Edição 476 | 03 Novembro 2015

A musicalidade disruptiva da Tropicália em 50 anos de trajetória artística

close

FECHAR

Enviar o link deste por e-mail a um(a) amigo(a).

Leslie Chaves

Para Celso Fernando Favaretto, no tropicalismo Caetano e Gil definiram suas carreiras e transformaram o cenário cultural brasileiro

Os 50 anos de carreira de Caetano e Gil são repletos de acontecimentos interessantes e significativos. Entre os mais marcantes, destaca-se o Tropicalismo, que representa uma revolução cultural no sentido mais amplo da expressão. Conforme Celso Fernando Favaretto aponta em entrevista por telefone à IHU On-Line, esse movimento “vem responder a uma necessidade experimental, a qual tinha duas facetas: um lado propriamente musical, isto é, levar adiante o que a Bossa Nova já havia trazido de modernização e, por outro lado, responder, de maneira radical e muito particular, aos desafios sociais e políticos que se acentuaram depois do golpe de 1964”. 

Para o pesquisador, as referências da Tropicália reverberam até hoje no campo artístico brasileiro construindo novos modos de criação e fruição artística, articulando variadas fontes de alimentação, de diversos locais e temporalidades, ao engajamento às questões do contexto social e político. Segundo Favaretto, até hoje Caetano e Gil “são muito fiéis a essa origem tropicalista, ou seja, experimental e definidora de outros modos de compor e cantar, que levam a outros modos de audição, a partir de uma vinculação simultânea com a tradição da música popular brasileira e as influências do presente, tanto nacionais como internacionais, na música, arte e cultura em geral. Soma-se ainda a presença e atuação política de ambos”.

Celso Fernando Favaretto é graduado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUC-Campinas, mestre e doutor em Filosofia pela Universidade de São Paulo – USP, onde também tem livre-docência pela Faculdade de Educação e aposentou-se como professor. Entre suas publicações destacam-se Tropicália: alegoria, alegria (São Paulo: Kairós Editora, 1979) e A invenção de Hélio Oiticica (São Paulo: Edusp, 1992).

Confira a entrevista.

 

IHU On-Line – Qual a importância do movimento Tropicalista nas carreiras de Gil e Caetano? De que forma foi se compondo o cenário para a emersão deste movimento? 

Celso Fernando Favaretto – No Tropicalismo, Caetano e Gil se definiram como cancionistas, como músicos da música popular brasileira. Eles foram os principais criadores e integrantes desse movimento, juntamente com Torquato Neto , Capinan  e Tom Zé .

O Tropicalismo surgiu da necessidade de uma revisão do que vinha sendo a música popular brasileira, que ao mesmo tempo respondia de maneira muito direta às pressões políticas e sociais daquele momento dos anos 1960, tanto as questões anteriores quanto posteriores ao golpe de 1964 ; e estava tentando responder ao impulso de modernidade que se desenvolvia nas artes e na cultura desde os anos 1950. Momento em que aparecia uma série de proposições de vanguarda nas artes plásticas, como o grupo Ruptura , de São Paulo, e o grupo Frente , do Rio de Janeiro; ou na poesia, como a Poesia Concreta  de Augusto, Haroldo  e Décio Pignatari ; também os processos que aos poucos vão gerar o Cinema Novo , inicialmente com Nelson Pereira dos Santos ; e ainda os desenvolvimentos na música erudita contemporânea e na música popular, nesse último caso a emergência daquilo que seria a Bossa Nova , com o surgimento dos três primeiros discos de João Gilberto  e a atividade enorme de Tom Jobim  e de outros músicos que vão surgindo, chamados de “bossanovistas”. 

Os anos 1950 foram aqueles em que efetivamente começou a haver uma modernização da sociedade brasileira, inclusive em termos estruturais, políticos e econômicos, mas principalmente houve a introdução da modernidade cultural que se buscava desde os anos do Modernismo de 22  e que finalmente se efetivou. E essa efetivação se deu em novas condições, em uma sociedade em ritmo de desenvolvimento, pelo menos de maneira mais acentuada a partir do governo de Juscelino Kubitschek , com as consequentes mudanças sociais, inclusive nos costumes, nas relações entre as pessoas, na educação, nos meios de comunicação, que começavam a se desenvolver, na produção de livros e na tradução de títulos estrangeiros; enfim, houve uma veloz transformação cultural dos anos 1950 até o final dos anos 1960. 

