Edição 462 | 30 Março 2015

MATHEUS NIENOW

close

FECHAR

Enviar o link deste por e-mail a um(a) amigo(a).

Matheus Nienow

Matheus Nienow, 19 anos, natural de Bom Princípio (RS) – acadêmico de Ciências Econômicas na Unisinos. Estagiário no Observatório da realidade e das Políticas Públicas do Vale do Rio dos Sinos – ObservaSinos do Instituto Humanitas Unisinos – IHU.
Foto: Acervo Pessoal

Creio em...

Crer. Apenas uma palavra, mas muitas opções. Crer em algo é uma espécie de “eu sei que isso pode acontecer — mesmo não tão facilmente — mas eu preciso crer”. Uma simples discordância do crer nos proporciona um conflito imenso, assim como simples ações são baseadas na crença de alguém em algo. Eu creio em quê? Naquilo que parece improvável aos olhos alheios? Ou naquilo que eu não posso considerar provável (do verbo provar)?

Eu basicamente creio que a vida deve ser priorizada, antes de qualquer outro aspecto da sociedade. Que a vida seja o centro de nosso mundo, uma espécie de biocentrismo, não só a vida humana, mas como todas as outras das quais dela dependem e na qual a vida humana é fundamentada. Tudo deve e pode girar ao redor da existência da vida, da crença na vida. Mas, qual o motivo de eu crer na vida? O simples fato de eu coexistir em um mundo em que vejo pessoas que simplesmente creditam a morte antes da vida como crença? As crenças só existem porque alguém crê no contrário?

Eu creio que pequenos gestos em prol da vida, por exemplo, possam fazer uma imensa diferença, mesmo em ambientes onde estes gestos são tão incomuns. Em cenários onde essa possibilidade se tornou intangível e intransponível. Ajudas que possam refletir na reflexão de um próximo e de suas respectivas crenças, porque estas também são moldadas conforme a sociedade ao seu redor é moldada.

Creio que é possível melhorar o mundo, transformá-lo cada vez mais em um ambiente sustentável, em que a tecnologia — muitas vezes vista como vilã — é o principal fator possibilitador disso. Podemos tornar este mundo mais justo, possibilitando a igualdade de direitos em uma visão igualitária de diversas sociedades. 

Crer, em alguns casos, também é sinônimo de acreditar. Com isso em mente, de fato eu acredito em muitas concepções. Acredito que a individualidade é um fator condicionante da riqueza de uma sociedade, já que esta possibilita a discussão de assuntos até então inimagináveis pela linha geral de ser. Além disso, acredito que o nosso cotidiano nos traz ensinamentos a todo momento. Ele nos coloca em uma caixa, chacoalha-a e nos devolve para o seu exterior, estejamos ou não preparados para isso. Sempre fomos clientes do cotidiano e pouco o creditamos. 

Eu acredito em pessoas. Sou ingênuo por isso? Talvez. Mas acreditar em pessoas, crer nelas faz bem, já que isto cria outro tipo de chão em que é possível pisar — nesse ponto nem penso que há necessidade de entrar na questão do quão firme esse chão é ou pode ser. Acredito no futuro, que este possa criar um ambiente habitável para todos os seres. Não deixo de acreditar no passado, ao passo que este nos orienta, como uma bússola, à direção que pode ser seguida — não deixa de ser fato também que às vezes a bússola é falha, ou pelo menos aparenta ser. 

Crer — para mim — é um pouco de tudo que já foi aqui dito, mas também é muito mais. As crenças formam mundos particulares e originais. Em linhas gerais, eu creio que é possível criar um ambiente em que sejam respeitadas as mais básicas características do ser humano, cor/raça, sexo e idade, por exemplo. Um lugar em que haja liberdade para agir e ser um ser moldado não só pela sociedade, mas conforme as perspectivas próprias.

Creio na verdade. Creio na justiça. Creio na tolerância. Creio na paz. Creio na ciência. Creio nas diversas igualdades. Creio no amor. Creio na solidariedade. Creio no melhor das pessoas. Crer aparenta ser fácil. 

 

Espero que...

Espero que pelo menos algumas das minhas crenças possam se concretizar, que a vida seja vista como prioridade e a igualdade seja uma realidade mundo afora. Espero poder participar e ser ator deste ciclo de crescimento da sociedade e não apenas de um crescimento socioeconômico — geralmente desigual. Espero que alguns paradigmas existentes na sociedade sejam quebrados — ou pelo menos transformados — e que o debate seja promotor de novas experiências que conduzam a nossa realidade a um rumo mais igualitário e compreensivo. 

Necessito participar de grupos que compreendam o valor da vida e o incentivem, que o priorizem a fim de poder trazer um mundo mais justo às pessoas que realmente necessitam deste mundo novo. Espero fazer parte disso. Mas esperar é uma problemática no mundo, já que este não segue roteiros, e assim o que eu espero se torna um pouco mais superficial a cada virada de página.

Entretanto, o crer e o esperar se tornam cônjuges em grande parte das nossas objeções. Espero poder realizar meus objetivos que eu tenho traçado para parte da minha vida — desde lazer até estudos — mas, ao mesmo tempo, creio que eu possa realizá-los. É uma ligação, que tende a me confundir no que eu realmente creio e consequentemente espero para o meu futuro.

Em esperanças pessoais, espero poder realizar intercâmbios culturais que me enriqueçam para que eu possa compreender as realidades de nosso cotidiano. Espero conciliar trabalho com lazer — fato que hoje é considerado de difícil execução por muitas pessoas — e poder conciliar isto de forma a participar da sociedade.

Espero o futuro, que este como qualquer outro seja um sinal de esperança, um sinal verde para aqueles que até o presente poucos sinais verdes puderam presenciar ou deles fazerem parte — sejam estes sinais maduros ou não. Aguardo pelo desuso da palavra tolerância, ao passo que a sua antônima: a intolerância, seja extinta. Afinal, os opostos não se atraem? Espero que, neste caso, eles se atraiam ao desuso.

Últimas edições

  • Edição 552

    Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

    Ver edição
  • Edição 551

    Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

    Ver edição
  • Edição 550

    Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

    Ver edição