Edição 505 | 22 Mai 2017

Editorial - Giorgio Agamben e a impossibilidade de salvação da modernidade e da política moderna

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A imagem que ilustra a capa da revista IHU On-Line desta semana, a pintura de Charles Le Brum chamada A apoteose de Luís XIV (1677), sintetiza uma ideia central na obra de Giorgio Agamben: a modernidade nunca foi secular, mas profana. A paradoxal imagem que enaltece a força do Estado expresso na figura messiânica do rei mostra também o lado obscuro do poder, que pela força cria suas zonas de exclusão e exceção. Agamben está “convencido da impossibilidade de salvação da modernidade – e, por conseguinte, também da política moderna”, explica Patrick Baur, da Albert-Ludwigs-Universität.

Diante da falência da promessa moderna de avanço civilizatório, o filósofo italiano assenta seu pensamento que inspira o VI Colóquio Internacional IHU – Política, economia, teologia. Contribuições da obra de Giorgio Agamben, evento organizado pelo Instituto Humantias Unisinos – IHU, que ocorre nos dias 23 e 24 de maio na Unisinos, campus São Leopoldo.

Contribuem para o debate Ingeborg Villinger, professora emérita da Universidade de Freiburg, que sustenta que o trabalho de Agamben “levanta o véu da indistinguibilidade entre poder e direito e permite que não só o olhar histórico, mas também o nosso tempo presente cheguem ao conhecimento dessa indistinguibilidade”.

Sandro Chignola, professor de Filosofia Política na Universidade de Padova – Itália, avalia que a democracia está em crise devido à “crescente desafeição com os mecanismos eleitorais, o retorno da guerra, a corrupção endêmica que atravessa os sistemas políticos”.

Para Rodrigo Karmy Bolton, professor de Filosofia na Universidade do Chile, “poderíamos dizer que toda a arqueologia filosófica agambeniana consiste em desbloquear o impensado da máquina, abrir o campo do possível que toda máquina tenta conter”.

Adam Kotsko, teólogo e professor assistente de Ciências Humanas no Shimer College, nos EUA, sustenta que “a ligação entre Trindade e a doutrina da providência representa uma grande mudança de paradigma para se pensar o desenvolvimento do pensamento cristão”.

Colby Dickinson, professor de Teologia na Universidade Loyola, nos EUA, argumenta que “pensar o papel da inoperatividade, para Agamben, significa lançar um olhar renovado sobre como a suspensão do nomos ou da lei é, na verdade, o que está no coração de toda a lei”.

“Quando proteção e terror se sobrepõem perfeitamente, o que desaparece é a própria possibilidade de estabelecer um limite”, diz Andrea Cavalletti, professor de Estética e Literatura Italiana na Universidade IUAV.

Fabián Ludueña, doutor em História da Civilização pela École des Hautes Etudes en Sciences Sociales de Paris – EHESS, pontua que “o filósofo italiano adicionou seu próprio diagnóstico e novos insights acerca das maneiras como a ciência política ainda fala de acordo com um vocabulário que herdou da teologia”.

Bernd Ternes, filósofo e politólogo, afirma que é equivocado analisar o conceito agambeniano sob prisma político.

Para Manuel Ignacio Moyano, “nada está a salvo, nem mesmo o Estado de Direito chamado de ‘democracia liberal’”.

Podem ser lidos também os artigos de Castor Bartolomé Ruiz, Implicações políticas da teologia no pensamento de Giorgio Agamben, e de Márcia Junges, Um poder que se alimenta de glória.

Completam a edição as entrevistas com a historiadora Lilia Schwarcz, Antonio Candido e sua lufada de ar na forma de ver o Brasil, e com Roberto Dias da Silva, No discurso de crises, a busca por uma educação utilitarista e neoliberal.

A todas e a todos, uma boa leitura e uma excelente semana.

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