Dentro deste contexto, o Tropicalismo vem responder a uma necessidade experimental, a qual tinha duas facetas: um lado propriamente musical, isto é, levar adiante o que a Bossa Nova já havia trazido de modernização, e por outro lado responder, de maneira radical e muito particular, aos desafios sociais e políticos que se acentuaram depois do golpe de 1964. O Tropicalismo deu uma resposta singular, muito especial a essas duas coisas.

Altamente experimental, incluindo não só os elementos da tradição da música popular brasileira, como também elementos da chamada música contemporânea e outros de procedências diversas, como do cinema, teatro e literatura, o Tropicalismo compôs uma suma muito interessante em que o contexto social e político encontrava aí uma nova forma de expressão, com a nova acentuação de uma política disruptiva. Simultaneamente, a musicalidade encontrou um lugar também disruptivo, isto é, uma mudança do ouvido musical brasileiro. Isso porque a integração de procedimentos de vanguarda, das mais diversas procedências, fazia com que as músicas tropicalistas fossem um tanto quanto estranhas, tanto na letra como na musicalidade. Caetano e Gil, como eu disse antes, com Torquato Neto, Tom Zé e Capinan, juntando-se a eles o canto da Gal Costa , algumas vezes o da Nara Leão  etc., produziram uma reconfiguração da música popular que não só definiu a carreira deles como compositores e cantores, cancionistas, como redefiniu os rumos da música popular brasileira.

A partir de então, muitos músicos, mais jovens ou não, passaram a ter uma liberdade imensa de composição. Coisa que não tinham antes, seja pela pressão das imposições da cultura de massa, seja pela pressão vinda da necessidade da música de expressar a realidade brasileira, seja pelo fato de os compositores ainda não conseguirem fundir as novas contribuições vindas de dentro e de fora do país.

Depois de 1968, que foi o momento tropicalista da cultura brasileira, a música e outras artes encontraram, exatamente devido às atividades tropicalistas, uma liberdade muito maior de atuação, de criatividade e desenvolvimentos variados em diferentes atos.  

 

IHU On-Line – Como está situado o movimento Tropicalista na narrativa construída por Caetano e Gil ao longo dos seus 50 anos de carreira? 

Celso Fernando Favaretto – Nos anos de 1967 e 1968, prioritariamente, eles desenvolveram um programa propriamente experimental de música popular brasileira. Eles já vinham ensaiando isso antes, em algumas músicas, mas nesse período eles definem uma nova postura diante daquilo que se entende por música popular e outros modos de fazer música popular. 

Uma vez encerrado o Movimento Tropicalista — eu digo encerrado porque com o AI-5  não só houve muita repressão da censura e do regime militar, como também Caetano e Gil saíram do país —, entre o final de 1968 e o período em que ficaram exilados em Londres eles foram redefinindo a maneira de trabalharem na música, porém em condições adversas. Eles estavam no exterior em contato com músicos e outros artistas das mais diferentes proveniências, e nesse contexto puderam repensar aquilo que tinham feito no Tropicalismo. Primeiro eles mantiveram sempre a importância da experimentação. Segundo, conservaram a importância do cruzamento da tradição da música popular brasileira com aquilo que estava aparecendo, como no Brasil os desenvolvimentos que vinham da Jovem Guarda, e no exterior o rock, que participou da constituição de alguns agrupamentos no país; um dos exemplos mais importantes foram Os Mutantes , que trabalharam diretamente com eles.

Desta interrelação entre novas referências musicais, nacionais e internacionais, e a experimentação tropicalista que eles tinham desenvolvido durante dois anos, vão, cada um deles, encontrar caminhos singulares para continuar fazendo música brasileira, mas com os mais diversos sotaques, exatamente porque estavam influenciados pelo cruzamento de muitas referências. Isso eles vão desenvolver de lá até hoje, porque são muito fiéis a essa origem tropicalista, ou seja, experimental e definidora de outros modos de compor e cantar, que levam a outros modos de audição, a partir de uma vinculação simultânea com a tradição da música popular brasileira, de Noel Rosa  em diante, e com as influências do presente, tanto nacionais como internacionais, na música, na arte e na cultura em geral. Soma-se ainda a presença e atuação política de ambos.

