Edição 281 | 10 Novembro 2008

Perfil Popular - Rachel Teresinha de Oliveira

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Bruna Quadros

Nesta semana, você vai conhecer um pouco mais da trajetória de vida de Rachel Teresinha de Oliveira. Ela é uma das integrantes do grupo Mãos Unidas que, através de auto-gestão e cooperativismo, desenvolve um trabalho que exige muita dedicação, mas, ao mesmo tempo, tem um retorno muito gratificante: conseguir passar adiante o conhecimento. Criada pelos padrinhos – porque perdeu os pais quando ainda era jovem –, Rachel, hoje, é um pouco mãe dos seus pais adotivos, como forma de retribuição ao carinho que teve durante toda a vida. Na última semana, ela visitou a redação da revista IHU On-Line e destacou, entre outros aspectos, a sua visão sobre a política do país, que, segundo ela, peca por oferecer oportunidades de crescimento social e econômico apenas para uma parcela da população brasileira.

Com curso técnico em contabilidade, Rachel Teresinha de Oliveira já teve várias experiências profissionais: de um escritório contábil ao Banco Sul-brasileiro, atual Santander. Ela também já foi cabeleireira, massagista e cuidou de idosos. Há um ano, motivada pela sede de conhecer outros caminhos, ela passou a integrar o Grupo Mãos Dadas, em São Leopoldo, que trabalha nos princípios da Economia Solidária. “Minha parte dentro do grupo é a alimentação, faço tortas frias. Mas, com as oficinas, aprendi a fazer artesanato. A gente se integra em tudo.”

A motivação para este trabalho também está relacionada com o reconhecimento da importância de desenvolver um trabalho social. “Assim como eu posso servir e ajudar, também posso trazer outras pessoas para este trabalho.” Como uma das 13 integrantes do grupo, Rachel destaca que a atividade é muito satisfatória também pelas trocas de aprendizado. “Durante as feiras, levamos o nosso trabalho e trazemos o dos outros.” Na visão de Rachel, este trabalho é muito valorizado pela atual administração de São Leopoldo. Por isso, ela é positiva, ao falar da política do país.

“Frente a algumas facilidades para pessoas de poucos recursos, acho que está muito bom. O nosso trabalho e projetos de Economia Solidária, depois que o atual prefeito, Ary Vanazzi, assumiu, teve mais apoio e incentivo, o que em outros governos a gente não via. Este lado social melhorou bastante.” Para ela, outras questões estruturais do Brasil devem ser mais bem tratados. “Se as pessoas tiverem mais oportunidade de chegar a um grau de instrução mais elevado, pode melhorar a situação. Não sou nada materialista. Não adianta criar um país cheio de recursos e de dinheiro só para alguns. Todos têm que ter oportunidades.”

A atividade no grupo Mãos Unidas, também fonte de renda informal, é o único trabalho de Rachel, além de cuidar dos pais. Antônio, que foi construtor, e Olívia, dona-de-casa, são, na verdade, padrinhos de Rachel, que, com um ano de idade, ficou órfã de mãe - Vandir foi vítima de câncer. Seu pai, o industriário Deolídio, morreu quando Rachel estava com 21 anos de idade. “Fui criada pelos meus padrinhos que até hoje estão comigo. Tive uma boa criação e fui sempre muito bem orientada. Hoje, ambos estão aposentados, e sou eu quem cuida deles, que têm quase 90 anos. Eu sou a mãe deles, agora.” Apesar de pouco, o convívio com o pai existia. “Jogava cartas com o meu pai, aos finais de semana”, lembra ela.

Rachel nasceu em São Leopoldo há 52 anos. Dos pais biológicos, tem outros cinco irmãos, além dos três “emprestados”, filhos dos seus padrinhos. Apesar da distância, há muita união. “Eu e meus irmãos nunca deixamos de nos ver. Sempre participamos um da vida do outro.” Na infância, vivida no bairro Rio Branco, em São Leopoldo, Rachel não gostava das brincadeiras de menina como, por exemplo, brincar de casinha. Ela conta que o seu divertimento era jogar futebol e estar entre os meninos. Os estudos também não eram o forte de Rachel, que afirma não ter sido uma boa aluna. “Dedicava-me somente aos assuntos que eu gostava como Biologia e Literatura”, revela.

Tudo o que aprendeu com os padrinhos, como princípios básicos de educação, disciplina, caráter e dignidade, Rachel ensina para os filhos Eduardo, de 25 anos, e Stênio, 19. Casada há 27 anos, ela destaca que ter uma família não fazia parte dos seus planos. “Mas isso veio com o tempo.” Seu esposo, Antônio, é caminhoneiro. Por causa da profissão, ele passa a maior parte do tempo fora. “Posso dizer que criei os meus filhos sozinha. Tive o apoio, mas em determinados momentos não pude contar com ele.” Mesmo assim, os filhos e a sua família são uma grande realização para Rachel.


Batizada e crismada na Igreja católica, Rachel admite não ser assídua à religião.  “Tenho minha fé e crença em Deus, porque a pessoa precisa ter alguma coisa para se agarrar. Além disso, temos momentos de desorientação em que só outras pessoas não conseguem ajudar a resolver.”

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