Edição 220 | 21 Mai 2007

“O governo Lula governa de olho nos grandes setores”

close

FECHAR

Enviar o link deste por e-mail a um(a) amigo(a).

IHU Online

Jornalista Econômico formado pela Escola de Comunicação e Arte da Universidade de São Paulo, Luis Nassif é hoje diretor Superintendente da Agência Dinheiro Vivo. Além disso, Nassif desempenha as funções de comentarista econômico da TV Cultura, é membro do Conselho do Instituto de Estudos Avançados da USP, do Conselho de Economia da FIESP e do Conselho da Escola Livre de Música Tom Jobim. Possui um dos blogs mais acessados e respeitados do país, o luisnassif.blig.ig.com.br.

Nesse ano, o jornalista lançou o livro Cabeças de planilha (Ed. Ediouro, 2007). Na obra, Nassif narra as chances que o Brasil teve de se tornar uma nação de primeiro mundo. Sobre esse assunto, o jornalista concedeu uma entrevista à IHU On-Line, no dia 27-04-2007, intitulada “O maior cabeça de planilha hoje é o Lula”. A entrevista pode ser conferida no sítio do IHU (www.unisinos.br/ihu)

IHU On-Line - Quais as conseqüências para a economia brasileira desse câmbio?
Luis Nassif -
Vai destruir setores empresariais inteiros e sepultar os sonhos de quem acreditava que o Brasil poderia ter uma economia moderna e competitiva.

IHU On-Line - O senhor acha que o governo Lula e o Banco Central estão conduzindo o caso da melhor forma? Como o Brasil deveria conduzir as taxas de importação e exportação? Qual seria a melhor alternativa, algo que beneficiasse não apenas os grandes investidores e banqueiros, mas os outros setores da economia nacional? A valorização do real é inevitável? O governo nada pode fazer, deixando tudo meio solto com o câmbio flutuante?
Luis Nassif
- O governo Lula, assim como FHC, governa de olho nos grandes setores apenas. Quando se deixa esse simulacro de câmbio flutuante, com esse diferencial absurdo de taxas de juros, o que se quer é a apreciação do real sim, pois aumenta substancialmente os lucros de quem aposta.

IHU On-Line - Quais os interesses que podem estar por detrás da postura do Banco Central em relação a esse câmbio?
Luis Nassif -
Interesses do mercado e dos grandes investidores que trazem dólares de fora para especular e ganhar com os juros e com a valorização do real.

IHU On-Line - Como definir um governo que vê a queda do dólar como o “melhor dos mundos”, sem pensar na indústria e nos demais setores afetados pelo câmbio? Lula tem real ciência do que está acontecendo economicamente no País? Ele sabe que a taxa de juros e o câmbio como se encontram atualmente beneficiam apenas grandes investidores estrangeiros e banqueiros? Ele acredita fielmente que isso é bom para o Brasil? Como o senhor vê o presidente Lula nessa questão?
Luis Nassif -
Governo macunaímico, assim como foi o de FHC. Lula é da mesma escola esperta de FHC. Ele governa para agradar as grandes empresas e o tal mercado; atende as grandes centrais sindicais com os recursos do FAT; e atende os desassistidos com a Bolsa Família. E só. Não pensa estrategicamente, não quer correr riscos nem pensar no futuro do país. Igual a FHC.

IHU On-Line - O senhor escreveu no seu blog que "estão destruindo o país. Setenta anos de industrialização estão sendo jogados pelo esgoto”. Qual o efeito desse câmbio para a indústria? Caminhamos para uma desindustrialização no Brasil?
Luis Nassif -
Caminhamos para nos tornarmos "maquiladoras", com indústrias que comprarão do exterior a maior parte dos seus insumos e componentes. O resultado será a redução do emprego, mais ainda do emprego qualificado, manutenção de baixos índices de crescimento e crise, quando acabar essa fase atual de preços altos para as commodities.

IHU On-Line - A euforia que paira entre os pequenos consumidores não é uma ilusão, já que os juros continuam altos?
Luis Nassif -
É uma ilusão maior ainda, porque o emprego será afetado estruturalmente por esse câmbio. Só que, quando o desemprego vier, os analistas que hoje defendem o câmbio inventarão outras causas para o desemprego.

IHU On-Line - Já José Mendonça de Barros acredita que essa mudança de câmbio estimula a reconfiguração da indústria. "O câmbio valorizado desfez a nuvem que escondia nossas ineficiências", afirma ele, apostando em uma "commoditização" no Brasil. Qual sua opinião sobre essa visão?
Luis Nassif -
O Zé sabe que é um desastre, mas diz isso de forma política para não chocar seus clientes. O que ele diz é algo gravíssimo. Dizer que está apostando em uma "commoditização" não expressa seu desejo, mas sua análise. Ele sabe que é um desastre esse processo.

IHU On-Line - O dólar fraco e a conseqüente competição com produtos importados vai causar a quebra de empresas brasileiras, o que "é normal", na avaliação do ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, na primeira reunião do ano do Conselho de Desenvolvimento, Econômico e Social. O que pensar disso?
Luis Nassif -
O Miguel é mais despreparado do que esperto. Melhor dizendo: é um esperto despreparado.

IHU On-Line - Valorizar a moeda nacional é uma condenação para o Brasil? Como entender isso?
Luis Nassif -
A moeda só se valoriza naturalmente, quando melhoram as condições gerais da economia e da produção. Valorizar moeda sem ter a melhoria, significa tornar produtos brasileiros mais caros, sem que eles tenham outras vantagens para poder aumentar o preço e compensar a queda no câmbio. 

Últimas edições

  • Edição 552

    Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

    Ver edição
  • Edição 551

    Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

    Ver edição
  • Edição 550

    Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

    Ver edição