 

IHU On-Line – De que modo a identidade do Movimento Tropicalista se relaciona com as identidades de Caetano e Gil individualmente? Como interpretar a atuação desses artistas individualmente e coletivamente? 

Celso Fernando Favaretto – Na verdade, não houve formalmente um grupo. Em 1968 o que se chamou de “grupo baiano” se constituiu aos poucos em torno do Caetano e do Gil principalmente, junto com o Torquato, o Capinan e o Tom Zé. Naquela época, até se pode dizer que houve um grupo baiano pensando e trabalhando junto, que constituiu um programa de trabalho que atuou durante dois anos. Terminado esse período, eles se distanciaram. Caetano e Gil foram para Londres, Tom Zé, Torquato e Capinan ficaram por aqui. Em seguida o Torquato morre, o Capinan volta para a Bahia e o Tom Zé fica meio obscurecido em São Paulo até reaparecer décadas depois. 

Em Londres, Caetano e Gil, embora morando juntos e trabalhando perto, começaram a desenvolver carreiras e, principalmente, modos muito particulares de fazer música; ao voltarem para o Brasil, eles se particularizaram mais ainda. Cada um seguiu sugestões e interesses muito próprios. Ambos se tornaram astros, artistas da maior importância no Brasil até hoje. Eles dois, juntamente com Chico Buarque , talvez sejam as presenças artísticas na música popular mais relevantes surgidas dos anos 1960 para cá. 

Assim, não se pode dizer que houve um grupo formal, e necessariamente esses artistas nunca definiram uma posição em uníssono. Muitas vezes, inclusive, não em termos de música, mas em termos de cultura e de política, nem sempre eles tiveram a mesma posição, mas evidentemente sempre se respeitaram e mantêm uma relação muito viva e forte de amizade e participação cultural, haja vista os shows que eles fizeram recentemente, tanto no exterior como aqui no Brasil, comemorando os 50 anos de carreira. Eles continuam irmãos, parceiros, mas cada um com sua singularidade.   

 

IHU On-Line – Você poderia falar um pouco sobre o papel do músico popular na sociedade brasileira, principalmente à luz das discussões em torno do posicionamento político de Caetano e Gil, que se identificavam com o compromisso artístico e estético, porém por um lado foram perseguidos pelo regime ditatorial e por outro muito cobrados por parte do público? Como esses conflitos incidiram na carreira de ambos? 

Celso Fernando Favaretto – Como fez parte do próprio Tropicalismo, a relação entre arte e política sempre foi o lugar em que eles estiveram e estão até hoje. Eles são acima de tudo artistas, sempre se definiram como músicos populares e o compromisso inicial deles era um avanço e um trabalho dentro da música popular, mas em nenhum momento eles deixaram de participar da vida política e social brasileira. Entretanto, nem sempre essa participação precisa ser feita sob a forma de militância; ela pode ser feita através do trabalho artístico em si, onde eles sempre se posicionaram. Em alguns momentos esse trabalho inclusive levou-os a ser mais explícitos. O Tropicalismo ao mesmo tempo era uma pesquisa de linguagens artísticas, particularmente na música popular, era experimental na música e no campo artístico em geral, mas também era experimental em pensar novas relações entre arte e cultura e arte e política. Tanto é assim que grande parte das músicas dos tropicalistas é experimental artisticamente e muito política, fazendo a crítica da sociedade brasileira daquele momento.

O importante é que eles sempre se posicionaram, nunca deixaram de fazer isso. Naquele tempo, exatamente porque o momento dos anos 1960 propiciava e exigia, as coisas eram mais explícitas. Dos anos 1970 até hoje nem sempre os posicionamentos políticos são tão explícitos nas músicas, nem sempre as canções são explicitamente críticas, mas o são no modo de fazer música internamente, através da formulação de novas linguagens, temas e assuntos. 

