Edição 256 | 28 Abril 2008

Edson André Cunha Tomassin

close

FECHAR

Enviar o link deste por e-mail a um(a) amigo(a).

Patricia Fachin e Bruna Quadros

A infância simples na Vila Brasília, periferia de Porto Alegre, sua cidade de origem, deixou importantes marcas na vida de Edson André Cunha Tomassin, 33 anos. Nada que seja lembrado com mágoas, mas como um impulso para o trabalho que ele desenvolve hoje, junto aos jovens da periferia de São Leopoldo. Embora Edson reconheça que o seu esforço e engajamento em prol da juventude têm grande valor, ele avalia que este caminho não é o suficiente. “Mas sinto falta de políticas públicas continuadas, que não tragam apenas projetos de qualificação por seis meses ou um ano, mas, sim, acompanhamento da vida dos jovens, no exercício da sua compreensão como cidadão, a longo prazo”. No último dia 25, Edson foi ordenado padre e, em visita à redação da IHU On-Line, contou, com entusiasmo, a sua trajetória, dedicada aos universos eclesial e social. Confira.

 

“Meu tripé de caminhada é pensar a comunicação, a juventude e a arte”, relata Edson. Uma das provas deste engajamento com os jovens é a ONG Trilha Cidadã, com sede em São Leopoldo, que nasceu do sonho de dialogar com a juventude dentro de universos eclesiais e sociais. “É uma ONG fruto de lideranças das Pastorais da Juventude do Rio Grande do Sul, que pensa e reflete a juventude, em parceria com o Observatório Juvenil do Vale e o projeto Tecnologias Sociais para Empreendimentos Solidários, do Instituto Humanitas Unisinos – IHU.”

Entre as propostas de trabalho da entidade, está a Economia Solidária, o que ele considera um grande desafio. “É um processo que nasce desde o entrosamento do jovem dentro do universo da Economia Solidária, de acreditar que esta é uma via de sustentabilidade, até o universo de pensar o jovem como um sujeito de protagonismo, a partir das suas identidades”, ressalta. O foco do grupo é ser referência no trabalho com a periferia. “A nossa idéia é viver essa pequenês estrutural, se não a gente cai em contradição, no elitismo e no aburguesamento. Somos alternativos demais, do ponto de vista de criar essa simplicidade de vida e acolher a diversidade da vida, além de aceitar dialogar diversas temáticas que na sociedade ainda não é aceita”, destaca Edson.  

Embora o fôlego para manter a ONG seja intenso, há fatores que são decisivos para manter os jovens no caminho do aprendizado e do crescimento social. “Nós começamos com 150 jovens, em programas públicos para geração de trabalho e renda para a juventude, na área da qualificação, que foi o ‘Consórcio Social da Juventude’ e o ‘Juventude Cidadã’. No início, assumimos 20 jovens e hoje temos apenas alguns desses participando.” No entanto, o desinteresse não é voluntário. “A estabilidade se dá pelo fato de que eles têm a bolsa de auxílio. Quando isso acaba, se vê, de fato, quantos estão dispostos. Ao longo da caminhada há uma construção de consciência de cidadania, de que ‘eu’ sou sujeito de direitos e tenho condições de gestar alguma coisa.”

Hoje, além de atuar na ONG, Edson é professor de ensino religioso em uma escola e trabalha como assessor de grupos de jovens. “Nós estamos fazendo uma grande campanha de mobilização de grupos de jovens em toda a zona norte de São Leopoldo.” E todo este esforço não é em vão. “Ou mobilizamos uma juventude para ser protagonista a partir da vida, ou teremos os índices de relação de juventude com a violência constituída pelo tráfico de drogas dentro das vilas”, salienta. Assessorar Pastoral Carcerária da diocese de Novo Hamburgo também faz parte da caminhada de Edson. “Acompanhei muito tempo os presídios, através da Pastoral Carcerária, o que originou a minha monografia na Filosofia: ’os encarcerados e a libertação’.”

A cultura religiosa tem origem na família de Edson que, aos 12 anos de idade ingressou no Seminário de Gravataí. “Fiquei com medo do padre, quando ele perguntou se eu queria entrar”, brinca ele. “Mas depois não me arrependi.” Foi durante o tempo de seminarista que Edson cursou Filosofia. Hoje, ele se orgulha do caminho que trilhou. E não é só o presente que o entusiasma. Ao olhar para trás, ele percebe os doces sabores que a vida já lhe permitiu sentir. “Uma das coisas que eu guardo são as brincadeiras de mocinho e bandido, que ainda não era um ato violento. Também teve a época de jogar bolita e dos carrinhos de lomba. Com os vizinhos, aos seis anos, eu montava teatrinhos: presépio, história do coelhinho da páscoa. Uma das características gastronômicas era não almoçar e comer mingau de chocolate”, relembra.

Momentos marcantes – Edson conta que sua família é numerosa: são 11 irmãos; 10 legítimos e um adotivo. “Quando meu irmão adotivo chegou, foi uma experiência conflitiva, porque eu era o nenê.” Quando estava com 10 anos de idade, a lei da vida deixou um vazio que jamais será preenchido, tanto para a família, quando para Edson. “A morte do meu pai foi a dor mais forte que já senti.” A dor de ter perdido dois amigos e colegas de turma em acidentes também marcou a trajetória de Edson. Outro fato que marcou pela tristeza foi a demissão do cargo de coordenador de cultura do município de Estrela, em 2001. “Fazíamos muita coisa, mesmo sem dinheiro. Mas a Prefeitura decidiu que eu saísse, mostrando que havia uma incompatibilidade de projetos entre aquilo que estava sendo construído e aquilo que eles compreendiam, que era aquela idéia da cultura mais tradicional.”

Sonho – “Vou para a área do mestrado e do doutorado sonhando a linha do trabalho da comunicação, juventude e arte. Quero defender as expressões artísticas como sendo a melhor estratégia comunicativa na relação com a juventude.”

Política brasileira – A força de mobilização dos movimentos sociais tem muito valor para Edson. “Mas sinto falta de políticas públicas continuadas, que não tragam apenas projetos de qualificação por seis meses ou um ano, mas, sim, acompanhamento da vida dos jovens, no exercício da sua compreensão como cidadão, a longo prazo.” Edson reconhece que o governo federal tem feito muita coisa boa. No entanto, para ele, “é injustificável um movimento de esquerda justificar a transposição do Rio São Francisco, em troca de alianças políticas”.

Últimas edições

  • Edição 552

    Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

    Ver edição
  • Edição 551

    Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

    Ver edição
  • Edição 550

    Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

    Ver edição