Edição 337 | 09 Agosto 2010

Ibrades e a formação social e política

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Graziela Wolfart e Márcia Junges

 

O envelhecimento do Brasil

Voltando ao Brasil, a demografia chama a atenção sobre o envelhecimento da população brasileira, devido essencialmente à queda da fecundidade das mulheres. Em termos de bem-estar dessas populações pode-se perguntar, em que medida, o Brasil que ainda não deu respostas adequadas às necessidades básicas da sua juventude vai atender às necessidades dos idosos. Está aqui a questão da reforma da Previdência social. Pelas aposentadorias, muitos idosos e, sobretudo, idosas, estão contribuindo à renda familiar. Devido à nova configuração econômica internacional, o Brasil, país dito emergente, recebe imigrantes da Bolívia, Peru, Paraguai e de África, mas, ao mesmo tempo, envia mais de três milhões de brasileiros para o exterior. As migrações internacionais remetem em questão o tipo de desenvolvimento econômico, a dominação financeira. Pois, o neoliberalismo, filhote do neomalthusianismo, rejeita milhões de gente fora dos seus países sem poder entrar nos países chamados desenvolvidos. Há uma inadequação estrutural entre maiorias populacionais e a globalização da economia. Não é por acaso que mesmo nos países industrializados e ricos, observa-se uma inversão no processo secular da divisão entre a renda do capital e do trabalho. Na Europa do bem-estar social, a proporção da renda do capital voltou a crescer e do trabalho a diminuir. Trata-se de um déficit em termos de democracia em favor das elites financeiras. Isso vale para o Brasil, como também para o mundo todo.

Demografia e geopolítica

Não sei quais são as necessidades que o país tem em relação à promoção da fé. Pois, o “país” é conceito abstrato e genérico demais. Para a demografia, a população é objeto de estudos e análises, mas, também, para alguns demógrafos, é sujeito e o país fica referência geográfica. Nos estudos populacionais, a gente tem que ver o que há no outro lado da tábua de mortalidade, da tabela de fecundidade e migração, para ir ao encontro dos problemas vividos pelas populações. Existe uma demografia religiosa, mas a relação entre fé e demografia passa por mediações epistemológicas, sociais e culturais. Em relação ao diálogo cultural e inter-religioso, a demografia pode evidenciar a influência da religião sobre variáveis demográficas: fecundidade alta ou baixa em função da religião; a religião pode também exercer uma influência sobre a morbidade e mortalidade das populações; existem migrações por causa da religião. Esse tipo de análise contribui ao conhecimento da realidade e dos comportamentos de populações diferenciadas pela religião. Mas este conhecimento não fica neutro. Tudo depende do uso que uma autoridade, o governo de um país, vai fazer. O conhecimento pode ajudar a um respeito mútuo, mas também contribuir a políticas discriminatórias. A demografia, ciência do número, tem tudo a ver com a geopolítica.

IHU On-Line - Que experiências pessoais o senhor viveu que lhe marcaram no sentido do verdadeiro espírito social e de promoção da justiça da Companhia de Jesus?

Thierry Linard de Guertechin - Viver experiência de inserção em meio popular e articular assim o conhecimento teórico com práticas sociais e pastorais, foi uma chance e alegria. O fato de viver no meio de populações marginalizadas que lutam pela sobrevivência e vida mais digna, de partilhar as lutas pela água, luz e esgotos me ajudou nos cursos do Ibrades. Participar na organização da comunidade em mutirão, na criação e administração de centros comunitários, creches, escolas profissionalizantes foi realmente uma mudança de lugar social e epistemológico. Mudei minha maneira de pensar e refletir. Ainda mas, quando fui morar na favela convivendo com a população local, constituída de cearenses da região de Sobral e de paraibanos da região de Campina Grande. O que estudei nos livros estava na minha frente. Participei com os moradores da favela ao processo de conquista da cidadania, através de lutas por obras de melhoramento da vida e do bem-estar. Só uma minoria da população tinha uma prática religiosa, sobretudo, as mulheres. As mulheres mais engajadas, elas também, mudaram de lugar epistemológico e social, pela participação nos círculos bíblicos e nos movimentos sociais deixando as novelas da televisão. Por meio de novos compromissos sociais e pastorais essas mulheres aprenderam a ler e viver o Evangelho no seu habitat. Assim se constrói comunidades cristãs de sujeitos eclesiais encarnadas no tecido social, lutando pelos direitos da comunidade favelada.

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