Gil, distintamente de Caetano, foi além, em certo momento foi vereador em Salvador, depois foi ministro da Cultura. Afora ele ter uma significação social com a música, a partir das suas declarações e atuação, acabou exercendo cargos políticos. Já Caetano age diferente, pois sua atuação política está na música que ele faz, na sua produção intelectual escrita, nas referências que faz em entrevistas ou em shows etc. Mas ambos nunca deixaram de aliar experimentalismo artístico e participação social.

 

IHU On-Line – Em seu livro “Tropicália alegoria alegria” (Divinópolis: Kairós, 1979) consta uma afirmação de Luiz Tatit apontando que “o Tropicalismo deixou estilhaços em diversos lugares da cultura brasileira”, os quais ainda estão vívidos. Nas obras de Caetano e Gil, onde é possível verificar essas fagulhas atualmente?  

Celso Fernando Favaretto – É difícil citar pontualmente essa influência na obra deles, mas o fato mais importante é que o trabalho dos tropicalistas liberou os artistas para pesquisas que até então eles não ousavam fazer. Mais ainda, o Tropicalismo abriu um campo social de audição de música até então interditado. Por exemplo, naquele tempo se considerava que o rock e a Jovem Guarda produziam músicas alienadas, não nacionalistas etc. O Tropicalismo quebrou essas alegações muito falsas porque não condiziam com as condições culturais do Brasil e do mundo naquele momento de fluxo de informações culturais e artísticas de todas as partes e de crítica à concepção estanque de gêneros de música e de arte em geral. Isto é que perdurou! 

Depois do Tropicalismo os músicos se sentiram autorizados a fazer o que tinham necessidade e vontade e que não tinham espaço para fazer. Por exemplo, a indústria fonográfica não aceitava música experimental, tanto era assim que, mesmo depois do Tropicalismo, músicos como Jards Macalé  e Walter Franco  — só para citar dois, que continuaram a fazer uma experimentação na linha tropicalista — nunca tiveram realmente oportunidade clara de fazer discos que recebessem mais apoio, que fossem distribuídos nacionalmente em grande escala. Aí a questão é da relação entre mercado e experimentação. 

Como se sabe, a experimentação geralmente não vende. Não pense que os Tropicalistas venderam muito no tempo do Tropicalismo, porque a audição deles era muito difícil, mas seu trabalho serviu para abrir as portas para muitas experimentações musicais e outras tentativas que vieram logo depois, como eu citei, Walter Franco e Macalé, ainda Luiz Melodia , João Bosco  e tanta gente que se desenvolveu depois de uma maneira muito singular. 

Esses artistas não apareceriam com facilidade, ou talvez fosse impossível que eles surgissem se o Tropicalismo não tivesse aberto as portas da seguinte maneira: ao mesmo tempo afirmando a experimentação como sendo também um domínio próprio da música popular brasileira e mostrando que a música popular do Brasil não era só o que foi produzido nos anos 1920, como Noel Rosa e outros; nem eram apenas os ritmos que vieram depois por influência do mambo e do baião etc.; nem só era a música folclórica das diversas regiões do país, mas também incluía aquilo que artistas cultos faziam conjugando diferentes tradições culturais. Isso é que possibilitou a emergência de uma produção musical, que também teve a influência de outras áreas artísticas, muito grande a partir dos anos 1970 até hoje.

 

IHU On-Line – De que forma a canção “Alegria, Alegria”, de Caetano Veloso, representa uma das marcas da atividade dos tropicalistas. Por quê? 

Celso Fernando Favaretto – Essa foi a primeira música que Caetano apresentou no festival da TV Record. É uma canção que revela que estávamos vivendo um momento histórico de abertura nos comportamentos, de vida muito marcada pelo consumo, pelas referências do rock, mas principalmente marcada por muitas informações que vinham pela imprensa, pela banca de jornal como ele diz, ainda pelo cinema etc. Então é uma música muito ágil e muito bonita que contempla esses diferentes aspectos da abertura cultural que se estava vivendo. No cerne dessa canção tem uma referência clara à situação brasileira. 

