Edição 515 | 13 Novembro 2017

Renúncia suprema. O suicídios em debate

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Pouco se falava em suicídio. Medo, preconceito, sofrimento, tabu – vários são os motivos que restringiam o tema ao interior de casas atraiçoadas pela ausência de um familiar que abdicou de viver, a emergências médicas que tentavam subverter o desatino, a consultórios onde se buscava atenuar ou extinguir o sofrimento de existir.

O silêncio em torno do que Durkheim chamou de “renúncia suprema” passou a ser rompido quando a expressividade das estatísticas começou a saltar das tabelas e relatórios. A Organização Mundial da Saúde – OMS estima que, a cada ano, mais de 800 mil pessoas suprimem a própria vida, ou seja, uma morte a cada 40 segundos. No Brasil, conforme o Ministério da Saúde, a cada 45 minutos uma pessoa morre por suicídio. Entre 2011 e 2016, houve 62.804 mortes por suicídio no país.

A OMS projeta que 90% dos casos podem ser evitados, antes que uma derradeira gota transborde o copo, desde que haja prevenção, acompanhamento e acolhida. Por isso a necessidade de se romper com o tabu e discutir o assunto, pois se trata de um problema de saúde pública. Falar com cuidado, respeito e prudência, mas falar.

Imbuída desse propósito, a revista IHU On-Line desta semana reúne um time de especialistas para discutir diversas facetas do assunto.

A cientista social e professora Raquel Weiss salienta que, para Durkheim, é importante constituir laços sociais capazes de acolher os indivíduos, pois a sociedade moderna dissolveu os antigos laços de sociabilidade.

O psicanalista Paulo Gleich observa que a onipotência nas relações afetivas faz com que as pessoas considerem possível salvar o outro com o amor, mas esse amor só tem valor quando o outro deseja recebê-lo. E o presidente do Centro de Valorização da Vida – CVV, Robert Paris, afirma que pensar em se matar é mais comum do que se pensa, e disso decorre a importância de falar sobre suicídio.

O franco-argelino Albert Camus, em seu ensaio O mito de Sísifo, de 1941, é categórico: “Só existe um problema filosófico realmente sério: é o suicídio”. Para o doutor em Filosofia Fernando Sapaterro, o cerne desta obra não é o suicídio, mas as dimensões da existência do homem em sua relação consigo e com o mundo.

O etnoarqueólogo José Otávio Catafesto de Souza analisa como o suicídio de indígenas evidencia uma outra relação com a morte e, ao mesmo tempo, a intensa perseguição etnocida de seus modos de vida.

O psiquiatra Neury José Botega, referência no tema, traça um panorama sobre os desafios no enfrentamento do suicídio no Brasil.

O jornalista Carlos Etchichury critica a imprensa que, ao publicar quase nada sobre o tema, descumpre sua função social de revelar fenômenos e cobrar soluções das autoridades.

A psicóloga Karen Scavacini defende uma discussão aberta, pois, com o silenciamento do debate, perde-se a oportunidade de fazer a efetiva prevenção.

E Jaime Barrientos, professor de Psicologia da Universidade Católica do Norte, no Chile, destaca que transgêneros, gays e lésbicas são submetidos a formas de violência que afetam sua saúde mental, a ponto de alguns atentarem contra a própria vida.

Nesta edição podem ser lidas as entrevistas com Carolina Alejandra Reyes Molina sobre filosofia como forma de vida, com o documentarista Vincent Carelli sobre as disputas entre indígenas e latifundiários, com o procurador aposentado Jacques Alfonsin sobre crise urbana e segregação dos pobres como também o artigo da professora Alice Rangel de Paiva Abreu, da UFRJ, no qual afirma que instituições brasileiras precisam mudar para garantir equidade de gêneros no campo científico.

Completando este número, a análise do cientista político Bruno Lima Rocha, que traça uma definição de imperialismo na etapa do capitalismo global e financeiro pós-2008, e o perfil de Jorge Luiz Rosa da Silva, contador, professor e auditor interno da Unisinos.

A todas e a todos uma boa leitura e uma excelente semana.

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