Edição 208 | 11 Dezembro 2006

As novas formas de sociabilidade e afetividade nos jovens

close

FECHAR

Enviar o link deste por e-mail a um(a) amigo(a).

IHU Online

Na opinião da socióloga Maria Isabel Mendes de Almeida, “as novas formas de sociabilidade e afetividade vêm se pautando pelo experimentalismo cada vez maior, encarnado em  situações  como o ficar”. Além disso, acrescenta, “a importância do grupo na socialização do jovem nunca foi tão expressiva e ela se estende com muita força no campo das relações on-line”. Essas e outras declarações exclusivas foram concedidas à IHU On-Line por e-mail.

Almeida é professora na Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro. Cursou Sociologia e Política na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), mestrado e doutorado em Sociologia na Sociedade Brasileira de Instrução (SBI/IUPERJ), no Rio de Janeiro. Sua tese intitula-se Subjetividade e Ciências Sociais: autores/sujeitos/interações - Uma abordagem teórica e relacional. Junto de Fernanda Eugênio organizou a obra Culturas Jovens: novos mapas do afeto. Rio de Janeiro Zahar, 2006, na qual publicou o artigo “Zoar” e “ficar”: novos termos da sociabilidade jovem. É uma das autoras da obra Noites Nômades - Espaço e Subjetividade nas Culturas Jovens Contemporâneas. Rio de Janeiro: Rocco, 2003 e escreveu os livros Maternidade: um destino inevitável? Rio de Janeiro: Campus, 1987 e Masculino/feminino: tensão insolúvel - sociedade brasileira e organização da subjetividade. Rio de Janeiro: Rocco, 1996. Na edição 71 da IHU On-Line, de 18-08-2003, concedeu a entrevista Guerreiros da night. Para conferir a entrevista, basta acessar o site do IHU, www.unisinos.br/ihu.

IHU On-Line - Quais são as novas formas de sociabilidade e afetividade nos jovens de nossa sociedade? Há diferenças entre aqueles dos grandes centros urbanos e os do interior?

Maria Isabel Mendes de Almeida
– Essas diferenças ancoram-se fundamentalmente na questão da persistência, ainda, de um certo conservadorismo maior no interior do País, versus os grandes centros urbanos. Ainda assim, os avanços tecnológicos e midiáticos vêm reduzindo essas diferenças. As novas formas de sociabilidade e afetividade vêm se pautando pelo experimentalismo cada vez maior, encarnado em situações  como o "ficar", por exemplo, além disso, a importância do grupo na socialização do jovem nunca foi tão expressiva e ela se estende com muita força no campo das relações online.

IHU On-Line - Expressões como “zoar” e “ficar” representam que tipo de subjetividade juvenil? Qual a importância do aspecto “efêmero” nessa questão?

Maria Isabel Mendes de Almeida
– Procuro demonstrar que os jovens hoje reproduzem nas suas relações afetivas o que realizam em suas relações espaciais, onde é comum "habitar a trajetória", fazer do deslocamento um fim em si. Dessa forma, destaca-se um padrão de relações nômades e transitórias que, em um certo período da vida, predominam neste universo. No entanto, é curioso observar, ao mesmo tempo, que, quando as relações de namoro se instalam, elas vêm assumindo uma feição de "casamento", sem qualquer mediação entre os membros do casal. Isso ainda merece um estudo mais atento de suas implicações.

IHU On-Line - Como se dá o processo de construção da identidade na juventude contemporânea?

Maria Isabel Mendes de Almeida
– Tal construção vem sendo regida por processos que acentuam o domínio do "estar", da presentificação, versus o domínio do "ser", configurando novas ontologias do ser, muito mais voltado para a intervenção imediata no real, - é o registro implacável do "estar lá" com os amigos e a galera, - do que  qualquer preocupação com a dimensão reflexiva da existência.

IHU On-Line - Que modelo “ideal” de sujeito o jovem tem, no sentido de se espelhar para sua formação como sujeito social contemporâneo? Quais são os valores do jovem hoje?

Maria Isabel Mendes de Almeida
– O valor central hoje é o da competência, da capacidade de lidar com os acontecimentos da vida de modo pragmático e objetivo, sem delongas, procurando a via de acesso mais curta para o sucesso visível e imediato. Sem sofrimentos e sem complicações.

IHU On-Line - Quais os principais desafios nos estudos sobre a juventude hoje?

Maria Isabel Mendes de Almeida
– Seria a necessidade de nos debruçarmos, nós, pesquisadores, sobre as novas estruturas da subjetividade que hoje vêm despontando. Procurar, por exemplo, encontrar vias de acesso e compreensão das novas formas de expressão e comunicação dos jovens que, em sua maioria, não mais se dão através das modalidades narrativas discursivas tradicionais. Muitos deles apresentam dificuldades em descrever situações, explicá-las pelo discurso, impondo-nos a busca de padrões alternativos de compreensão destas subjetividades. O raciocínio imagético e o corporal despontam como novas pistas desse funcionamento e deste imaginário.
 
IHU On-Line - Como foi a experiência de organizar o livro Culturas jovens. Novos Mapas do Afeto? O que a obra traz de mais interessante para o debate sobre a juventude?

Maria Isabel Mendes de Almeida
– O livro procura refletir sobre esses novos padrões de funcionamento e organização da subjetividade jovem, sobretudo nos setores médios de nossa sociedade. Trabalha com várias questões chave nesta direção, desde a temática da gravidez adolescente, da Aids, da relação com o mundo da mídia e dos fãs, passando pelo jovem traficante até as novas formas de amar e de relacionar-se com os gêneros. São trabalhos resultantes de pesquisas e de longo amadurecimento sobre esse tema no campo das ciências sociais.

Últimas edições

  • Edição 552

    Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

    Ver edição
  • Edição 551

    Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

    Ver edição
  • Edição 550

    Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

    Ver edição