Edição 531 | 17 Dezembro 2018

Etty Hillesum

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O colorido do amor no cinza da Shoá

É humanamente compreensível que quem viveu a perversidade do mal, prefigurado no holocausto, perca a luz e passe a refletir apenas a dor. Mas essa não é a única saída. A experiência de Etty Hillesum nos campos de concentração da Segunda Guerra prova isso: a jovem judia não se entrega à dor e tampouco responde ao ódio na mesma potência. Sua arma é o canto de alegria em meio às dificuldades, como uma flor que irradia calor na resistência gélida e tétrica do inverno sob a égide nazista. Na esperança de sempre ver a luz mesmo em meio à realidade sombria, a IHU On-Line traz a mística de Etty Hillesum como tema central desta edição.

É nesse sentido que Faustino Teixeira, professor e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora, observa nessa jovem mística a arte de encontrar o Deus interior capaz de fortalecer contra todo o mal que a cerca, sem ceder em nada a sentimentos malignos e ainda irradiar amor. “Com todas as condições para dizer o contrário, Etty rechaça em sua reflexão qualquer possibilidade de adesão ao ódio”, sintetiza.

Beatrice Iacopini, formada em Filosofia e em Teologia e é professora no ITCS Filippo Pacini - Pistoia e colabora com a Escola de Teologia da Diocese de Pistoia, lembra que é necessário desenterrar Deus dos corações martirizados. “Etty Hillesum nos ensina a perceber a profunda unidade de tudo, razão pela qual quem se empenha a melhorar a si mesmo, na realidade, muda o mundo”, pondera.

Mariana Ianelli, poeta, ensaísta, cronista e crítica literária brasileira, chama atenção para a capacidade da jovem de encontrar Deus não apenas em seu interior, pois “desenterra Deus do fundo do coração dos outros”, livre de qualquer amarra ou preconceito.

Ceci Maria Costa Baptista Mariani, professora do Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião na Pontifícia Universidade Católica de Campinas e da Faculdade de Teologia, foca sua análise no amor que Etty é capaz de mobilizar. Segundo a professora, pela entrega amorosa, a jovem chega a um Deus que habita nela e reconhece nele a face daqueles que a cercam.

Para Ricardo Fenati, mestre em Filosofia e integrante do Centro Loyola, de Belo Horizonte, a experiência mística de Etty Hillesum é espiritual, e não psíquica, segundo revela em registros das primeiras anotações de seu diário.

Gabriela Acerbi, socióloga e mestranda em Ciências Sociais, descobriu Etty recentemente e não esconde seu encanto. Para ela, a experiência da jovem judia revela que é possível se criar mesmo diante de um abismo. Para ela, os diários de Etty Hillesum são um apelo a essa criação e uma recusa a condicionar-se ao adverso.

Eduardo Guerreiro Brito Losso, professor de Teoria da Literatura do Departamento de Ciência da Literatura da Universidade Federal do Rio de Janeiro, reflete, a partir da experiência de Etty, sobre as inquietudes que afligem o nosso tempo, perversidades que, se não forem apreendidas nas pequenas ações, acabam personificando o pior da humanidade.

Thiago Amud, compositor, arranjador, cantor e violonista carioca, também destaca a importância da resistência alegre. Assim, olha para a forma como as Marchas de 2013 foram apreendidas pelo “neofascismo” e vê na arte uma forma de ativar sentimentos que mobilizam sentimentos positivos como reação.

Também podem ser lidas as entrevistas com Marco Antonio Valentim, professor da Universidade Federal do Paraná - UFPR, repensa a Filosofia a partir de postulados capazes de pensar nossa humanidade desde um ponto de vista não autocentrado, e sim extra-humano e propõe como o fascismo se tornou a política oficial do Antropoceno; e Etienne Turpin, filósofo, pesquisador do Instituto de Tecnologia de Massachusetts e diretor fundador do Anexact Office, reconhece o Antropoceno como um alerta sobre as ações humanas no planeta.

Por fim, uma reportagem especial destaca os eventos que estão sendo preparados pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU para 2019.

Desejamos a todas e todos um Feliz Natal e um abençoado Ano Novo.

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