Edição 338 | 11 Agosto 2010

As controvérsias da política econômica brasileira

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Patricia Fachin

 

IHU On-Line - A criação de potências nacionais é uma característica da política econômica atual ou é uma tendência mundial? Qual é a lógica desse comportamento?

Fernando Cardim de Carvalho - Vários países fazem isso, como, por exemplo, a França, de modo explícito, mas também os Estados Unidos, apesar de toda sua ideologia liberal. Quando o secretário do Tesouro, Geithner , se opõe à regulação sobre fundos de hedge proposta pela Comissão Europeia que poderia discriminar com os fundos originários dos EUA, ele está defendendo os interesses do setor financeiro americano e é natural que assim o faça.

IHU On-Line - A economia brasileira vem crescendo e, segundo avaliação da ONU, o crescimento econômico pode atingir 7,6%. Essas taxas de crescimento se sustentarão a longo prazo?

Fernando Cardim de Carvalho - Se o investimento se recuperar, sim. Nós já passamos por isso antes e vários países conseguem isso no presente.

IHU On-Line - O Brasil tem um projeto nacional?

Fernando Cardim de Carvalho - Infelizmente, parece que ainda não. Esta talvez tenha sido a maior decepção que os últimos quinze a dezesseis anos trouxeram. Nem o príncipe dos sociólogos, nem o líder sindical moderno pareceram ter uma visão definida de um projeto de país que o Brasil precisaria, depois de décadas de estagnação. Ambos tiveram lá os seus méritos, mas parecem ter vindo para gerenciar, não para realmente liderar, apontar caminhos. Algumas poucas instituições desenvolveram uma reflexão nesta direção, inclusive, fortemente, o BNDES, mas não há projetos que tenham sido encampados por governos, que apontem para o futuro.

IHU On-Line - Dependendo do resultado das eleições, pode haver uma mudança na conduta da política econômica brasileira e na atuação do Estado?

Fernando Cardim de Carvalho - Possibilidade sempre há, embora o sistema político brasileiro pós-ditadura tenha sido desenhado para dificultar uma processo assim. Governos são eleitos sempre sem maioria parlamentar, o que os obriga a negociar com parlamentares muitas vezes desprovidos de qualquer visão, preparo ou qualificação ética. Isso já se reflete nas alianças para essa eleição, especialmente na eleição presidencial, onde setores mais progressistas se aliam ao que há de mais retrógrado para apoiar (ou usufruir de vantagens mais tarde) os principais candidatos, sem se importar muito com a coerência do que dizem e sugerindo que talvez também não tenham um projeto definido para o futuro do país.

Leia mais...

>> Fernando Cardim de Carvalho concedeu outra entrevista à IHU On-Line.
* “Criou-se uma moeda europeia, mas não um estado europeu”. Entrevista publicada na edição 330, de 24-5-2010, intitulada A crise da zona do Euro e o Estado regulador em debate.

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