Edição 283 | 24 Novembro 2008

50 anos analisando a sociedade

close

FECHAR

Enviar o link deste por e-mail a um(a) amigo(a).

Graziela Wolfart

A história do curso de Ciências Sociais da Unisinos foi e é escrita por muitos professores e pesquisadores que contribuíram para sua consolidação e sucesso. Para rememorar aspectos dessa trajetória, a IHU On-Line convidou algumas pessoas que participaram dessa história a darem breves depoimentos, inclusive, refletindo sobre o ensino da Sociologia no ensino médio. Confira.

Formar cientistas sociais para compreender e atuar na sociedade

“Raramente a humanidade encontra unanimidades como a de que vivemos hoje uma imensa crise do sistema capitalista globalizado. No entanto, a unanimidade termina quando procuramos compreender suas raízes, a sua dimensão e que alternativas se desenham para superá-la. São questões complexas e profundas como estas que levaram os pensadores das ciências humanas a construir o universo teórico que, no século XIX, deu origem à sociologia como uma das mais significativas Ciências Sociais. Ao completar 50 anos o curso de Sociologia da Unisinos depara-se com alguns desafios significativos, entre os quais, auxiliar professores e acadêmicos da área a compreender e a atuar sobre a atual crise no sentido de contribuir com a sua superação. Especialmente se considerarmos a necessidade de compreender a crise na dimensão de suas manifestações em nosso lugar, ou seja, a área de ação da Unisinos. Esta tem sido a História do curso, formar cientistas sociais para compreender e atuar na sociedade. Ao longo do tempo, os egressos da universidade foram e continuam indo além das fronteiras do Vale, tanto na condição de bacharéis como na de licenciados e, mais recentemente, como pós-graduados. Uma novidade significativa para o curso é de que agora os acadêmicos que cursam licenciatura em sociologia poderão contar com um campo profissional significativamente maior na medida em que as diferentes redes de ensino estão incluindo disciplinas de sociologia no ensino médio. Medida legislativa recentemente aprovada e que poderá auxiliar aos jovens estudantes a compreender melhor a sociedade em que vivem. Logicamente o curso de sociologia da Unisinos, como já fez em outras ocasiões, deverá saber responder aos novos tempos, os tempos de intensa crise do sistema mundial, e as esperanças dos acadêmicos, de hoje e do futuro, que o procuram para não só compreender teorias sociais, mas, também, a agir com e sobre o mundo”. 
Prof. Solon Viola, professor do PPG em Ciências Sociais da Unisinos

 

As Ciências Sociais na Unisinos: 1958 a 2008

“O curso de Ciências Sociais da Unisinos comemora 50 anos de existência. É um motivo importante para festejar, pois se trata de uma data de maioridade acadêmica reconhecida pelos diplomados, por aqueles que hoje nele estudam, pelos professores e pessoal de gestão que atuaram e atuam no curso, pela reitoria da universidade, bem como pelo MEC. Atingir os 50 anos significa também ter passado com êxito por vários desafios. Por exemplo, o do período de início do curso, quando as incertezas relacionadas à estrutura curricular, ao acerto na contratação de professores e à demanda de alunos vacila; a do período de consolidação do curso, que normalmente se dá a partir da quarta ou mais turmas de formandos, mas que se distingue, sobretudo, pela definição da identidade acadêmica (perfil formativo sócio-profissional); a da reestruturação periódica de currículos, com o intento de atualizá-los segundo as demandas do mercado e os desafios contemporâneos de leitura e interpretação do objeto de estudo que é formação das estruturas e dinâmicas sociais. Estes e outros desafios certamente foram bem administrados”.
Prof. Inácio Helfer, professor no PPG em Filosofia da Unisinos

 

