdade Inconveniente. Como Michael Moore em seu documentário sobre o ataque ao World Trade Center, que discute a ligação da família do presidente George W. Bush com a de Osama Bin Laden e a utilização política que ele fez do combate ao terrorismo, Guggenheim e Gore também procuram ser críticos do atual ocupante da Casa Branca. Moore manipula mais para alcançar seus objetivos, mas a verdade, assustadora mais do que inconveniente, é que o mundo que Guggenheim e Gore mostram simplesmente não tem futuro, pelo menos para a Terra, como a conhecemos."

Outros comentários:

Por Mario “Fanaticc” Abbade, 01-11-2006 na página www.omelete.com.br.

O filme abre com Gore falando para um auditório apoiado por projeções, slides e vídeos. Até o humor se faz presente com um pequeno curta de Matt Groening, criador dos Simpsons. Ao mesmo tempo, o acompanhamos em aeroportos, dentro do carro e quartos de hotel, representando que a sua cruzada tem sido pelo mundo e não só nos Estados Unidos. Chega a ser surpreendente vê-lo articulado, inteligente, entendido e passional sobre o assunto. Bem diferente do monossilábico e atrapalhado candidato a presidência do passado. Ele consegue explicar o problema de forma clara e simples, usando citações de Mark Twain e Upton Sinclair. Ele emprega gráficos com mapas de estatísticas atmosféricas sobre milhões de anos lado a lado com fotografias da Patagônia, do Kilimanjaro, dos Alpes e da Antártida, entre outros locais, para revelar o impacto produzido pelo homem durante anos no meio ambiente. Chega a mostrar a diferença do que foi noticiado pelos os veículos de mídia norte-americanos e os cientistas sobre as causas do Furacão Katrina. Fica evidente que o lobby protagonizado por certos grupos poderosos influencia os meios de comunicação.

Parte biográfico, o filme também mostra que Gore foi introduzido no assunto quando ainda era universitário, durante uma palestra de Roger Revelle, um professor de Harvard. Revelle foi um dos pioneiros na medição de dióxido de carbono na atmosfera. A família de Gore, que plantava tabaco, também foi uma influência. Ele revela que o falecimento de sua irmã por câncer de pulmão provocou uma mudança na utilização do solo de suas fazendas. Outro fator importante foi a quase morte de seu filho num acidente de carro. Através dessas tragédias pessoais, o filme ganha um lado humano. E com esses elementos fica mais fácil acontecer uma identificação da epístola com os espectadores. Essa conscientização gera uma reflexão: parte do problema poderia ser evitado, se aplicássemos uma série de mudanças em nossos hábitos diários.

Mesmo assim, o cineasta Davis Guggenheim, um veterano da TV (dirigiu episódios de 24 Horas e The Shield), não cai nas armadilhas do patriotismo. Ele utiliza um tom ingênuo para dar ritmo ao filme. Inevitavelmente o tema da corrida presidencial de 2000 chega. Nessa hora, Guggenheim acelera o máximo possível com uma montagem de clipes e alguns comentários pouco eloqüentes de Gore. Um outro ponto negativo é uma certa aura de superstar criada em torno do documentado. Como também incomoda o estilo didático da produção, orientado para converter. Mas vale dizer que Gore não queria fazer o filme e precisou ser persuadido para participar do projeto. Foi convencido pela importância da mensagem, até porque somos ao mesmo tempo os vilões e as vítimas dessa história.

 

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