Edição 345 | 27 Setembro 2010

Oswaldo Giacóia

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Márcia Junges

 

Opção religiosa – Evito dizer em público qual é a minha opção religiosa justamente para evitar o espanto que causa um cristão estudar Nietzsche. Há certas trilhas batidas que precisam ser deixadas de lado. Eu respondo a isso com meu trabalho. Não preciso ficar falando o tempo todo sobre minha opção e crença. Penso que isso é até demagógico. Percebo que as pessoas que tem um discernimento um pouco maior, independentemente do fato de dizermos, ou não, se acreditamos em Deus, perguntam sobre questões que são essenciais, sobre o seu próprio compromisso com os direitos humanos, por exemplo. Um debate, de fato, autêntico sobre o humanismo e princípios universais, inclusive no campo da religião, passa hoje pelo entendimento sobre aquilo que ainda somos capazes de resgatar em termos de valores que tenham alguma pretensão de validade universal, mesmo que a isso não seja dado o nome de religião ou adesão a determinada confissão religiosa. Como mencionei em minha conferência no XI Simpósio Internacional IHU – o (des)governo biopolítico da vida humana, não é à toa que, logo após escrever O futuro da natureza humana, Habermas foi discutir com Joseph Ratzinger. As questões, portanto, confluem. E é essa confluência que procuro trabalhar.

Política carcomida – Lastimo profundamente o cenário político brasileiro. Regredimos muito em termos políticos. Lembro-me do entusiasmo que se apossou de nós quando Lula foi eleito. Foi um entusiasmo genuíno, de uma geração que viveu 30 anos sob a ditadura. Percebo que não há nada de novo no cenário de discussão da política contemporânea. Todas as coisas são “sobrevividas”. Não há nenhuma opção que efetivamente aponte para uma perspectiva de futuro. Não vejo isso na oposição nem na situação. Por incrível que pareça, as coisas que aparentemente são mais atraentes vem de um campo completamente arcaico e que não está delineado no debate político partidário, que é o campo do messiânico. Esse é, de fato, o campo originário e que não está colocado na discussão política. Eu, pelo menos, não vejo isso. Não consigo avistar algo realmente revolucionário, no sentido de alterar profundamente as estruturas carcomidas das relações políticas.

Pesquisas atuais – No momento, estou conduzindo um estudo com um grupo de pesquisadores da Unicamp a respeito do tema da violência e direito. Para isso, valho-me de Agamben , uma referência interessante sobretudo para a questão essencial entre a violência, o direito e a cultura em geral. Por isso, também o campo religioso interessa-me sobremaneira, em especial no que tange à questão do sacrifício.

Esportes – Gosto muito de futebol. Torço para o Palmeiras, e aqui devo um tributo aos gaúchos, já que o Felipão está no Parque Antártida mais uma vez. Espero que ele consiga restaurar esse time, que está muito ruim. Todas as vezes que estou em São Paulo frequento uma academia, junto da minha esposa Sirlei, que é dentista. Acordamos bem cedo e vamos fazer exercícios físicos. Há algum tempo gostava de musculação, mas no momento tenho feito mais exercícios aeróbicos. Como viajo bastante, a frequência à academia não é assídua.

Cinema e música - Aprecio cinema e música erudita do período clássico. Não gosto de música experimental, e inclusive tenho certa dificuldade de entendê-la. Como não conheço teoria musical, talvez meu ouvido não esteja suficientemente cultivado para entender as vanguardas. O filme que mais me chamou a atenção ultimamente foi O anticristo, uma produção pesadíssima de se assistir, mas necessária. O cinema brasileiro mais recente também é de qualidade.

Família – Além da academia, Sirlei e eu compartilhamos o gosto pela leitura. No momento, acredito que ela esteja bastante interessada em Heidegger , bem mais do que em Nietzsche. Somos casados há 30 anos. Temos uma filha, a Rachel Cristina, que está concluindo a residência em psiquiatria na USP.

Instituto Humanitas Unisinos – A iniciativa do IHU é algo digno do mais profundo respeito. Admiro a Unisinos por várias razões, mas sobretudo por seu Instituto. O IHU é central e faz toda a diferença. Não conheço uma experiência igual no Brasil. Vi algo semelhante na década de 1970, na PUC-SP. Mas de longe não tinha esse contorno e consistência. Tenho uma admiração substantiva pelo trabalho que é feito aqui, não só porque ele se orienta na direção de valores que penso cardinais para nós hoje, mas porque há uma produção que se desdobra em várias linhas, com publicações e realização de eventos como esse Simpósio. Há um abastecimento de substância espiritual para a universidade, partindo do IHU. Além disso, trata-se de um campo não dogmático.

Leia mais...

>> Confira outras entrevistas concedidas por Oswaldo Giacóia à IHU On-Line.
 
* Nietzsche, o pensamento trágico e a afirmação da totalidade da existência. Edição número 330, revista IHU On-Line, de 24-05-2010;
* Superar a condição humana, uma fantasia antiga. Edição número 343, revista IHU On-Line, de 21-09-2010.

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