Edição 340 | 23 Agosto 2010

A hegemonia dos EUA na América é contrastada pela Alba e pelo Brasil

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Graziela Wolfart e Greyce Vargas

José Virtuoso analisa a conjuntura latino-americana e aponta que a diferença fundamental entre Lula e Chávez está no modelo econômico, social e político

Francisco José Virtuoso é diretor do Centro Gumilla, de Caracas, na Venezuela.  Ele esteve recentemente na Unisinos, participando do encontro dos diretores dos Centros de Pesquisa e Ação Social da Companhia de Jesus na América Latina. Na ocasião, fez uma análise da conjuntura política latino-americana. Para aprofundar a discussão, a IHU On-Line o entrevistou pessoalmente. Virtuoso afirma que “a Venezuela vive o que muitos países da América Latina também vivem: o descontentamento social não tem canalização e expressão política alternativa. No entanto, não votam na oposição, ou se abstêm”. Ao comparar os governos de Lula e Hugo Chávez, José Virtuoso reconhece que “o modelo de Lula parece mais plural e aberto e o modelo de Chávez parece muito mais autoritário e fechado, um modelo que tem Cuba como referência. Se é verdade que temos democracia eleitoral, e se é verdade que há uma presença importante do movimento social na vida pública, no entanto há muito pouco respeito à lei, à Constituição e aos direitos civis”.

Francisco José Virtuoso é membro da Companhia de Jesus desde 1977 e se ordenou como sacerdote em 1990. Licenciado em Ciências Políticas pela Universidade Rafael Urdaneta, de Maracaíbo, Venezuela, é doutor em História pela Universidade Católica Andrés Bello, de Caracas, Venezuela. Ele até agora foi diretor do Centro Gumilla pois assumirá o cargo de Reitor da Universidade Andrés Bello de Caracas.

Confira a entrevista.

IHU On-Line - Que diferenças o senhor percebe entre Lula e Chávez em relação à forma de governabilidade?

José Virtuoso – A diferença fundamental está no modelo econômico, social e político. O presidente Lula parece empenhado em construir uma sociedade dentro de um modelo que podemos chamar de economia social de mercado, onde o Estado regula a economia, faz fortes intervenções, mas cria condições para a competência, para a pluralidade econômica, para a intervenção do mundo privado. Em outras palavras, gera uma economia de mercado, mas onde o Estado tem uma presença muito importante, acompanhado da proteção social, através das políticas sociais. Já o presidente Chávez promove o socialismo do século XXI, onde o Estado tem um papel muito importante na economia; porém, sem acreditar no aporte da economia privada, sem crer no aporte do mercado, ou excluindo e limitando o mercado. O modelo de Lula parece mais plural e aberto e o modelo de Chávez parece muito mais autoritário e fechado, um modelo que tem Cuba como referência. Se é verdade que temos democracia eleitoral, e se é verdade que há uma presença importante do movimento social na vida pública, no entanto há muito pouco respeito à lei, à Constituição e aos direitos civis. Creio que uma diferença importante em relação ao modelo de Lula é que, neste último, há a liberdade, a pluralidade e o respeito aos outros. 

IHU On-Line – Podemos dizer que Chávez perdeu o prestígio na América Latina? A que isso se deve?

José Virtuoso – Acredito que seja em função deste modelo que acabo de descrever. Ficou claro, ao longo da história, que este modelo implementado por Chávez não é o caminho pelo qual os povos querem passar. Chávez teve um grande prestígio como representante das mudanças da América Latina, como uma voz contestadora frente ao expansionismo dos Estados Unidos e como uma voz que buscava expressar os interesses do mundo popular. Mas hoje ele perdeu o prestígio, sim.

IHU On-Line – O que mudou no povo venezuelano com o governo Chávez?

José Virtuoso – Chávez perdeu popularidade também no interior do país. Ele contou com 60% do eleitorado. Atualmente está em torno de 40%. Perdeu uma popularidade importante e, em geral, eu diria que frente a esses 40%, nesse momento, há aproximadamente uns 50% que quer mudança. No entanto, a Venezuela vive o que muitos países da América Latina também vivem: o descontentamento social não tem canalização e expressão política alternativa. A oposição na Venezuela não representa o descontentamento social, de tal maneira que encontramos muitas pessoas que estão descontentes com Chávez. No entanto não votam na oposição, ou se abstêm.  

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