Edição 212 | 19 Março 2007

Perfil Popular - Adão Antônio de Carvalho

close

FECHAR

Enviar o link deste por e-mail a um(a) amigo(a).

IHU Online

A nova editoria da revista IHU On-Line descreve o perfil popular de alguém que, mesmo não vivendo no mundo acadêmico, sempre tem o que ensinar. Contaremos aqui a história de vida e a visão de mundo de pessoas que lutam pela sobrevivência e pela dignidade e que, apesar das dificuldades, têm sonhos e anseios de uma vida melhor.

No próximo dia 24, Adão Antônio de Carvalho completará 54 anos. Oriundo do interior de Montenegro, chegou a São Leopoldo em 1976, para trabalhar na indústria do alumínio. Na Amadeu Rossi  teve seu começo, seguindo para o Alumínio Econômico , onde encontrou sua oportunidade até a crise da indústria. “Os funcionários antigos do Alumínio torciam pra aquilo continuar. Quando veio o fechamento da firma, nós, os funcionários antigos, iniciamos uma cooperativa.” 

Crise - Uma saída para a crise, a Cooperativa de Produção Cristo Rei iniciou suas atividades, produzindo todo o tipo de produtos. “Panela, panelão, tudo de alumínio, doméstico, industrial, linha luxo, tudo o que precisar para dentro de casa. Nossa batalha é essa: continuar para dar mais emprego, porque em São Leopoldo, nos últimos anos, aconteceu o fechamento de muitas empresas, e muita gente ficou na rua. Por que vocês acham que aumentou tanto o número de camelôs, trazendo coisas do Paraguai pra vender? Por causa do fechamento das empresas. O povo tem que sobreviver, aí ele procura um jeito. Claro, o país perde muito nesse lado, o setor lojista, as empresas maiores. Porque roda muito frio, sem nota, sem nada.”
Para Adão, a fé no negócio foi e é muito importante para a qualidade do trabalho. “Nós vamos batalhar por aquilo. Graças a Deus estamos bem.” Ele explica que o objetivo do trabalho não é alcançar a riqueza, e sim manter o que tem, trabalhando honestamente.

Apoio - No campo da política, Adão é enfático no que diz respeito às pequenas empresas. “Política é assim: político gosta muito de ir para a televisão. Não é esse partido, nem o outro. São todos. Dizem que vão dar apoio pras microempresas, mas se nós entramos num banco pedindo dinheiro para governo para tocar um serviço, enquanto não pagar ele tu tá ferrado.”

Infância - Adão conta que cresceu em uma família grande, de sete irmãos, onde tinha grande convivência com os avós paternos e maternos. “A gente dependia da lavoura, da mandioca. Tinha momentos ruins. Às vezes, o ‘pau’ pegava. Mas momentos bons também tinha bastante.” 

A criação da cooperativa - Relembrando os tempos de dificuldade, Adão fala sobre a idéia da cooperativa. Os funcionários, já em idade avançada para o que o mercado de trabalho exigia, não encontravam emprego depois do fechamento da Alumínio Econômico. “Nós pensamos nas nossas famílias. Claro, o nosso nível de estudo nunca foi alto. Poucos ‘mataram’ o segundo grau. A maioria fez só o primeiro grau e muitas vezes nem é completo.” A cooperativa cresceu ao longo dos seus seis anos de existência, contando hoje com 31 sócios e 12 representantes no estado, somando no total em torno de 80 pessoas envolvidas no trabalho.

Início - O início difícil da microempresa é relembrado entre risos hoje por Adão. “Quando nós começamos aquilo ali, a gente não tinha dinheiro nem para comprar um quilo de arroz. A gente comprava carcaça de galinha para fazer nosso almoço de meio-dia.” Mas ele não esquece do apoio de quem os ajudou na fase ruim. Dona Ilse, que trabalhou com a empresa no início, foi quem forneceu o capital para a empresa começar. “O troço foi custoso. A nossa mercadoria atinge um mercado muito pequeno. Os mercados de vila têm muito mercado que compra para revender. É complicado falar para as pessoas que elas vão ter que passar o mês com 70 ‘pila’. Principalmente esse pessoal que está sem dinheiro, que tem família”.

Continuidade - Adão acredita que a empresa está ganhando espaço no mercado, depois da experiência acumulada ao longo dos anos. “Cada vez mais a nossa marca é mais forte.”

O dia-a-dia na cooperativa - Adão trabalha, no dia-a-dia, com o despacho das mercadorias, mas sempre disposto a ajudar os outros em diversos setores, sempre com muito bom-humor. “Meu dia-a-dia é bom. Às vezes, a gente se irrita um pouco, quando a mente da gente passa da medida. É cheio de altos e baixos.”

Família - Adão é casado há 28 anos e tem uma filha que cursa Recursos Humanos na Unisinos. Ele garante que a vida em família é uma beleza. “Tem época que sou caseiro. E tem época que eu gosto bastante de ir nos bailes.” Ele leva a vida de maneira leve, valorizando a família e as amizades. “Não sou pessimista. Tem as incomodaçõezinhas, mas depois passa.”  

Política e Brasil - “A nota do Lula que eu dou é seis, que é acima do meio. Dez não dá para se dar, porque tem algumas coisas meio ruins.” Adão é enfático no momento em que fala da situação do Brasil. Para ele, faltam investimentos em muitas áreas, tanto no âmbito nacional quanto no estadual. “Falta dar mais força para as empresas virem para os estados.” Ele ainda aponta o desemprego como o fator principal a ser resolvido, atribuindo esse motivo ao crescimento das cooperativas. “Eles tinham que dar uma prioridade ao pessoal de 45, 50 anos que não se aposenta e está ali, na beira da porta esperando o chamado para um serviço.”

Planos- Adão almeja o crescimento do negócio, pleiteando apoio com o governo estadual. Para ele, a honestidade com que trabalham é um trunfo para obter a ajuda. “Sempre pagamos nossos impostos, tudo direitinho. Se a gente não tivesse formado a cooperativa, aquele prédio onde trabalhamos, aquelas máquinas, já tinha ido tudo pro ferro velho, já tinha consumido todo o dinheiro.”

Últimas edições

  • Edição 552

    Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

    Ver edição
  • Edição 551

    Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

    Ver edição
  • Edição 550

    Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

    Ver edição