Edição 530 | 16 Outubro 2018

Missões jesuíticas. Mundos que se revelam e se transformam

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“As missões certamente foram um ponto de encontro mútuo entre práticas e saberes próprios dos nativos e dos evangelizadores”. É assim que Carlos Paz, doutor em História pela Universidad Nacional del Centro de la Provincia de Buenos Aires, na Argentina, define a experiência do contato de jesuítas, associados às monarquias católicas ibéricas, com populações indígenas no espaço da redução, também chamado missão.

Historiadores destacam que é preciso romper com a máxima de que as ações da Companhia de Jesus estavam necessariamente associadas à imposição do cristianismo e das lógicas temporais europeias. Para eles é preciso levar em conta as transformações que ambas as culturas sofreram a partir das suas relações. Esta é a proposta das Jornadas Internacionais sobre as Missões Jesuíticas, que acontecem, em sua XVII edição, na Unisinos – Campus São Leopoldo, nos dias 22 a 25 de outubro.

A presente edição da revista IHU On-Line debate a proposta com pesquisadores e pesquisadoras do tema.

Alexandre Coello de La Rosa, professor titular do Departamento de Humanidades da Universitat Pompeu Fabra - UPF, de Barcelona, Espanha, analisa as missões como um empreendimento que dá origem ao que mais tarde vai se definir como globalização. Embora sob a égide ibérica, para ele, o Novo Mundo e o Oriente são conectados numa grande profusão cultural.

Guilherme Galhegos Felippe, doutor em História pela Unisinos, descreve as transformações que ocorrem a partir do momento da colonização, que coloca duas culturas distintas frente a frente no espaço de missão.

Os escritos de membros da Companhia de Jesus sempre foram fontes para a pesquisa historiográfica, embora muito questionados pela parcialidade. María Salinas, professora na Facultad de Humanidades da Universidad Nacional del Nordeste, na Argentina, retoma esse debate e propõe a necessidade de voltar a esses materiais com outros olhares, permitindo-se novas descobertas que superem a lógica de “vencidos X vencedores”.

Erneldo Schallenberger, professor da Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Unioeste, entende que do encontro entre jesuítas e índios emergem novos estatutos sociais.

A Companhia de Jesus também está inscrita no contexto das transformações que vão ocorrer na transição do Medievo para a Modernidade. María Elena Imolesi, professora de História Latino-americana na Universidad de Buenos Aires, Argentina, analisa como a identidade moderna vai sendo forjada na experiência missioneira.

A historiadora Célia Tavares, professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ, analisa as particularidades e consequências das ações dos jesuítas nas primeiras incursões na Índia.

Miguel de Asúa, professor de História do Instituto de Pesquisa de Ciências e Engenharia Ambiental na Universidade de San Martin, na Argentina, aborda a experiência missioneira como fonte para pensar as ciências médicas e naturais no contexto histórico. Para ele, a troca de saberes sobre práticas médicas, uso de ervas e conhecimento de flora e fauna se configura com um outro ponto de conexão e aproximação entre jesuítas e povos indígenas.

Norberto Levinton, arquiteto, doutor em História, pesquisador na Universidad del Salvador, na Argentina, estuda como as edificações e organizações espaciais das missões revelam mais do que uma supremacia de um povo sobre outro.

Aliocha Maldavsky, doutora em História, pesquisadora no grupo Mondes Américains (UMR 8168, da Université Paris Nanterre) e no grupo Missions Religieuses Ibériques Modernes na École des hautes études en sciences sociales - EHESS, observa que a ação de jesuítas não é algo uniforme e generalizado, assim como as relações que vão estabelecer com o poder temporal e populações nativas.

Helenize Serres, doutora em História pela Unisinos, detalha descobertas de sua pesquisa sobre as chamadas estâncias missioneiras. O que lhe chama atenção são as relações que se estabelecem nesse espaço de produção, mas que ainda é terreno de disputas e tensões dentro das reduções jesuíticas.

Também pode ser lida a entrevista de Idelber Avelar, professor de Teoria Literária e Estudos Culturais na Tulane University, em New Orleans, EUA, analisando a conjuntura política pós-eleitoral.


A todas e a todos uma boa leitura e uma excelente semana.

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