Edição 346 | 04 Outubro 2010

A Criação em um ''momento fantástico de transição civilizatória''

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Moisés Sbardelotto

 

IHU On-Line – Em outubro deste ano, organizações ambientais internacionais estão organizando a campanha 10:10:10, considerado o dia da maior mobilização local contra as mudanças climáticas em todo o mundo. Em sua opinião, qual a importância de iniciativas como essa?

Genebaldo Freire Dias – É o que está fazendo a diferença. Afinal, as pessoas já perceberam que algo está muito errado e o que se está fazendo não é suficiente para evitar a continuação dos erros Os Estados não detêm mais o poder, a eficácia e até a legitimidade para fazer isso.

IHU On-Line – Dentro da perspectiva do “Tempo para a Criação”, como podemos entender o valor da Criação a partir de uma perspectiva mais ampla, ou, como o senhor sugere, “ecoperceptiva”?

Genebaldo Freire Dias – As corporações reconhecem o valor da Criação com a mesma intensidade com que tratam Papai Noel. O novo criador é o dólar e o euro. A catedral, o consumo. A mídia e a educação completam a rede. Alimentam a neoinsensibilidade, o “dane-se” a tudo e a todos. A sensação de “independência”. Por essa razão, estimulamos em nossas práticas a percepção dessa situação. Até mesmo como tentativas. Não sabemos se vai dar certo.

IHU On-Line – Quais seriam as possíveis alternativas para um estilo de vida menos impactante e mais harmonioso com a natureza? Por onde começar?

Genebaldo Freire Dias – Não é fácil. Poucas pessoas podem ou querem abrir mão de alguma coisa. Você deixaria de comer carne (cadáver) pelo simples fato de contribuir para a redução do desmatamento, das queimadas, da perda de biodiversidade, da emissão de gases que aumentam o efeito estufa e mudam o clima? Deixaria do comer carne por questões éticas causadas pela crueldade no tratamento do gado? É fácil economizar água, energia elétrica, colocar a latinha para reciclar, essas coisas. Isso não mexe com o seu conforto, suas vontades. Mas uma decisão mais profunda mexe. Aí você não está mais disposto e rotula essa ação de ecorradicalismo, ecochatice, coisa de bicho-grilo, natureba, biodesagradável e por aí segue. Ninguém abre mão. Nem o país rico, de emitir CO2; nem o país pobre, de queimar e desmatar; e nem você, de mudar hábitos alimentares. É uma questão de escala apenas. Eis o desafio, o fascínio e o privilégio de estar presente em um momento fantástico de transição civilizatória. Ou não seria assim mesmo o caminho?

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