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Greyce Vargas
Aos 41 anos, Maria Lucia Locadio da Rosa vive na Vila Brás, em São Leopoldo, há 23. Natural da pequena cidade de Erval Seco, localizada no norte do Rio Grande do Sul, ela veio com a mãe em busca de melhores condições de vida. “Erval Seco fica lá pras bandas de Seberi, Tenente Portela e Palmeira das Missões. Lá no interior, eu trabalhava na roça, capinava, colhia milho, soja, feijão, lavávamos roupas para fora e a vida era muito difícil. Faz tempo que eu não vou para lá”, contou. Veio e começou a trabalhar numa empresa de máquinas injetoras. “Eu vim para cá pra arrumar um lugar melhor para ficar, porque lá era só colônia e aqui já dava para trabalhar em firma, ganhar um pouco mais, eu cheguei aqui e logo já peguei em firma”, lembrou ela. O tempo passou e Maria foi demitida da empresa. Com poucos anos de estudos, não teve muita chance de encontrar um novo trabalho fixo. “Eu estudei só até a quarta série e agora já estou numa idade avançada estudo e aí é difícil, mas a gente vai levando com os artesanatos, vendendo e o trabalho no Programa de Assistência Social de São Leopoldo ajuda bastante a gente. Mas eu queria mesmo voltar a trabalhar numa firma”, revelou.
Família
Depois de quatro anos em São Leopoldo, Maria Lucia conheceu Elton da Rosa, com que se casou e teve quatro filhos. “O mais velho é Éderson, o outro é Éverson, tem o José Mateus e Josias é o mais novo.” Enquanto os filhos só estudam, o marido Elton trabalha numa empresa de couro e sustenta a casa. “Eu ajudo em casa com os artesanatos que faço no grupo”, diz Maria. Mas o pouco dinheiro não tira o sorriso do rosto desta mulher. Quando fala dos filhos se empolga e diz que eles foram o melhor presente Deus lhe concedeu. “Eles alegram a minha casa, estão sempre brincando. A minha família, apesar das coisas difíceis da vida, é muito feliz”, comentou.
Vizinhos e colegas
Maria Lucia é muito querida entre as colegas do grupo Mulheres da Brás. Ela conta que nunca brigou com ninguém por onde passou e que é muito amiga de seus vizinhos também. O rosto, apesar das marcas que os anos trazem, é iluminado por uma alegria contagiante. Ela diz também que nunca guarda mágoas e é por isso que se sente tão feliz. “Eu não tenho mágoas, não sou uma pessoa de guardar rancor de ninguém. Me dou bem com todo mundo que conheço”, explicou.
Grupo de Mulheres da Brás
“Aqui a gente trabalha, eu faço crochê, ajuda a cortar pano pra fazer tapete e nós nos ajudamos umas as outras”, conta. Lá, as mulheres se reúnem duas vezes por semana e sempre têm alguma atividade. Além de contribuir para suas próprias vidas e famílias, contribuem com o bairro. Muito feliz com as produções que tem feito, Maria Lucia nos mostra uma série de trabalhos em crochê expostos na loja da sede. “Eu adoro trabalhar aqui, comecei no inverno na campanha do agasalho, não podia estar fazendo nada melhor. Aqui somos todas muito companheiras e eu gosto de todo mundo.”
Sonho
Como os filhos são sua maior alegria, Maria Lucia dedica a eles seus sonhos. “Tudo o que eu quero é que eles estudem bastante, não larguem a escola e aí podem ter mais chances de arrumar um emprego bom, porque hoje em dia sem estudo não se consegue nada na vida a não ser coisas ruins”, reflete ela, lembrando os muitos meninos que viu largarem a escola e entrarem para a criminalidade que assombra o bairro. “O sonho dos meus filhos é trabalhar num lugar muito bom para poderem ajudar em casa.” Hoje, o mais velho, Éderson, aos 16 anos, está cursando a oitava série na única escola que o bairro abriga, a Escola João Goulart. “Os outros dois do meio estudam à tarde na João Goulart e o pequeninho, que tem quatro anos, ainda não estuda, mas vai estudar no mesmo lugar porque ali é um colégio muito bom”, disse. “Eu gostaria que as coisas melhorassem mais, que tivesse mais emprego. Meu guri daqui a pouco já faz 17 anos e já vai começar a ir atrás de emprego. Eu não quero que ele passe o que a gente passa para arrumar um lugar para trabalhar.”
Fé
Maria Lucia e Elton freqüentam os cultos três vezes por semana de uma das igrejas evangélicas da Vila Brás. “Meu marido gosta muito de ir à igreja, ele gosta muito de cantar, de ouvir as palavras de boas que os pastores falam.” Ela diz ter muita fé. “Eu tenho bastante fé. Se eu não tiver fé não tenho vitória. Para mim, ter fé em Deus tem sido uma benção. Ele tem cuidado da minha família e, principalmente, dos meus filhos.”