Um espaço de ousadia e pioneirismo

“Gostaria de parabenizar a tod@s que durante estes 50 anos contribuíram para a criação e consolidação do Curso de Ciências Sociais da Unisinos. Sinto-me orgulhosa de ter sido aluna desta instituição, atualmente considerada a melhor universidade particular do Rio Grande do Sul e de toda a região Sul. Uma instituição de destaque e referência não só no Brasil como também no exterior. Foi na Unisinos que conheci autores, teorias e perspectivas metodológicas que se revelaram como referenciais para a construção do conhecimento da realidade social, cultural e política do nosso tempo. Em 1984 ingressei no Curso de Graduação de Ciências Sociais durante os quatros anos subseqüentes, estudei muito, freqüentei a biblioteca, o restaurante universitário e no intervalo das aulas, participava do centro acadêmico e das discussões acaloradas nos corredores. O Curso de Ciências Sociais foi um espaço de muita ousadia e pioneirismo. Além de alimentar o interesse pela pesquisa e fornecer sólidos instrumentos para uma atuação profissional em áreas dinâmicas do mercado de trabalho das Ciências Sociais, tive a oportunidade de estudar com profissionais competentes e comprometidos. Como não lembrar das aulas de Raul Pont, Ari Minela, Jose Ivo Follmann, Roque Vitor Dal Ross, Dornali Purpper, entre tantos outros. Fiz muitos amigos. Minha turma sempre foi muito atuante, responsável e crítica. As discussões sobre a sociologia brasileira, interpretações do Brasil, sindicatos, movimentos sociais, começavam no deslocamento de Porto Alegre para São Leopoldo, ora no ônibus, ora no carro que “fretávamos” de forma coletiva. Tina, Beth, Bica, Adelaide, que bom que conseguimos manter, na diáspora, sólidos laços afetivos e intelectuais. Enquanto estudante de Ciências Sociais, para entender a minha própria cultura, foi importante a leitura do ensaio de Roberto da Matta (1978) intitulado anthropological blues, onde ele fala do duplo oficio do etnólogo: transformar o exótico em familiar e o familiar em exótico. Foi através desta leitura que percebi que estamos o tempo todo pressupondo familiaridades e estranhamentos. O meu primeiro desafio foi, portanto, o da distância e proximidade do investigador com relação ao seu objeto. Tarefa nada trivial e nem sempre bem sucedida com alertam alguns antropólogos. Transitar por caminhos tão próximos sem enxergar as diferenças tão próximas. Eu li este texto como sugestão de meu orientador para auxiliar na pesquisa de campo, já que se tratava de um lugar aparentemente bastante familiar. Trata-se do trabalho monográfico intitulado “Desvio na praça”, sobre a praça da Alfândega, em Porto Alegre (RS), defendida em 1987, com a orientação de Jorge Bozzobon, meu orientador no final do curso de graduação. Obrigado Jorge, Salve Jorge! Foi, portanto, a partir desta primeira experiência de olhar, ouvir e escrever sobre a praça da Alfândega, que decidi ser antropóloga. Após a conclusão do Curso de Graduação, ingressei no Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e, posteriormente, no Programa de Doutorado do Instituto de Investigaciones Antropologicas da Universidad Nacional Autônoma do México (UNAM). Hoje, trabalho no Departamento de Antropologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e dou aula nos Programas de Pós-Graduação em Ciências Sociais e Pós-Graduação em Antropologia da UFRN. Há muitas razões para comemorar os cinqüentas anos do Curso de Ciências Sociais da Unisinos. Destaco aqui a criação do Programa de Mestrado e Doutorado em Ciências Sociais, a formação de novos mestres e doutores. Comemorar, rememorar. Parafraseando Inmanuel Wallestein, rememorar o passado é um ato social do presente. Essa situação me levou às lembranças de quando eu era aluna, no meu primeiro trabalho de campo, minha primeira experiência em sala de aula, meus alunos, meus colegas, enfim meus mestres. Essa situação me levou a pensar na minha própria trajetória “individual”. Nos campos de possibilidades socialmente dados e nos projetos que me levaram a adquirir uma identidade profissional. Obrigada!”
Lisabete Coradini, antropóloga, professora do departamento de Ciências Sociais do Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais e Antropologia da UFRN
 
 

