Edição 309 | 28 Setembro 2009

IHU Repórter - Jacinto Schneider

close

FECHAR

Enviar o link deste por e-mail a um(a) amigo(a).

Graziela Wolfart

Uma pessoa que está sempre querendo fazer o melhor, o que aprendeu com a mãe desde pequeno. Sua meta nunca foi em torno de ambições de crescimento pessoal e profissional, e sim fazer bem feitas as suas tarefas. Essa sempre foi sua marca. E cresceu na vida dessa forma. Estamos falando de Jacinto Schneider, gestor administrativo do Instituto Humanitas Unisinos – IHU e responsável pelo setor de Ação Social e Filantropia da Unisinos. Leia, a seguir, os pontos mais marcantes da história de vida deste homem que se dedica a ajudar a construir a Unisinos há 33 anos.

Origens – Nasci na localidade de Boa Vista, que hoje pertence ao município de Poço das Antas, mas na época era ainda pertencente a Montenegro. Tive uma infância muito rica em termos de criatividade e divertimento, mas, ao mesmo tempo, foi um período complicado em relação à dificuldade financeira. Outro obstáculo era a distância para ir ao colégio. Somos entre onze irmãos, oito mulheres e três homens, e a gente tinha que trabalhar na roça para garantir o sustento da família. Aos sete anos, eu tinha três irmãs mais novas do que eu, e ficava em casa para cuidar delas, enquanto que o pai e a mãe iam trabalhar na lavoura, plantando, capinando. Perdi o pai quando eu tinha 20 anos. A mãe e todos os irmãos ainda são vivos. Somos uma família muito unida.

Estudos – Comecei a estudar lá em Boa Vista, aos sete anos, e tinha que caminhar três quilômetros para chegar à escola. A gente ia de pés descalços todo o percurso e quando chegava lá, lavava os pés no rio e colocava um chinelinho para entrar na sala de aula. Muitas vezes eu ia a cavalo. A partir do segundo ano, estudei na Escola Estadual Valetin Schneider, que abriu na localidade. Depois de concluir o quinto ano do primário, aos 13 anos de idade, fui para o Colégio Estrela da Manhã, localizado na cidade de Estrela, RS. Era uma escola de formação de professores em formato de internato. Eu sempre gostei de estudar. Percebia que tinha algo a mais na vida e que eu queria descobrir. Terminado todo o ensino fundamental, voltei para a casa dos pais, e comecei a cursar o ensino médio em Salvador do Sul, no Colégio Santo Inácio. Ia todos os dias para lá de ônibus. De manhã eu trabalhava na roça e de tarde ia para o colégio. Muitas vezes, eu fazia o trabalho de cobrador para pagar a minha passagem. Para estudar valia a pena tudo isso. Em função da minha mudança para São Leopoldo, que já vou contar como foi, cursei o segundo e o terceiro ano no Colégio Pedro Schneider, em São Leopoldo. Fiz o vestibular na Unisinos para Matemática, pois meu objetivo ainda era obter a licenciatura e voltar para o interior como professor. Depois de quatro semestres, desisti e pedi transferência interna para o curso de Administração de Empresas. Me formei em 1989. Também fiz o curso de Ciências Contábeis, só não peguei o certificado porque não entreguei o trabalho de conclusão, apesar de ter feito todas as disciplinas. 

Desafio – Uns dias antes de entrar no internato, aos 13 anos, quebrei o braço e tive que ir mesmo assim. Lá a gente tinha que se virar sozinho, ninguém dava muita atenção. Depois de duas ou três semanas sentindo muita dor no braço, pedi para ir para casa, para dar uma olhada no osso quebrado, mas o diretor responsável pelo internato não me deixou ir. Só na Páscoa eu consegui ver meus pais. E estava lá desde fevereiro. Quando cheguei em casa, a primeira coisa que minha mãe me perguntou foi: “como está teu braço?”. Eu respondi que nem sabia. Ela abriu a tala e viu na hora que meu braço estava completamente torto. Minha mãe até quis me levar no médico para quebrar o braço de novo, a fim de colocá-lo no lugar, mas eu não deixei mais. Já tinha passado muita dor. Por essa razão perdi um pouco do movimento de dois dedos da mão esquerda. Isso me marcou muito.

