Edição 315 | 16 Novembro 2009

A era da convergência digital: Melhores condições para financiamentos ou avanços na qualidade das informações perpassadas

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Maíra Bittencourt

Coluna do grupo de pesquisa CEPOS

Falar em convergência de mídias pode parecer um planejamento do futuro ou possibilidades para serem alcançadas, vislumbrando o que há de vir com a televisão digital. Porém, ela já vem acontecendo.

A abordagem da convergência procede acerca das questões que integram redes, como a informática, as telecomunicações, o ramo da produção de informações e o audiovisual. Convergência é um conceito antigo que assume novos significados; ela refere-se a um processo, e não a um ponto final.

Envolve as transformações da maneira de produção, transmissão e também de consumo dos produtos comunicacionais. Refere-se também ao processo de penetração de uma mídia em outras. Sendo assim, desde as primeiras experiências de Internet isso ocorre.

Outras mídias apropriaram-se da web como forma de manter audiência e aumentar vendas. Cabe pensar a Internet como espaço de interação e mediação entre os vários campos que coexistem nas sociedades. O jornal impresso, por exemplo, apareceu na rede, primeiro, adotando as suas características tradicionais, porém sendo online. Contudo, com o passar do tempo, necessariamente acumulam especificidades. Na questão comercial, a repetição dos modelos também acontece, ele leva para web os mesmos padrões de negociações obtidas na versão de papel. A assinatura, publicidade e até mesmo o sistema de classificados passam a coexistir na Internet. Entretanto agregando valores, e não sendo uma troca, pois as versões impressas continuam.

Com os outros meios de comunicação também ocorre dessa maneira. Isso porque, através da Internet, os produtos comunicacionais podem tomar dimensões mundiais, tanto para quem a assiste como para os investimentos. O que se apresenta é uma tendência ao global nos diversos níveis de interesse, por exemplo, econômicos, políticos e sociais, visto que gera maior tempo e probabilidade de aplicações por parte empresarial, tanto pela facilidade e mobilidade como pela audiência espalhada por horários variados.

A Internet é o exemplo clássico de convergência, entretanto, outros meios de comunicação estão incorporando - e a cada dia mais -, em suas rotinas de trabalhos, outras mídias. É comum ligar a televisão e ouvir referência a algum site ou jornal impresso, porém, atualmente, o processo de convergência vem sendo ainda mais profundo.

Parece ter virado rotina o programa Fantástico, da TV Globo, exibir os vídeos mais visitados na web durante a semana. Diversos audiovisuais, de amadores e profissionais, chegam ao programa dominical como uma experiência que chamou atenção nos últimos dias. A estratégia adotada é que a partir dos materiais captados se apresente a temática e aprofunde o assunto. Uma maneira de não deixar de mostrar aquilo que anda fazendo sucesso em outros veículos de comunicação. Contudo, como, muitas vezes, os conteúdos desses vídeos têm baixo grau de interesse, são agregados aspectos para torná-los mais atrativos.

No último domingo, o programa exibiu o vídeo sucesso de acessos no portal Terra, durante a semana anterior, em que Peter Hitchener, um jornalista australiano, aparece na bancada do jornal das 18 horas do Canal “9 News” em Melbourne, quando é surpreendido por um pássaro andando na imagem de fundo do telejornal que é capturada por uma câmera externa dedicada à captura de imagens panorâmicas da cidade.

Uma gaivota gigante foi motivo de 69.905 acessos no portal e, consequentemente, a televisão seguiu a onda. Para atrair mais as atenções, além da exibição do material, o programa televisivo mostrou como aconteceu o fato. Dando enfoque à produção televisiva com a utilização de Croma Key (tecnologia capaz de trocar um cenário de cor sólida por imagens captadas) e discorrendo sobre o estilo de lente utilizada naquela filmadora (a grande angular) que amplia o campo de visão e permite captar imagens panorâmicas devido ao aumento do ângulo da lente e à distância focal o que, nesse caso, deu um efeito gigantesco ao pássaro que passou muito próximo da máquina.

É a convergência entre televisão, Internet e novamente televisão. Um exemplo, entre tantos outros de como vem ocorrendo esse processo. Todavia, vale o questionamento do quanto ele favorece a difusão audiovisual. Em outras palavras, de que maneira essa tecnologia disponível para convergir meios vem auxiliando no processo de divulgação de fatos ou de melhorias em favor do telespectador?

A convergência, por vezes, é motivada principalmente pelo valor do capital. Em busca da garantia de telespectadores e, por conseqüência, de financiamento para seus produtos, os veículos buscam se inserir em mercados diversos. É como uma busca incessante pelo que chama mais atenção. Se os olhares estão para Internet, não basta lutar por esse espaço, vale também incorporá-lo na rotina antes estabelecida. Quando o programa busca trabalhar em cima de um vídeo que teve quase 70 mil espectadores, ele busca garantir também a sua audiência para continuar contando com seus financiadores e dessa forma garantir seu posto.

Não me refiro a um problema que venha acontecendo, mas a um ponto de reflexão. Há uma tendência em pensar que o tecnológico traz mais condições para a produção informacional, entretanto, nem sempre esse é o fator condicionante, vale pensar no motivo gerador da produção para compreender as questões abordadas.

Maíra Bittencourt: Jornalista, mestranda em Ciências da Comunicação na Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos, bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e pesquisadora do Grupo de Pesquisa CEPOS (apoiado pela Ford Foundation). Graduada em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo pela Universidade Católica de Pelotas. E-mail: <Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.>.

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