Decodificar a complexidade da realidade social

“Além da Resolução nº 4, de 16 de agosto de 2006 do MEC, sobre a inclusão do Ensino de Sociologia nas escolas de ensino médio em todo o território nacional, vem crescendo as demandas de estudos e pesquisas na área das Ciências Sociais, em particular na Sociologia, fazendo com que se crie uma oferta cada vez maior de cursos e programas na área das Ciências Sociais em nível de graduação e pós-graduação. Na Unisinos, o projeto político-pedagógico do Curso de Ciências Sociais estrutura-se a partir dos seguintes princípios norteadores: ‘Propiciar aos estudantes uma formação teórico-metodológica sólida em torno dos eixos que formam a identidade do curso (Antropologia, Ciência Política e Sociologia) e fornecer instrumentos para estabelecer relações com a pesquisa e a prática social. Criar uma estrutura curricular que estimule a autonomia intelectual, a capacidade analítica dos que estimule a autonomia intelectual, a capacidade analítica dos estudantes e uma ampla formação humanística’. O licenciado, cujo perfil profissional deve possuir sólida formação ética e humanista, deverá estar habilitado para enfrentar, teórica e metodologicamente, os desafios e as dificuldades próprias à tarefa de análise e reflexão crítica de realidade social em que está inserido, assim como transmitir aos alunos do Ensino Médio o importante legado conceitual e prático emanado do pensamento científico moderno e contemporâneo proveniente das Ciências Sociais.

O Curso de Ciências Sociais da Unisinos foi criado em 1958 e, atualmente, conta com um corpo docente de reconhecida qualificação de âmbito nacional, que atua no ensino, na pesquisa e na extensão, oferecendo ótimas condições de ensino e infra-estrutura, como biblioteca com grande acervo de obras das Ciências Sociais, recursos tecnológicos de última geração, entre outros, para o desenvolvimento e a formação de um profissional de excelência no campo das Ciências Sociais, comprometido com seu tempo e com uma perspectiva (auto) reflexiva. O trabalho dos professores de Sociologia tem como referência expressa os documentos curriculares oficiais, conforme as disposições colocadas para o ensino da disciplina nos Parâmetros Curriculares Nacionais. Tendo em vista a preocupação com o domínio de tecnologias, expressa nas Diretrizes Curriculares Nacionais, os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio propõem que a Sociologia, em conjunto com a Ciência Política e a Antropologia, permita ao educando desenvolver as seguintes competências e habilidades:

* Identificar, analisar e comparar os diferentes discursos sobre a realidade: as explicações das Ciências Sociais, amparadas nos vários paradigmas teóricos do campo das humanidades.

* Produzir novos discursos sobre as diferentes realidades sócias, a partir das observações e reflexões realizadas.

* Compreender e valorizar as diferentes manifestações culturais de grupos étnicos e sociais, contribuindo para preservar o direito à diversidade, enquanto princípio estético, político e ético que supera conflitos e tensões do mundo atual.

* Compreender as transformações no mundo do trabalho e o novo perfil de qualificação exigida, gerados por mudanças na ordem econômica.

* Construir a identidade social e política, de modo a viabilizar o exercício da cidadania plena, no contexto do Estado de Direito, atuando para que haja, efetivamente, uma reciprocidade de direitos e deveres entre o poder público e o cidadão e também entre os diferentes grupos.

A idéia central é que o domínio dessas competências permitirá ao educando investigar, identificar, descrever e explicar/interpretar os fatos relacionados à vida social, e assim, instrumentá-lo para que possa decodificar a complexidade da realidade social em que está inserido.

Na Unisinos o currículo do Curso de Licenciatura Plena em Ciências Sociais está baseado na longa experiência da educação Inaciana e numa trajetória de meio século de formação de professores de sociologia, fundamentando-se “em pressupostos éticos, compromisso social e envolvimento comunitário, objetivando nos princípios de Educação por toda a vida e no Desenvolvimento Regional que, sem descuidar dos Avanços científicos e tecnológicos, ancora-se, também, na transdisciplinaridade como perspectiva teórica plural capaz de dar conta dos desafios enfrentados pelo professor nas sociedades complexas de nosso tempo.”

A partir de 2009/1, as escolas do Ensino Médio da rede estadual de ensino terão a obrigatoriedade de ofertar a disciplina de Sociologia para seus estudantes. Oxalá este fato social possa representar uma contribuição significativa para melhoria da educação no Estado, assim como possa contribuir para o alargamento da visão crítica no âmbito da sociedade rio-grandense e a um enriquecimento sensível das relações sociais entre os grupos sociais e étnicos e do próprio exercício diário da cidadania”. Prof. Walmir da Silva Pereira, Coordenador do Curso de Ciências Sociais da Unisinos

Últimas edições

  • Edição 552

    Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

    Ver edição
  • Edição 551

    Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

    Ver edição
  • Edição 550

    Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

    Ver edição