Edição 371 | 29 Agosto 2011

O Jango da memória e o Jango da História

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Graziela Wolfart



IHU On-Line – Qual era o perfil político-social dos principais dirigentes do PTB?

Lucília de Almeida Neves Delgado – Nos primeiros tempos do partido, eles eram basicamente getulistas. Com o passar do tempo surgiram petebistas mais teóricos e doutrinários. Na sequência, vieram líderes vinculados ao getulismo, mas com marcas mais reformistas e menos anticomunistas. Goulart está incluído neste grupo. Já Brizola pode ser identificado como o mais socialista dos dirigentes do PTB.

IHU On-Line – Como o catolicismo aparece na conjuntura do governo João Goulart?

Lucília de Almeida Neves Delgado – O catolicismo, no plano internacional, passou por importantes transformações no final dos anos de 1950 e no decorrer da década de 1960. No Brasil, quando do governo João Goulart, podemos dizer que havia dois grupos no seio do catolicismo. Um mais conservador e outro mais progressista. Os progressistas ganharam força a partir do papado de João XXIII  e depois de Paulo VI . O setor mais progressista do catolicismo brasileiro, no início da década de 1960, adotou posições em favor da reforma agrária, da alfabetização universal e da superação do subdesenvolvimento. Esteve ao lado dos movimentos sociais que também abraçavam essas causas. Já o catolicismo mais conservador não apoiava a reforma agrária e nem mesmo a crescente autonomia da sociedade civil. Em 1964, somaram-se aos partidos, militares, organizações sociais e políticos que se uniram para depor João Goulart.

IHU On-Line – Após a posse de Jango no regime parlamentarista, qual foi o sentimento da população gaúcha e brasileira?

Lucília de Almeida Neves Delgado – Parte expressiva da população brasileira e, com certeza da população do Rio Grande do Sul, não concordou com a adoção do parlamentarismo, que foi uma solução negociada para garantir a posse de João Goulart na presidência da República, quando da renúncia de Jânio Quadros . A adoção do parlamentarismo foi, a bem dizer, inconstitucional. Sua inadequação extrema à realidade política brasileira era visível. Pouco tempo depois da sua adoção, a maioria da população brasileira, em um plebiscito, que mobilizou o país, votou pelo retorno ao presidencialismo.

IHU On-Line – Podemos considerar Jango o herdeiro político de Getúlio Vargas?

Lucília de Almeida Neves Delgado – Com certeza, Jango foi herdeiro direto de Getúlio Vargas, mas em muitos aspectos diferenciou-se do velho estadista, que paradoxalmente foi também um ditador. Jango bebeu nas águas do getulismo, mas criou sua própria marca, de um trabalhismo mais moderno e arrojado. Penso que ainda precisamos fazer jus à sua memória e à sua trajetória, não de uma forma ufanista e inconsequente, mas reconhecendo seus limites e suas qualidades de homem público.

Leia mais...

>> Sobre a Campanha da Legalidade veja também:

•    Do rádio à internet: a legalidade e a mobilização popular. Entrevista especial com Christa Berger 
•    Leonel de Moura Brizola. 1922-2004. Revista IHU On-Line, número 107
•    Campanha da Legalidade. 50 anos de uma insurreição civil. Cadernos IHU em Formação, número 40.

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