Edição 211 | 12 Março 2007

A doença sem melodrama

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IHU Online

Cinema e Saúde Coletiva II

ENTREVISTA COM GLÊNIO PÓVOASO professor e pesquisador de cinema brasileiro da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Glênio Póvoas, conversou por telefone com a IHU On-Line sobre cinema e saúde. O assunto foi pauta porque Póvoas participará do evento Cinema e Saúde Coletiva II - Cuidado e Cuidador: os vários sentidos dessa relação. O filme que será exibido e debatido é Floradas na serra (1954, Luciano Salce).

O evento acontece dia 13-03-2007, às 8h30min, na sala 1G119 do IHU.

Confira abaixo um bate-papo com o pesquisador. 

IHU On-Line - De que maneira o cinema vem tratando o tema da saúde?
Glênio Póvoas
– Preocupei-me mais em tentar localizar esse tema no cinema brasileiro, basicamente no cinema de ficção, que é o mais visto pelas pessoas. Não fiz uma pesquisa exaustiva para esgotar o assunto. Não localizei muitos títulos, pelo menos não até o período dos anos 1950, sobre o qual estou trabalhando. Encontrei alguns filmes que tratam da cegueira, como Luz dos meus olhos (1947, José Carlos Burle), Coração materno (1951, Gilda Abreu) e Rua sem sol (1954, Alex Viany). O alcoolismo aparece no clássico O ébrio (1946, Gilda Abreu), um grande sucesso popular. Não aprofundei a pesquisa para saber como a doença volta a aparecer no cinema brasileiro a partir dos anos 1950 e 1960.

Floradas na serra

Aqui vamos tratar o tema da doença: a tuberculose. Temos que lembrar que o filme é baseado no livro homônimo de Dinah Silveira de Queiroz , que já tinha tido um relativo sucesso, muito lido e comentado em seu ano de lançamento, 1939. O filme foi lançado em 1954. Desde o século XIX, esta doença é tema de obras dramáticas, como em A dama das camélias (1832), de Alexandre Dumas Filho, no qual a personagem principal morre de tuberculose. É a "grande doença". Depois de ser relativamente controlada no século XX, vamos ter outras doenças como o câncer e, mais na atualidade, a AIDS. São doenças temidas e, por isso, temas difíceis de tratar no cinema. No caso da tuberculose ou mesmo do câncer, no século XIX e XX, não se falava abertamente sobre isso.

A doença

Para a comunicação, li o livro, a fim de fazer uma comparação. Para minha surpresa, a autora não usa a palavra tuberculose; simplesmente não há menção a essa doença e a história é sobre personagens tuberculosos que vão para um lugar se tratar. No filme, a palavra é citada, duas ou três vezes, mas aí - em meados dos anos 1950 - a doença já estava menos estigmatizada. É como hoje, por exemplo, quando as pessoas também não falam quando alguém tem HIV na família.

IHU On-Line - Então o cinema pode ajudar, nesse ponto, a desmistificar as doenças?
Glênio Póvoas
– Acho que o papel nesse sentido seria de esclarecimento de certos aspectos dessas doenças, sintomas, precauções. Há o cinema documentário, que ainda tem uma subcategoria, que seria a do filme científico.  Desde muito cedo, na história do cinema, ele foi usado como um aliado para a ciência, fazendo o registro de operações, cirurgias. Um dos filmes preservados da nossa filmografia é Serviço de febre amarela (título atribuído, provavelmente de 1911, 19 min), em que são mostrados os métodos de combate aos mosquitos e suas larvas.

IHU On-Line – Existe alguma forma de se falar em saúde sem tornar o filme um melodrama?
Glênio Póvoas
– Difícil. Até propus falar um pouco sobre melodrama no cinema, que é um gênero às vezes desprezado pela intelectualidade, mas que está muito presente nas nossas vidas, atende a certos mecanismos que estão muito presentes no nosso cotidiano. Cria-se um preconceito em cima do melodrama, sem nenhuma explicação. Se a gente for buscar na raiz do gênero, o melodrama nada mais é do que uma visão de mundo muito particular de tentar entender a realidade.  A telenovela é isso.

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