Edição 338 | 11 Agosto 2010

Internacionalização favorece industrialização

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Patrícia Fachin

 

IHU On-Line – Qual é a estratégia do governo, a partir das atuais políticas de investimento do BNDES, em relação à política econômica e a política industrial?

Fernando Sarti – Se observarmos a recuperação da economia brasileira pós-crise, vamos perceber que o circuito existente antes da crise foi remontado. Ou seja, novamente o padrão de crescimento brasileiro parece saudável no sentido de que está sustentado, sobretudo, em cima do investimento. Dados recentes do IBGE, da linha de financiamento do BNDES e empresariais, mostram que o investimento retomou o crescimento, além de aumentar a capacidade produtiva, impossibilitando o desequilíbrio entre oferta e demanda.
A política de investimento do BNDES é exatamente assegurar financiamento para que o ciclo de investimento se mantenha e, se possível, se acelere. A ideia do governo foi eleger o investimento à variável chave para financiar a política econômica. Essa é a forma mais saudável de se pensar o crescimento. Ao invés de o governo utilizar uma política tacanha, conservadora, de tentar combater a inflação com retração de demanda, é mais desejável para o país combatê-la com aumento de oferta. Então, ao ampliar o investimento, a capacidade produtiva se expande, estimula a demanda e se tem mais produtos.
Lógico que isso não pode ser feito, exclusivamente, via financiamento público. Esse é o grande gargalo da economia brasileira. O BNDES está fazendo o possível para que os investimentos aconteçam, mas está na hora de o setor privado contribuir para isso. Hoje, o Brasil tem uma taxa de investimento por volta de 19% do PIB. É fundamental que ela chegue a 25% para manter o crescimento de 6,7 % ao ano, sem gerar desequilíbrio, garantindo, ao mesmo tempo, energia elétrica, serviços de telecomunicações, bens de consumo.
 
IHU On-Line – O senhor diz que a indústria recuperou sua capacidade de crescimento, de acumulação e de investimento. Esse crescimento econômico é sustentável a longo prazo?

Fernando Sarti – Nos últimos 25 anos, nunca vi um momento tão propício para a economia brasileira. Como o crescimento não está sustentado, única e exclusivamente, em cima do consumo, que depende da demanda externa, ou seja, é um crescimento que vem sendo puxado pelo mercado interno e, dentro do mercado doméstico é o investimento a variável mais importante, digo que para o crescimento se manter é fundamental que o investimento se mantenha. O Brasil tem uma infraestrutura a ser construída e tem uma série de oportunidades a partir de investimentos em saneamento, transporte, aeroportos, ferrovias, rodoviárias, telecomunicações. Acrescenta-se a isso o pré-sal, que é uma oportunidade ótima para a economia brasileira. Sou otimista de que esse crescimento é sustentado se viabilizarmos o investimento.
Temos de ter uma capacidade de coordenação. Não adianta elevar o investimento da Petrobras e os recursos vazarem para o exterior; construir plataformas, se elas forem importadas; fazer investimento em ferrovia, se as locomotivas virem da China ou da Alemanha. A ideia é utilizar o volume de investimento para promover o desenvolvimento industrial dos setores brasileiros. Isso significa fazer política industrial.

IHU On-Line – Como percebe a compra da Vivo pela Telefônica? O que significa isso no momento atual?

Fernando Sarti – Essa é uma questão patrimonial. A Telefônica tem interesse em se expandir. Esse caso mostra que o eixo de crescimento brasileiro mudou. Empresas europeias começam a identificar na América Latina a importância do mercado.
A Portugal Telecom (PT), ao vender a sua participação, não saiu do país. Ela comprou participação na Oi. Isso mostra que ela quer continuar apostando no Brasil por que percebe que a economia nacional deve ser, nos próximos vinte anos, a que mais irá crescer no mundo. Essa movimentação patrimonial e de re-investimento, apenas sinalizam o quanto essas empresas veem o mercado brasileiro como promissor.
A participação da PT na Oi é notória e trás recursos importantes para a empresa se mover. A criação da Oi foi uma estratégia importante; precisávamos ter uma empresa de telecomunicações nacional por que isso gera poder de compra e tecnologia nacional e, ao mesmo tempo, é importante para fazer frente às outras empresas.

IHU On-Line – Há, no Brasil, um projeto de desenvolvimento? Como o define?

Fernando Sarti – Se reconhece, hoje, a importância da existência de empresas nacionais, de uma atuação cada vez mais presente e coordenada pelas instituições públicas. Todo o processo de desenvolvimento pressupõe a presença de um Estado ativo e eficiente. Desse ponto de vista, penso que há uma política nacional de mostrar que o Estado tem como contribuir e apontar as diretrizes.
O Estado brasileiro passou por processo de desaparelhamento violento no período liberal. Não é possível reorganizar esses mecanismos do dia para a noite. De qualquer modo, há a tentativa de remontar um projeto nacional. Nesse sentido, não dá para pensar o Estado desenvolvimentista dos anos 70, mas um Estado que assume o papel protagonista de coordenar investimentos e o desenvolvimento. Estamos longe do sonho de desenvolvimento, sobretudo, por que discutimos mais sobre crescimento e menos acerca do desenvolvimento. O próximo passo importante é discutir o desenvolvimento social, onde, novamente, a participação do estatal é fundamental.

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