Edição 307 | 08 Setembro 2009

Convergência tecnológica: intensificando a necessidade por uma educação para as mídias

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Paola Madeira Nazário

Coluna do grupo de pesquisa CEPOS

A discussão conceitual acerca da natureza dos serviços de comunicações não é exclusividade do momento atual. Ela está presente em cada inovação que o setor apresenta. Desde a regulamentação do rádio, do telefone e da televisão foram debatidos temas como segurança, soberania nacional e liberdade de expressão, fazendo-se presente também o embate de forças econômicas e políticas, o que culmina num contexto normativo específico dizendo respeito ao momento político-administrativo e econômico de cada época.

Com o advento da digitalização e a obsolescência nas normativas legais para o audiovisual, percebo como primordial, a releitura de sua regulamentação e a criação de incentivos e ferramentas que construam uma massa de cidadãos críticos quanto às problemáticas dos meios de comunicação no Brasil. Não pretendo aprofundar, nesse artigo, sobre os legítimos argumentos por uma nova regulamentação que incida nas estruturas dos meios de comunicação social do país, principalmente nesse atual período de convergência tecnológica em que as demarcações legais para a nova configuração de gestão, produção e distribuição de conteúdos em diversas mídias são elementos que nitidamente requerem novos aparatos legais.

Discutir a regulamentação da mídia nesse texto é demarcar um pano de fundo que nos ajude a pensar sobre a ação da sociedade civil (SC) no processo de participação dos debates para regulamentar a comunicação. Delimitando, avalia-se a SC como ambiente em defesa da cidadania e de suas maneiras de organização em torno de interesses públicos. Focalizando, essa esfera social refere-se às maneiras organizadas de comunicação do mundo em sociedade, com o objetivo de exercer influências sobre os processos político-administrativos e econômicos.

A sociedade civil abrange formas diversas de discussões públicas, que entram em conflito com as lógicas econômica do lucro e política do poder. Assim, é importante o fortalecimento da SC para preservar os espaços ameaçados pelo sistema, não obstante ela represente a complexidade de interesses em disputa. Cabe analisar, no entanto, que as inovações tecnológicas podem ser uma brecha para a construção de um marco legal democrático e pluralista. Esta questão me faz pensar no novo cenário de convergência tecnológica, que, se for moldado de maneira participativa, tanto por parte do Estado quanto da sociedade civil, pode resultar em uma nova normativa sobre as tecnologias de informação no Brasil.

É impreterível que o debate sobre a ação participativa da sociedade nas problemáticas dos meios de comunicação perpasse pelos processos da educação formal que vigoram no Brasil. A integração social e a ampliação do espírito crítico, essencialmente da população estudantil, que, percorrendo as diversas etapas de sua formação, terá condições de maior discernimento na seleção das informações e também de tornar-se elemento multiplicador de uma consciência analítica do ambiente midiático em que está inserida. Nesse sentido, são procedimentos de conformação do cidadão, contribuindo para que possa melhor compreender e movimentar-se ante as novas realidades presentes em seu cotidiano, identificando os distintos conteúdos informativos que lhe interpelam.

Acredito na educação para a comunicação como instrumento para a emancipação dos indivíduos e das classes, e não somente como estruturas de reprodução das desigualdades sociais. Parte desta perspectiva a existência da necessidade de formular uma ciência voltada para a mudança, acreditando na escola como locus privilegiado de formação para a cidadania.

Percebo com nitidez o impacto do avanço tecnológico sobre estruturas e instituições sociais públicas e privadas em nossa sociedade a partir do consumo elevado e a crescente penetração da mídia nos processos democráticos. Diante disso, me pergunto: “Como poderá a escola contribuir para que jovens se tornem usuários criativos e críticos dessas novas ferramentas e não meros consumidores de conteúdos e tecnologias?” Já que esses elementos transcorrem de maneira estruturante no material simbólico e identidade coletiva desses jovens cidadãos.

E é de responsabilidade, dentre outras esferas sociais, que as instituições de ensino fundamental e médio dinamizem a integração dessas novas tecnologias de modo criativo, inteligente e distanciado, no sentido de desenvolver a autonomia e a competência do estudante e do educador enquanto usuários das tecnologias e não como meros receptores. Arrisco a afirmar que a escola é um dos espaços sociais mais importantes e com um grande potencial em cumprir a tarefa de integrar as tecnologias da informação e comunicação ao cotidiano das salas de aula de forma criativa. Isso exige investimentos significativos e transformações profundas em: formação de professores; pesquisas voltadas para a metodologia de ensino; aquisição e acessibilidade de equipamentos, materiais didáticos e pedagógicos.

A implementação estratégica para incentivar uma leitura crítica dos meios de comunicação é uma tarefa que precisa ser abarcada também pelo trabalho científico de pesquisadores da área, tanto na educação quanto da comunicação. Pois a integração das novas tecnologias aos processos educacionais só faz pleno sentido se realizada em uma dupla dimensão: como ferramenta pedagógica e como objeto de estudo.

Somente uma abordagem integradora pode dar conta da complexidade do problema e propiciar uma apropriação ativa e criativa dessas tecnologias pelo professor e pelo aluno. Uma leitura crítica e educacional da mídia é essencial para o exercício da cidadania, sendo esta um instrumento fundamental para a democratização do acesso ao saber e, portanto, de redução das desigualdades sociais.

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