Edição 365 | 13 Junho 2011

Florestas estão em processo de decrescimento

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Patricia Fachin



IHU On-Line – Qual a atual situação da biodiversidade da Mata Atlântica? O que significa a perda da biodiversidade da floresta para o Brasil?

Renato Marques - A biodiversidade da Mata Atlântica, segundo estimativas, é considerada muito elevada; entre as mais altas do mundo para algumas espécies. Mas isto só ocorreria em áreas bem preservadas, as quais hoje representam um percentual bem pequeno do que restou da floresta. A perda de biodiversidade é bastante grave em muitos sentidos, pois há muita coisa ainda por se descobrir, desde processos ecológicos básicos que explicam esta alta biodiversidade até a existência de substâncias orgânicas que poderiam ter grande utilidade para a humanidade na forma de alimentos, fármacos, polímeros etc.

IHU On-Line - Quais foram as modificações físicas e químicas no solo das florestas decorrentes da implantação de outras culturas?

Renato Marques - Esta é uma área da ciência à qual tenho me dedicado nos últimos anos. As modificações físicas normalmente são aquelas associadas aos processos erosivos e de compactação do solo. As modificações químicas e biológicas são mais difíceis de serem generalizadas, pois inclusive modificações positivas podem acontecer, dependendo da forma com outras espécies são manejadas. Nós temos estudado principalmente áreas que foram usadas pela bubalinocultura  no passado e que hoje estão voltando a ser florestas. Nestas áreas, o impacto tanto químico quando biológico foi negativo.

IHU On-Line - Como vê, no Brasil, as políticas públicas para conservação da Mata Atlântica?

Renato Marques - Enxergo estas iniciativas como tímidas, devido à importância que a floresta representa para muitas populações. Representa, entre outras coisas, importante fonte de água potável para muitos povoados ao longo da costa brasileira. Vem sendo frequentemente invadida por “empreendimentos urbanos” ou pelas populações desfavorecidas que buscam por lugar para morar, mas que invadem áreas de risco. Isto é mais grave nas grandes cidades ao lado da Mata Atlântica.

IHU On-Line - A Mata Atlântica está sendo regenerada. Qual é a perspectiva em relação à recuperação da mata?  Será possível recuperá-la?

Renato Marques - Existem poucas iniciativas, principalmente do terceiro setor. Todavia, ainda representam muito pouco do que seria possível de ser feito se houvesse interesse político e, por que não dizer, empresarial, em realizar esta recuperação. Conhecimento técnico para isto existe na academia e também em órgãos de pesquisa.

IHU On-Line - O senhor participou de um encontro sobre florestas tropicais em Belém, no início do mês. Quais foram os principais temas abordados no que se refere às florestas e qual a preocupação dos participantes em relação a elas?

Renato Marques - Os temas estavam relacionados a manejo florestal; a valoração da sociobiodiversidade; a economia local sustentável e a cadeias produtivas. Estas temáticas são bem pertinentes para a Floresta Amazônica, mas muitas vezes são de difícil aplicação na Floresta Atlântica.

IHU On-Line – Por que são difíceis de aplicar à Floresta Atlântica?

Renato Marques - Entre os temas citados as razões são diversas. No caso de manejo florestal, as reservas madeireiras (principalmente) existentes de Mata Atlântica são protegidas, sendo que o manejo demandaria mudança na lei. No caso da valoração da sócio-biodiversidade, isto dependeria de mais pesquisas identificando produtos oriundos da Mata Atlântica que poderiam ser valorados (na Amazônia existem muitos frutos, castanhas e outros produtos que já são consumidos pelas comunidades e que são inclusive comercializados; na Mata Atlântica são poucos os produtos conhecidos que possam ser comercializados sem danos ao ecossistema). E as cadeias produtivas dependeriam da existência da produção e da demanda comercial.

IHU On-Line - Como é possível tornar o cidadão parte da sustentação das florestas?

Renato Marques - As políticas públicas devem considerar a floresta como algo importante para a vida dos cidadãos e ações devem ser tomadas no sentido de protegê-las para que possam cumprir seus diversos papéis em prol das comunidades. Por outro lado, um amplo trabalho de educação ambiental deve ser implementado, sobretudo, junto aos “pequenos cidadãos” para que eles reconheçam a importância da proteção das florestas existentes e a restauração daquelas degradadas.

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