Edição 252 | 31 Março 2008

Dalila Cisco Collatto

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Patricia Fachin

Dividida entre o sonho de ser professora e seguir a carreira de contabilista, Dalila Cisco Collatto, 37 anos, ingressou na Unisinos com 19 anos, trabalhando numa área muito distinta: a secretaria do antigo Centro de Ciências e Tecnologias. Há 19 anos atuando na instituição, ela migrou por vários setores e hoje é auditora interna da universidade. Em entrevista à IHU On-Line, Dalila relembra momentos emocionantes de sua trajetória profissional e revela seu amor pela vida interiorana, pela natureza e pelos animais.

Origens – Nasci em Porto Alegre, mas com um ano de idade, logo após o falecimento do meu pai, me mudei para Carlos Barbosa. Minha mãe decidiu voltar para o interior e fomos morar com os pais dela. Lá, passei a minha infância e adolescência. Tenho uma afeição especial pela região e considero Carlos Barbosa minha cidade natal de coração.

Infância – Guardo boas lembranças dessa fase da vida. No interior, as brincadeiras eram divertidas. Lembro de pegar vaga-lume na rua, na época do natal, de brincar em valetas quando chovia. Na casa dos meus avós, sempre tive muito contato com a natureza, com animais e guardo essas recordações com bastante carinho.

Referência paterna – Crescer sem a presença do pai foi algo que fez muita falta na minha vida. Mas, por outro lado, minha referência paterna acabou sendo representada pelo meu avô, porque eu passava muito tempo com ele. Com o tempo, superei essa falta do pai. A perda me fez crescer em alguns aspectos e amadurecer antes do normal.

Trabalho – Comecei a trabalhar com 11 anos, para ajudar minha mãe, pois ela não tinha uma situação financeira muito boa. Trabalhava no comércio, no contraturno do horário escolar. Na época, meu sonho era cursar magistério, mas eu não tinha condições financeiras. Então, optei por freqüentar o curso Técnico em Contabilidade, que acabou, por outro lado, me levando para minha profissão atual.
 
Mudança – Quando completei 18 anos, em 1989, período em que concluí o ensino médio, tive muita vontade de continuar estudando e ingressar na universidade. Uma amiga que trabalhava na Unisinos me convidou para participar de um processo seletivo e trabalhar na universidade. Fui contratada para atuar na antiga secretaria do Centro de Ciências Tecnológicas. Então, dividia o aluguel de uma casa com oito meninas, que também eram do interior e vieram para São Leopoldo com a finalidade de estudar.

Graduação – Passei no vestibular para o curso de Pedagogia, tentando recuperar o sonho de cursar magistério. No primeiro semestre, cursei duas disciplinas que correspondiam ao antigo básico. Para pagar, gastei todo o dinheiro da minha poupança que guardei durante muitos anos. Com a contratação na Unisinos, consegui dar continuidade aos estudos. Já no segundo semestre, troquei para Ciências Contábeis.

Carreira profissional – Trabalhei durante quatro anos na secretaria do antigo Centro 7. Esse foi um período em que aprendi muito e fiz várias amizades. No decorrer do curso, senti a necessidade de atuar na área. Pedi uma oportunidade para trabalhar com contabilidade, na universidade. Durante seis meses, trabalhei meio turno no setor de contábeis e o restante do tempo na secretaria do Centro 7. No final do estágio, solicitei a permanência no setor, e fui transferida de forma integral. Na área contábil, trabalhei na área fiscal, gerencial, de custos, o que me permitiu adquirir experiência em diversos campos da contabilidade.  Isso me deu mais certeza de que eu tinha escolhido o curso certo. Em 1994, concluí a faculdade e em 1996, cursei a especialização em Controladoria. Mais tarde, trabalhei no ensino médio, lecionando a disciplina de contabilidade e custos no curso técnico em contabilidade, e atualmente, além de atuar na auditoria interna, sou Diretora Econônico-Financeira da Fundação Padre Urbano Thiesen (TV e Rádio Unisinos) e auditora do Sistema de Gestão Ambiental da Universidade.