Caetano fala, num certo momento, “no coração do Brasil”, quer dizer: tudo isso está acontecendo no país como um todo. Há uma crítica política interna porque a música é leve, meio irônica inclusive, vai narrando fatos e nomes e, ao fazer essa narração, diz que tudo isso está compondo naquele momento o Brasil. É uma música muito instigante, bonita, simples e que foi cativante no momento e até hoje envolve pelo seu ritmo bastante rápido. É como se cantássemos sempre “Alegria, alegria” com um sorriso nos lábios. 

 

IHU On-Line – De que forma a canção “Domingo no parque”, de Gilberto Gil, emprega a prática antropofágica oswaldiana? 

Celso Fernando Favaretto – Essa música surgiu no mesmo festival da Record em que é lançada “Alegria, alegria”. Ambas foram premiadas: Se bem me lembro, “Domingo no parque” ficou em terceiro lugar e “Alegria, alegria” em quarto. “Domingo no parque” é uma música altamente experimental, só que é diversa da do Caetano. Em meu livro, por exemplo, eu mostrei que enquanto “Alegria, alegria” poderia ser comparada com um filme de Godard , isto é, um filme sem cortes, em continuidade, “Domingo no parque”, ao contrário, é uma música toda construída, como o cinema do Eisenstein . Então, é uma canção feita pela montagem de diversas cenas, gerando a história de um amor. O mais importante é a maneira como a música se desenvolve, ela vai se construindo aos poucos em um ritmo meio alucinante, que vai produzindo uma figuração, como se estivéssemos vendo alguma coisa acontecer, como um cinema na nossa frente. Essa introdução do cinema vai ser fundamental na música do Caetano e do Gil desde então.

Essa música do Gil não se contrapõe à do Caetano, representa o outro lado dele. “Domingo no parque” é experimental, construtivista como “Alegria, alegria”, só que enquanto Caetano chama a atenção para o ritmo de vida da sociedade de consumo, Gil está atentando para o outro lado da história e da nossa sociedade: o modo de vida popular.

Sobre a sua pergunta, todo o Tropicalismo é oswaldiano e antropofágico, porque ele vai integrando referências, sob a forma de citação, de música, de literatura, de cinema, de teatro... ele integra. 

 

IHU On-Line – De que maneira a ditadura militar se configurou como uma força reativa à liberdade que emergiu na década de 60 e se materializou no Brasil com os tropicalistas?

Celso Fernando Favaretto – Mais do que reativa, a ditadura foi reacionária. O golpe de 1964  interrompeu uma produção cultural, educativa, social e política que vinha se desenvolvendo numa tentativa de pensar um Brasil mais livre, mais liberado dos mecanismos internacionais de controle, um país menos desigual, que deveria fazer reforma fiscal e agrária. Então, foi interrompido esse processo que vinha se configurando com dificuldades desde os anos 1950 de diversas maneiras. 

Nesse sentido, o golpe militar foi terrível porque parou os desenvolvimentos da cultura brasileira de uma maneira drástica, não só porque instaurou a censura, mas também porque efetuou prisões, torturou, exilou etc. A partir de 1965, houve uma retomada da análise do que havia sido a cultura brasileira nos anos anteriores ao golpe, as influências que ele provocou, e novas táticas e estratégias foram sendo construídas entre 1965 e 1968. 

Em 1968, ao perceber que estas novas táticas e estratégias culturais estavam produzindo resultado e estabelecendo novamente uma conscientização muito grande da estagnação que o regime ditatorial havia provocado, o governo militar reage fortemente às criações artísticas, como as tropicalistas, as do Teatro de Arena , do Teatro Oficina , do cinema de Glauber Rocha  e a tantas outras da época. Os militares reagem, e ao produzir o AI-5 enrijecem ainda mais a censura, a prisão, o exílio e a tortura. Isto realmente foi um golpe dentro do golpe. 1964 já havia sido brutal, mas 1968 foi duplamente brutal.■ 

 

Leia mais...

- Tropicalismo, uma revolução? Entrevista especial com Celso Fernando Favaretto publicada na Revista IHU On-Line nº 411, de 10-12-2012.

Últimas edições

  • Edição 552

    Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

    Ver edição
  • Edição 551

    Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

    Ver edição
  • Edição 550

    Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

    Ver edição