Edição 338 | 11 Agosto 2010

Uma economia do petróleo

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Patrícia Fachin


 
IHU On-Line – A economia brasileira tem condições de manter, a médio e longo prazo, o ritmo de crescimento atual?

Carlos Lessa – Não, infelizmente não. De 1930 a 1980, o Brasil cresceu 7% ao ano. Nesse período, apenas o Japão cresceu mais do que o país. Da década de 80 até o final do primeiro mandato do governo Lula, o crescimento brasileiro ficou em torno de 2,6% ao ano, ou seja, o país estagnou. Isso produz o crescimento de voo de galinha; não levanta voo. Essa situação pode se converter em um voo bonito se o governo ampliar o Plano de Aceleração do Crescimento – PAC e elevar o câmbio. O Ministro da Fazenda, Guido Mantega, diz que se o Brasil tivesse uma taxa de câmbio na ordem de 2,80, a indústria brasileira teria condições de competir com a chinesa. Além disso, o país precisa controlar o mercado cambial: todas as entradas de capitais deveriam ser de, pelo menos, um ano e um dia.

IHU On-Line – O Brasil tem um projeto nacional?

Carlos Lessa – Não há projeto nacional. O discurso neoliberal diz que seria necessário integrar para competir e que o Brasil iria crescer abrindo seu mundo. Esse foi o modelo adotado por Fernando Collor de Mello e implementado por Fernando Henrique Cardoso. Lula, por sua vez, não teve coragem política de mudar esse plano. Penso que hoje existe a possibilidade de um projeto nacional a partir da economia do petróleo.

IHU On-Line – Que perspectivas o senhor vislumbra para o Brasil no período de 2010-2015?

Carlos Lessa – Se o Banco Central continuar se comportando da maneira atual, o Brasil vai mergulhar em uma crise.
O salário mínimo está crescendo e isso é bom – talvez essa tenha sido a melhor política feita por Fernando Henrique Cardoso e continuada por Lula –, mas o salário real médio está caindo. Não estão se criando empregos de qualidade, as famílias estão se endividando e a inadimplência pode aumentar. A bolha norte-americana se deu em função do endividamento de famílias que compraram imóveis; o Japão também entrou em crise pelo mesmo motivo. Se o novo governo tiver coragem de colocar o Banco Central sob controle, fizer fusões empresariais no setor público, irá perceber que é importante fundir a Eletrobrás com a Petrobras e criar uma gigantesca empresa de energia; fundir ou associar o BNDES à Caixa Econômica porque aí o BNDES passa a ter a rede da Caixa, que é a melhor rede do Brasil, com quatro mil agências; se assumir o controle da estatal Vale do Rio Doce, que está sendo comandada pelo Bradesco – isso é um absurdo –; e, se, o país fizer um esforço de elevar o investimento público, reduzir o superávit primário e desvalorizar o câmbio, terá uma explosão de crescimento.

IHU On-Line – Quem o senhor vai apoiar nas eleições? Percebe alguma mudança no plano político do PSDB?

Carlos Lessa – Fui professor de José Serra e quando ele foi para o exílio, frequentava a minha casa. Dilma Rousseff foi minha aluna na Unicamp e, depois, convivi com ela durante um ano e meio enquanto fui presidente do BNDES. Marina Silva conheço pouco. Nunca votaria na Marina porque acho a hipótese da ecologia verde absurdamente estúpida; da maneira que é formulada, ela representa a paralização do Brasil e vai deixar a Amazônia para os apetites internacionais do futuro. Sou nacionalista. Escolhi apoiar José Serra por que morro de medo do Plano Ômega , que está sendo articulado pelo setor privado por meio de Armínio Fraga . Além disso, morro de medo do Henrique Meirelles , que entrou no PMDB e é procurador de um plano de desenvolvimento para a Dilma. Meirelles já foi à Nova York para dizer que tudo continua “como dantes no quartel d'Abrantes”. Por isso, penso que Dilma não irá mexer na política econômica nem modificar o comando do Banco Central. José Serra já disse que irá subordinar o Banco Central à Presidência da República. Ele falou pelo coração e pela razão. O PSDB para mim é uma incógnita. PMDB e PSDB foram partidos da privatização. A trajetória do PSDB como partido não é nada boa para o Brasil e acho que está atrapalhando a campanha de José Serra. Mas, se Minas Gerais acompanhar Serra, há uma probabilidade de ele ser o presidente do Brasil.

Leia mais...

>> Carlos Lessa já concedeu outras entrevistas à IHU On-Line. Confira na página eletrônica (<www.ihu.unisinos.br/ihu>).

Estado atrofiado e capital globalizado. Entrevista publicada na edição 322, de 22-3-2010, intitulada A reestruturação do capitalismo brasileiro;
“O mercado realiza a globalização dos infernos”. Entrevista publicada nas Notícias do Dia, em 31-5-2009.

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