Trajetória na Unisinos – Em 1976, ainda estudando em Salvador do Sul, recebi a ligação do meu irmão Eusébio, que já trabalhava aqui na Unisinos, perguntando se eu não me interessava em vir trabalhar aqui, pois havia surgido uma vaga. Fiz o teste e no dia seguinte já recebi a notícia de que eu estava empregado. Mudei-me para São Leopoldo e morava com meu irmão e outros amigos em uma república de estudantes. Comecei a trabalhar no setor de arquivo da universidade. Dois anos depois, além de trabalhar no câmpus eu tinha que ir para o Colégio Anchieta, em Porto Alegre, onde a Unisinos tinha aberto um espaço para o curso de Direito e para o antigo “básico”. Depois, comecei a trabalhar nos postos de atendimento, que foram criados a partir do crescimento da Unisinos. Trabalhei em todos os centros do campus. E, depois de um tempo, passei a coordenar os postos, onde comecei a me aproximar do trabalho com as matrículas. No dia da minha formatura na graduação, recebi a proposta para assumir o setor de matrículas da Unisinos. Trabalhei ali até o final de 2001, quando fui convidado a assumir a gerência administrativa do centro de ciências humanas, junto com o padre José Ivo Follmann e a professora Berenice Corsetti. E, desde 2004, aceitei o convite feito pelo padre Inácio Neutzling e pelo padre Marcelo Aquino para trabalhar no Instituto Humanitas Unisinos, como gestor administrativo. E também, no mesmo ano, assumi a ação social da Unisinos, todos os projetos sociais e a filantropia da universidade, que exerço até hoje.

Família – Conheci minha esposa, a Denise, em Sapucaia, onde comprei um apartamento, que ficava em frente à casa dos pais dela. Eu era amigo do pai dela e como ela é dez anos mais nova do que eu, a conheci ainda criança. A Denise é formada em Letras pela Unisinos e é professora da rede municipal de ensino. Somos casados há 20 anos e temos dois filhos. O mais velho, Lucas, tem 18 anos e estuda Engenharia Civil aqui na Unisinos, e o Mateus tem 11 anos e cursa a sexta série do ensino fundamental. São dois meninos fantásticos, estudiosos, esportistas, me acompanham no futebol e eu os acompanho também. Enfim, a cada dia que passa a família vai melhor.

Futebol – Gosto de todos os tipos de esporte, mas jogo futebol de salão todas as semanas. É o esporte que mais me mantém unido com meus filhos.

Lazer – Além do futebol, mexer na terra, cuidar das flores, do jardim da minha casa, que construí nos anos 1990.

Sonho – Ver o mundo mais ético, mais limpo, acabar com a corrupção. Pessoalmente sou uma pessoa realizada. Claro que sonho em ver meus filhos formados, felizes em suas escolhas pessoais e profissionais. Outro sonho é poder viajar mais, conhecer o mundo.

Política – Ainda temos que crescer muito, apesar de já termos crescido bastante. Minha grande decepção é em relação à falta de ética, à falta de responsabilidade e à corrupção. Se nosso governo avançou muito no lado social, vejo que evoluiu em relação à corrupção também. Tomara que eu esteja enganado. A pobreza, no meu ponto de vista, também está aumentando.

Unisinos – É minha terceira família. A primeira é dos meus pais e irmãos e a segunda é a que estou construindo com minha esposa e filhos. A Unisinos me acolheu em 1976, e se eu não tivesse conseguido essa vaga não sei se teria cursado uma faculdade. Nem sei para onde eu teria ido. Sou sempre grato ao meu irmão que me chamou para essa oportunidade. Sempre me senti em casa na Unisinos. Todo mundo gosta de estar aqui.

Instituto Humanitas Unisinos – Acompanho o IHU desde a sua criação, e mais de perto desde 2002. Só percebi a real importância do Instituto quando passei a integrar seu corpo de colaboradores. Ele é importante para a Unisinos, por instigar e trazer novidades para a instituição, principalmente nos assuntos ligados à área social, ambiental, aos temas do trabalho, das mulheres. Temos focado isso muito bem, e a caminhada ainda é longa. Se o IHU não existisse mais, abriria uma lacuna muito grande dentro da Unisinos.  

Últimas edições

  • Edição 552

    Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

    Ver edição
  • Edição 551

    Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

    Ver edição
  • Edição 550

    Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

    Ver edição