Edição 315 | 16 Novembro 2009

Perfil - Christoph Theobald

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Greyce Vargas e Juliana Spitaliere | Tradução Benno Dischinger

Ao participar do Simpósio Narrar Deus numa sociedade pós-metafísica, Christoph Theobald concedeu entrevista à IHU On-Line sobre sua trajetória, seus posicionamentos, medos e sonhos.

Teólogo jesuíta, autor da obra, em dois volumes, Le christianisme comme style (O Cristianismo como estilo), Paris: Cerf, 2007, redator-chefe da revista Recherches de science religieuse e colaborador na revista Études, Christoph Theobald foi influenciado pela educação familiar cristã e pela experiência com os descrentes a ingressar na religião. Em uma época em que ainda considera a Igreja como demasiadamente abstrata, sonha com as mudanças na estrutura eclesial e em privilegiar a comunidade em sua vivência cristã ou humana concreta. “A Igreja precisa atuar terra a terra, bem próxima da comunidade em sua vida cristã real. Penso que Deus dá a cada comunidade aquilo de que ela necessita para viver e disso decorre que se aborde a complexidade do ministério na vida da Igreja”, afirma.

Primeiros movimentos

Christoph Theobald nasceu em Colônia, na Alemanha, e lá realizou seus estudos secundários, primeiro em um seminário, depois na Universidade de Bonn. Foi para a França em 1970, onde começou seus estudos no Instituto Católico de Paris, optando pela teologia. Lá, conheceu os jesuítas e ingressou na Companhia de Jesus em 1978. Formado em teologia, foi nomeado professor de Teologia Sistemática, ensinando essa ciência desde 1980.

Durante a infância, vivenciou de perto as durezas da Segunda Guerra Mundial.  O pai provinha de uma família de agricultores. A mãe era pianista. A família sofreu muito neste período: Theobald perdeu dois irmãos nos bombardeios, e a mãe sobreviveu miraculosamente. O encontro com a descrença em Deus foi algo que o marcou profundamente durante os estudos secundários. A experiência foi bastante dura. “Éramos apenas dois ou três que acreditavam em Deus e praticavam a religião e, preocupados com isso, procurávamos então saber por quê”, lembra Theobald.

A religião sempre esteve presente em sua vida. O pai era católico, e a mãe, luterana. “Dessa forma, a educação recebida em casa me marcou bastante, mas tive também um encontro muito forte com os não crentes”, frisa. Apesar ter uma educação católica tradicional, encontrou-se de forma contrastante com pessoas que não acreditavam em Deus.

A escolha pelos jesuítas

Segundo Theobald, foram essas duas influências que o conduziram à Companhia de Jesus: a educação familiar cristã e a experiência perturbadora com os descrentes. Outro aspecto também contribuiu para a decisão. Fazendo seus estudos de teologia, teve a bela experiência do encontro com a teologia de São Paulo. “Ele foi, para mim, a figura bíblica que me identificou com a verdade do Evangelho. É, sem dúvida, um grande teólogo e, na França, encontrei-me com a amplitude e grandeza de seu pensamento. Isso me marcou profundamente”, afirma.

Sobre o senso de perfeição, Theobald diz que, no estilo da perfeição cristã, a coisa mais importante é a disponibilidade. “Amo muito a dimensão da abertura interior ao sobrenatural, ao que se situa além do mundo exterior. É preciso maravilhar-se com aquilo que vem do alto, e esta disponibilidade precisa ser muito bem trabalhada”, ressalta Theobald.

O medo e a teologia

O problema, para o teólogo, está em cada um se dar conta em sua vida sobre o que é este medo e o que realmente incute medo. Em sua vida, ele fala sobre o medo no campo teológico. “Temo a demasiada acomodação na Igreja, a falta de audácia no anúncio do Evangelho. Um sério problema é que, numa sociedade como a nossa, os temas da religião se tornaram demasiado abstratos, faltando demais a proximidade com o povo, com as pessoas em sua vida real. Temo que a Igreja perca essa proximidade. Sem isso, as pessoas perdem o gosto do encontro com o Outro”, conta.

No campo pessoal, Theobald teme não ser suficientemente humano no testemunho da fé, no trabalho com as pessoas em sua diversidade. “É preciso saber converter. Isso é difícil e é justamente a fé que ajuda a vencer este medo e a dar corajosamente o próprio testemunho” destaca.

Sonhos

Muitos sonhos circundam a vida de Theobald. Entre eles está o de transformar seu prazer em elaborar um amplo trabalho em teologia sistemática, ao qual dedicará o decurso de sua vida. O nó desta tendência apareceu em sua conferência. “Pretendo buscar a maneira correta de passar esta teologia sistemática de maneira mais plena, mas abrangente. O título até já está esboçado. Seria: ‘A santidade como mistério do mundo’. E este sonho é muito particular. É direcionado à Igreja da França”, revela.

Segundo ele, a estrutura eclesial precisa mudar, já que a Igreja ainda é demasiado abstrata e fica totalmente distante do povo. Para ele, precisamos urgentemente privilegiar a comunidade em sua vivência cristã ou humana concreta. “A Igreja precisa atuar terra a terra, bem próxima da comunidade em sua vida cristã real. Penso que Deus dá a cada comunidade aquilo de que ela necessita para viver e disso decorre que se aborde a complexidade do ministério na vida da Igreja” afirma Theobald.

A política francesa atual

Com relação a Sarkozy, o teólogo diz que há uma incrível defasagem entre as promessas feitas pelo atual governo, e o que realmente tem sido realizado deixa muito a desejar. Além disso, ele explica que a grave crise econômica foi, inicialmente, sobretudo bancária, mas se transformou num sério problema econômico, político e social. Sua superação, segundo ele, exige um esforço duríssimo e é muito difícil administrar essa crise. Outra questão muito séria para Theobald é o endividamento que põe perigosamente em jogo as gerações futuras. “Sarkozy fez muitas promessas, iniciou com muita rigidez, mas não está conseguindo dar a volta por cima, gerando um clima generalizado de insatisfação. Não está aparecendo a figura equilibrada do político. Ele é, em todo o caso, um homem de direita”, critica.

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