Edição 461 | 23 Março 2015

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Redação

A IHU On-Line apresenta três notícias publicadas no sítio do Instituto Humanitas Unisinos - IHU no período de 16-03-2015 a 20-03-2015 que tiveram repercussão nacional e internacional.

A Nova República acabou, diz filósofo Vladimir Safatle

Centenas de milhares de pessoas são esperadas em protestos contra a corrupção e o governo Dilma por todo o país neste domingo. Dois dias antes, milhares de manifestantes foram às ruas de várias cidades defender o governo democraticamente eleito. Entre defensores da situação e da oposição há uma disputa pelo poder, e o país parece enfrentar um teste de estresse político inédito, como avaliou o cientista político André Singer. Para o filósofo Vladimir Safatle, entretanto, o momento é muito pior do que as pessoas querem admitir, mas não estamos passando por uma simples disputa entre PT e PSDB, pois o problema é mais amplo e atinge todo o sistema político nacional. "Nesse momento da história, é necessário ter claro o fato de que a Nova República acabou, morreu", disse.

Safatle é professor livre-docente do Departamento de Filosofia da USP (Universidade de São Paulo). Segundo ele, nem mesmo durante a ditadura houve uma depressão sociocultural como a atual, e as manifestações populares são um sinal do esgotamento nunca antes visto do modelo político — um problema que vai além da corrupção e da crise de representatividade. “Trocar o PT por outro partido não muda nada. É como trazer Dunga de volta à seleção brasileira após a derrota na Copa.”

 

A mais maldita das heranças do PT

O maior risco para o PT, para além do governo e do atual mandato, talvez não seja a multidão que ocupou as ruas do Brasil, mas a que não estava lá. São os que não estavam nem no dia 13 de março, quando movimentos como CUT, UNE e MST organizaram uma manifestação que, apesar de críticas a medidas de ajuste fiscal tomadas pelo governo, defendia a presidente Dilma Rousseff. Nem estavam no já histórico domingo, 15 de março, quando centenas de milhares de pessoas aderiram aos protestos, em várias capitais e cidades do país, em manifestações contra Dilma Rousseff articuladas nas redes sociais da internet, com bandeiras que defendiam o fim da corrupção, o impeachment da presidente e até uma aterradora, ainda que minoritária, defesa da volta da ditadura. São os que já não sairiam de casa em dia nenhum empunhando uma bandeira do PT, mas que também não atenderiam ao chamado das forças de 15 de março, os que apontam que o partido perdeu a capacidade de representar um projeto de esquerda — e gente de esquerda. É essa herança do PT que o Brasil, muito mais do que o partido, precisará compreender. E é com ela que teremos de lidar durante muito mais tempo do que o desse mandato.

 

A limonada que se tira de um domingo azedo: reforma política já

Nos movimentos de rua do domingo (15-03-2015), é fato que os setores oposicionistas neoliberais e conservadores marcaram uma vitória política ao conseguirem organizar uma manifestação significativa em várias cidades e de grandes proporções, especialmente em São Paulo, com cerca de 210 mil participantes ao longo do dia, segundo a métrica do Instituto Datafolha. É bastante gente, sem dúvida, mas minorias barulhentas não se sobrepõem à maioria silenciosa da nação. Essa maioria silenciosa que ficou em casa ou escolheu fazer outras atividades no domingo — são mais de 200 milhões de brasileiros — é composta em grande parte de apoiadores ao governo, ainda que criticamente. Outra parte votou na oposição e votaria de novo, mas, em sua grande maioria, respeita o resultado das urnas e discorda de aventuras que levem a retrocessos, tanto nas liberdades democráticas, duramente conquistadas pela sociedade, como também nos avanços sociais e econômicos dos últimos anos. Foi para esta maioria silenciosa, não radicais, que os ministros da Justiça, José Eduardo Cardozo, e da Secretaria-Geral da Presidência da República, Miguel Rossetto, falaram em entrevista coletiva, no noite do domingo.

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