Edição 270 | 25 Agosto 2008

Perfil Popular - Maria Noeli Soares

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Bruna Quadros

Nesta semana, quem conta a sua trajetória de vida é Maria Noeli Soares, que abriu as portas da sua casa, na Vila Elza, em São Leopoldo, para receber a equipe da revista IHU On-Line. Há oito anos, ela e sua família formaram um grupo de trabalho, o Família Soares, que se fundamenta nos princípios da Economia Solidária. É a fonte de renda da casa, que está sempre em ritmo acelerado, para dar conta da quantidade de encomendas de tortas, pães e cucas, além de refeições. Acompanhe, a seguir, relatos da história de Maria Noeli, o Perfil Popular desta edição:

Nem com problemas de saúde Maria Noeli Soares, 50 anos, pára. Há poucos dias, ela teve uma infecção nas artérias da perna, provocada pela má circulação sangüínea, o que não a fez deixar de lado o trabalho no grupo Família Soares. “Não era para eu caminhar, nem fazer nada, só ficar com a perna para cima. Mas não posso parar, tenho que trabalhar.” O grupo Família Soares, que se alicerça nos princípios da Economia Solidária, começou no ano 2000. “São nove pessoas, além das crianças, que já estão começando a se envolver”, destaca Maria Noeli. O trabalho, que não dá folga, consiste em preparar refeições, além de pães, cucas e tortas, feitos sob encomenda ou para feiras populares. “Começamos vendendo bolachas pela vizinhança. Nos finais de semana, cada um saía com o seu cesto.” 

É do trabalho desenvolvido no grupo que vem a renda da família, de R$ 800 mensais. Além do engajamento, a marca forte do grupo é a união. “Se um não tem, o outro ajuda. A prioridade é ajudar dentro da saúde e pensar no bem-estar do outro. Se precisar, a gente até deixa de pagar uma conta.” O porto seguro do grupo é Ondina Soares da Silva, de 76 anos de idade, mãe de Maria Noeli. “Às vezes, estamos em algum evento e precisamos de mais pizza, mais produtos, pedimos para a dona Ondina nos ajudar”, conta a filha, orgulhosa. O trabalho, do qual Maria Noeli aprendeu a gostar, tem, hoje, muito valor para ela. “Aprendi a respeitar os meus colegas, como eles me respeitam. A cada dia, tu aprende com alguém. Eu não consigo largar esta atividade.”

O impulso para ingressar neste trabalho é herança dos pais de Maria Noeli, porque, desde criança, ela ajudava na rotina de casa. “Meu pai João Agenor da Silva, falecido há 18 anos, trabalhava com gado, leite e plantação. Então, aprendemos o trabalho comunitário. Ele arrancava aipim, arrumava as sacolinhas e cada um ia para um lado levar o produto para os clientes.” Na época, Maria Noeli, que é a mais velha de quatro irmãos, estava com 10 anos de idade. Desde então, ela aprendeu a ter responsabilidade.

Em meio a uma rotina de muito trabalho, Maria Noeli faz uma pausa para se distrair. “Quando tenho um tempinho, gosto de conversar. Meu marido até brinca: ‘Garanto que tu já tá fofocando’.” Além de um bom bate-papo, ela também costuma assistir aos ensaios da Academia de Samba da Zona Norte, escola de samba de São Leopoldo.

Morando há 43 anos na Vila Elza, em São Leopoldo, Maria Noeli reconhece o crescimento do local. “Quando viemos morar aqui, eram apenas cinco moradores. Hoje, a comunidade é mais desenvolvida.” Foi no período em que a vizinhança era pequena que Maria Noeli passou a infância. “Meu pai era meio rígido. Então, a gente era mais caseiro, não saia muito de casa. A gente estudava, voltava do colégio, fazia a lição e ia para a lida: tirar um pasto para uma vaca, colocar lenha para dentro. Eu adorava.”

Antes de trabalhar com o grupo, Maria Noeli, que estudou até o Ensino Médio, trabalhou em uma tecelagem, quando estava com 19 anos. “Trabalhei durante oito anos nesta empresa, só saí de lá porque fechou. Mas sempre fui de trabalhar, lutar pelo meu dinheiro.” Aos 32 anos de idade, ela casou, pois queria ter a sua família. Dois anos depois de casada, teve o seu único filho, o Paulo Rafael, que vai completar 18 anos. “Ele faz parte da banda Black Sul, junto com o meu marido e outros dois meninos, conta ela, orgulhosa. Para Maria Noeli, o apoio da família vai além do trabalho. “Eles dão uma ajuda psicológica muito grande. Se eu tiver que sair e deixar uma torta para ele fazer, não preciso me preocupar, porque ele faz. A família é uma base muito importante.”

Religiosidade

Embora seja batizada na Igreja Católica, há mais de 10 anos Maria Noeli freqüenta a Igreja Universal do Reino de Deus, com a sua família. É lá que ela sempre encontra uma palavra de apoio quando mais precisa. “Tem sempre alguém que te escuta e tu sai de lá confortado.”

Política

Desde que o presidente Lula está à frente do Brasil, a situação está mais favorável, na opinião de Maria Noeli. “Ele está pensando mais no povo que não tem condições, através de projetos sociais. A cidade de São Leopoldo, com a chegada do PT, também mudou bastante. Gente que não podia comprar hoje está comprando. Há mais oportunidades para o sustento.”

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