Auditora – Atualmente, trabalho na auditoria interna da universidade. Esse setor é visto como fiscalizador. Sempre que vamos fazer uma auditoria no câmpus, as pessoas ficam com receio. Eu não vejo a auditoria desse jeito, mas, sim, como um suporte para a administração da universidade, ao buscar garantir integridade, eficiência e eficácia dos sistemas de controle existentes, otimizando os processos e diminuindo os riscos.  As informações identificadas nos trabalhos de auditoria são direcionadas a reitoria, órgão ao qual estamos subordinados. Mas sempre damos um retorno para as áreas auditadas.

Casamento – Num feriado de 7 de setembro eu conheci meu marido Marcos, em Carlos Barbosa. Ele veio conversar comigo e acabamos falando sobre contabilidade. Ele era formado em Administração e estava estudando contábeis. Eu não queria, na época, namorar, tinha 19 anos e ele 29. Nos finais de semana, assim como eu,  ele também viajava para Carlos Barbosa. Assim, fomos nos aproximando, namoramos por três anos e casamos quando eu estava concluindo o curso. Nesse período, fomos morar em Porto Alegre, mas eu não me adaptei e retornamos para São Leopoldo. 

Família – Minha família sempre foi muito pequena, porque acabou restrita a mim e minha mãe. Ela é muito importante. É um exemplo de vida, de trabalho, de respeito. Ela sempre me mostrou as coisas importantes da vida. Nós duas construímos uma família muito forte. Meu marido e eu sempre tentamos construir uma família que conseguisse ter forças para vencer todas as etapas da vida. Cada um de nós vê no outro uma referência. A família é a base de tudo.

Novidade – Temos uma filha chamada Clarissa, de oito anos. E agora, estou grávida de três meses, numa gravidez programada. Eu não queria que a Clarissa também fosse filha única, porque eu senti falta de irmãos. Se for menino ou menina, tanto faz. O importante é que nasça com muita saúde.

Unisinos – A Unisinos representa a minha segunda casa, porque foi ela que me permitiu realizar o sonho de continuar os estudos. O que me motiva a permanecer na universidade é o fato de  ela trabalhar com educação. Considero isso primordial, essencial para a sociedade.

Lazer – Gosto de passar os finais de semana em Carlos Barbosa. Adoro mexer em jardins, hortas. Sinto necessidade de ter contato com a terra e isso ajuda a eliminar o stress. É um prazer proporcionar para a minha filha um contato com a natureza, com os animais, ensinar ela a tirar leite, apanhar fruta no pé.

Livro – Nesses últimos tempos eu li vários livros técnicos, mais direcionados para a minha área, em função do mestrado, que fiz em Ciências Contábeis, concluído em 2006. Lembro de um livro interessante que li há uns dois anos: A arte da felicidade, do Dalai Lama. Ele traz uma visão um pouco diferente da felicidade que temos presente no nosso cotidiano.

Filme – Um que assisti e gostei muito foi Sob o sol de Toscana, de Audrey Wells. Eu me identifico com a personagem principal por tudo que ela passou e conquistou durante a vida.

Sonho – Ainda tenho vontade de atuar na área educacional. Hoje, o que eu ainda almejo é ter uma experiência como professora da graduação. Talvez no futuro, cursar um doutorado.

IHU – O Instituto trata de temas bastante importantes para a humanidade. Acompanhei alguns simpósios e acredito que eles são fundamentais. O IHU busca o questionamento crítico, ao mesmo tempo em que transpassa uma visão cristã.

Política brasileira – Vejo na política muitos problemas de corrupção. Quem atua na política hoje está preocupado com seus próprios interesses. Enquanto esse quadro não mudar, não vejo muita esperança. Mas eu vou continuar acreditando, porque quero que meus filhos morem nesse país.

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